Ensaios

Crônicas de George

Poesia

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Desengano

Tenho comigo as incertezas como constante
Em termos dos golpes discretos do ser
Atendo as ordens de cicatriz dilacerante
Refém da ausência em te querer

Agonia ansiosa impera nos passos
Talvez seja insignificante para deixar um legado
Por remoer demasiadamente velhos casos
O excesso de pensamento é fardo pesado

Ideias desconexas tomam forma
Duvidas sobre o sentir agora é cotidiano
Na invalidez de tudo que fiz até agora
Aguardo que te tornes meu eterno desengano

domingo, 29 de dezembro de 2013

Clássica sensação

 Conservo a velha sensação com a proximidade de datas comemorativa como o natal e o aniversário (que no meu caso são bem próximas) certa melancolia e sentimento de culpa. O motivo vai de encontro a nestes períodos em que fico absorto em pensamentos retrospectivos sobre o que realmente fiz de essencial ou bom. Passando a limpo todo o tempo de vida gasto nos planos ou acontecimentos dos quais me causam pontadas dilacerantes de amargura, trazendo a memória os fracassos e as antigas causas perdidas de outrora, a fenda do abismo novamente me carrega para o limbo do remorso.

 A velha mania de rotular o próprio tempo de vida como insuficiente e sem nenhuma relevância factual vira uma constante por esta época. No pensar demasiado sobre o que fiz e sobre os resultados de horas absorvidas em determinados projetos mundanos e sem sentido ou no ócio preguiçoso de uma falsa ideia de intelecto sendo expandido. O desanimo e a aflição vira regra ao ter uma concepção que o que fiz até agora nada servirá para algo, não foi algo marcante ou com força o suficiente de deixar um legado e ter significado não apenas para mim, mas para algo ou alguém. Não é questão de vaidade ou egocentrismo, mas sim de ao final do olhar reflexivo sobre meu caminho perceber que ele foi valido de alguma forma.

 De todas as reflexões sobre meu modo de levar a vida e seus ciclos, talvez o lado emocional e psicológico sejam as constantes que fazem todos os velhos terrores voltarem do fundo da memória a se tornarem peças da apatia atual. Tentando conjecturar os passos em falso nas ocasiões perdidas, abro em nova ocasião ferida antiga sem sucesso praticando uma espécie de auto-tortura, onde sou o juiz, acusador, carrasco e réu da própria sentença. Sendo meu nível de cobrança e exigência demasiado comigo mesmo, acabo tendo a impressão de estar condenado em processos repetitivos de falhas dentro da minha própria história, sou um tirano do eu profundo.

 Os excessos de pensamentos transformam-se em completa ausência de vontade nestes momentos aonde a instabilidade do meu sistema vai ao encontro do pesar de insuficiência, isolado dentro do vácuo dos sentidos. Tão confuso quanto um ser com amnésia, ai vou rabiscando novamente o esboço de um novo conto, para nele tentar a noção de um ideal a aspirar nestes idos de mais um ano a se passar em que vai se desenhando conexões de um impressionismo cinza destas manias de amores incertos aos quais me entrego.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Incerto a curto prazo

 Incertezas consomem agora o que relato entre as vias do viver, sem rota ou destino definido, sentido perdido nos pensamentos. A confusão vira rotina no cotidiano em meio a compromissos alheios aos quais acabo tendo obrigação por cumprir, nos excessos de outros acabo me ausentando de mim mesmo, gerando mais um filho desgarrado do eu profundo. O absoluto não é existência continua e eterna, o infinito por fim é mais uma variável ou probabilidade do que fato concreto, nisso tudo que digo e desconstruo, parece que acabo falando mais do sinto sobre você do que descrever minhas ideias de essência.

 O que passa agora comigo é sentimento indefinido é sem prognóstico em curto prazo, forma densa, porém de material desconhecido necessitando de molde com cuidado e zelo. Sensação imperativa me toma de assalto, tenho agora uma emoção com tamanho e peso sentido com magnitude, mas não consigo buscar seu interior e deixar exposto a mim e ao resto o que é. Eu que não sou de meios termos nestas coisas de essência do sentir, me torturo na ansiedade de aguardar um desfecho sobre o que sinto, vou sendo a contradição dos próprios ideais e ponto de vista, me restando apenas sentar no muro e aguardar se ele resiste a suas marretadas ou quebra pela força de sua vontade e desejo.

 O tempo parece ser consumido por tédios oscilantes e irritações constantes ao abrir os olhos no acordar, pois o despertar separa meus devaneios contigo aos quais me perco na diversão da origem das coisas. Meu lado irônico e áspero virou parte dos afazeres de um verão de incomodo calor e suada monotonia, sem ter com quem compartilhar minhas tragédias cômicas nos dias de procrastinação, desconto a melancolia da sua falta na morbidez do meu humor negro e imbecil.  E por isso acabo entrando num ciclo vicioso da personalidade, na sua distancia não tenho modos de ser o que sou ao fim dos atos.

 Como mera formalidade tudo acaba se tornando processo burocrático no agir, saudosismo repleto de arrependimento ao tardar as vontades intensas e não ter neste instante um modo de volta as origens do tempo para aproveitar o que aparentemente temi viver e arrependo-me do estado de imobilidade antes da partida. Mania adquirida de omitir o querer, de raiz calejada nas mazelas antigas de frustrações e dores de parto das paixões abortadas, nestes casos dos meus acasos tornei-me produto do meu medo. Marcas adquiridas pelos temores de outrora ainda me custam um preço alto, por mais força que faço, a momentos que a paralisia trava meus passos e me joga ao chão.

Gostaria de prometer as mais sinceras juras sobre nós e o resto dos dias que por fim virão, mas como navegantes marítimos do século XV, nossa viagem não tem rumo definido nem objetivo certo.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Devaneio

De certo devaneio inadequado                                                                      
Busco aplacar aflição concreta
Tentando não pisar tolamente em falso                                                                                     
Sofro nessa dicotomia fria de frouxa reza

Sonhar com passado não deveria ser possível
Mas em jogos de azar ao qual me submeto                                                                                          
Padeço de um mal oculto estranhamente sensível
Na sua lembrança indiferente que assim me esqueço

Tolamente me alegro no saudosismo bucólico
Nas memórias do elo emaranhado no tempo
Encontro uma fusão perdida de mentes e corpos
Só que isso foi em outra era levada pelo vento

Via de mão dupla acidentada
Atormento-me por nesta causa
A possibilidade fica num limbo do impossível
Meu afeto a ti se restringe ao incompreensível

Passos

Cada vez mais difícil ocultar
Pois em teus braços almejo estar
Anonimamente fico admirando
E louca a paixão deleitando

Aos passos trôpegos
Como amores tenros
Esmero seus lábios doces
No qual esqueço meus temores

A situação é conflitante
Mas não hesitarei neste instante
Neste ardor arrebatador
Vamos viver um conto de amor

Disforme

No tilintar das batidas do miocárdio
Sou envolto num imenso espasmo
No profundo ardor febril do minuto
Em cada passo seu que escuto

Na acalentadora memória
De nossa saudosa história
Não restou um misero afago
Somente um disforme gosto amargo

Em vãos

Em vãos expostos na parede
Contemplo seu riso plenamente
Abrindo frestas no meu imaginário
Sacio-me nos teus doces lábios

Ainda que pese ou falte algo
Sacio-me em teus braços
No clamor destas palavras
Acabo por apaziguar totalmente a alma

Vamos fazendo a trilha indecorosa
Que por vezes se torna espinhosa
Ainda que seja magistralmente confuso
Nosso amor sempre será difuso

Insuportável

Não suporto teu silencio
Ele me exaspera de modo intenso
Nos traços do seu esboço
Brincamos de amor no seu logro

Perpassou-me uma ideia
De queimar feito quimera
Feito um dom Quixote errante
Clamo seu nome neste instante

Contentamento

Nos teus braços me contento
E dentro destes me contenho
E no teu discreto olhar
Acabo por me deleitar

Tento em ti furtivamente
Achar peça condizente
De deleites momentâneos
Em que nos reconfortamos

Suplicio

Não bastasse suplicas consideráveis
Embora de fato justificáveis
Evitas encarar face a face
Ocultando-me a verdade

Na indiferença rasteira e muda
Ainda ouço o ressoar de sua voz
Clara como a mais transparente água
Porem ferina como a ponta de uma adaga

domingo, 22 de dezembro de 2013

Senhores da retórica

 Aqui pelos ambientes onde arrastamos corpo e alma por vezes falta de um tudo, indo das futilidades sem sentido até a luz do sol que desaparece durante tempos inglórios. Se segue a vida ignorando estes acontecimentos, sabem-se lá como uns poucos tiram vantagem disto e conseguem graças aos artifícios de uma boa retórica. Combinando esta com o desespero existencial de indivíduos sem causa desmotivados dentro de suas celas de cárcere do medo, conseguem pelo subterfúgio de iludir em seus discursos o controle sobre uma massa melancólica e apática.

 Qualquer resistência aparente sobre isto parece estar pulverizada, não se tem mais o antigo sentimento de revolta humana contra situações que causam malefícios ao todo. Entregues ao abandono de si mesmo ao desespero do realismo incerto graças ao medo e sentimento de culpa, se taxa os intensos do sentir como maníacos insanos que por carregarem consigo as vontades da mudança são os agentes de transformação mais perigosos para os senhores da retórica de palavras ao vento. Os intensos sabem que na caixa de pandora que vivemos apesar das feras do desespero e do rancor aparecerem mais ao publico, a esperança caminha por ai, pois ela foi libertada no fundo da caixa após todas as aflições saírem com suas artimanhas.

 Os sentimentalistas então são perigosos ao poder estabelecido, na sua percepção sobre o controle e vantagem de pouquíssimos sobre os semelhantes transformados em corpos destituídos de vontade própria. Alienados entregues ao moldamento dos desejos e atos como máquinas programadas a agir pré-determinadamente em processos visando suprimir qualquer reação e sentimento contrário, somos ensinados pela produção do medo a não exigir ou se tentar transformar a situação, graças ao condicionamento de associar a mudança ao pecado capital e ao delírio da loucura, criminalizou-se o sentimento da revolta incutindo nas ideias e pensamentos o temor pela punição e castigo ao agir contra as algemas do controle da vontade.

 Impera-se nestes termos o conformismo geral da situação, entregues a sensação do desanimo e do contentamento de sobreviver com pobres migalhas oferecidas de restos do banquete pelas mãos e fala dos ventríloquos que coordenam a situação de acordo com seus obscuros interesses. Já não existe mais aquela tradicional certeza sobre ideias certas  do vermelho e o azul, tudo entrou em uma fusão de interesses entre ambos por atrás das ribaltas do teatro da vida, o que prevalece hoje é um pano de fundo cinza estabelecendo o predomínio dos interesses egocêntricos e narcisistas. Não existe mais alguma disputa ou verdade, o cotidiano disto é uma farsa teatral onde todos se pintam de cores mais prazerosas escondendo a palidez acinzentada de cadáveres.

 Vivemos na era do contentamento e conformismo material, educados na crença que questão da posse do ter sensação primordial para se resolver qualquer incomodo ou problema que afeta corpo e mente humana. Repetindo constantemente falsas certezas, tudo foi estruturado para garantir a perpetuação e manutenção das ferramentas do controle, minando de forma silenciosa e cruel a oposição aos desmandos. Tudo isso baseado em sua maior parte na ideia implantada a força nas mentes: desacreditar e taxar de loucos delirantes aqueles que resistem, forçar os outros a crer que evoluir não passa de devaneios de seres malucos e doentios.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Cada qual desastrados

 As coisas foram se desenhando sobre o todo dos últimos tempos de forma comicamente torta e incerta, presos a certa insegurança e receio da repetição que determinadas linhas históricas gostam de repetir. Evitar os ciclos e as mesmices das falsas coincidências, que embora estejam mascaradas pela surpresa momentânea, se percebe que é mais do mesmo das cartas marcadas no jogo de uma envelhecida derrota na batalha amargurada. Temores aos quais de certa maneira ainda carrego correntes dos grilhões que me prendem a receios antigos, marcas visíveis ao observar meu agir e toda a ansiedade que atrelo as ideias e na junção do meu físico e psicológico nada seguro ou estável.

 Os últimos dias foram se esvaindo rapidamente onde cada momento foi crucial para extrair deles as lembranças que vou carregar durante esta ausência forçada por motivos aos quais compreendo, mesmo eles sendo contrários ao meu querer. E este querer agora se arrepende, de ter retardado os movimentos em sua direção por tolo orgulho, não dando o braço a torcer se escondendo na justificativa das dores de outros negros amores. Agora todas estas justificativas soam como ignorância e aparente insegurança de um velho lobo do mar temendo zarpar do cais com sua embarcação através de um oceano que o conhece tão bem como as marcas de seu calejado rosto.

 Penso se o que esta acontecendo agora não será delírio das minhas intensas ideias ou mera fuga de pensamento sobre a realidade crua. Custo-me a dar crédito a algo que por si só acalenta o ser e conforta este a quem os desgostos acostumaram ao permanecer cético a quem o diz ser necessário a sua existência como se apenas a mais tola e imbecil brincadeira me tornasse sua razão em meio a insanidade do mundo. De fato eu possa ser sua razão, mas você a mim tem que ser este oposto, ser a minha mais adorável loucura onde possa fugir da rotina ociosa, do tédio da "normalidade", sonhar com os olhos abertos praticando os mais mirabolantes atos romantizados por intensos sentimentos.

 Se for mesmo tudo uma insana de minha cabeça e um ingênuo delírio, me deixe viver ele dentro de meus devaneios, a ilusão dos teus braços sempre será conforto para a verdade da ausência dos teus lábios. Passarei agora a contar dias e horas para reformular o que sinto, penso, direi, farei e assim vou suavemente enlouquecendo na criatividade do meu sentir. Nada mais incerto do que a volta é verdade, entretanto o aguardo de regresso prega peças, e os processos invariáveis transformam sentimentos e ideais de se ver o mundo ao redor, logo quero que essa mudança revolucionária por agora trave aqui, ainda quero aproveitar a sensação de poder ser eu mesmo com você.

 Eis por certa cômica razão está nos tornando cada qual desastrados que acabam por se encontrar finalmente quando estão dizendo até logo, sem tristeza ou mera melancolia, apenas com a sensação de poder ter-se aproveitado melhor as datas, com a ponta de arrependimento por inseguranças sem nexo. Por nada se encaixar em lugar algum a ambos, seja isso que acabou sendo nossa junção: duas peças de formato estranho chocando-se em meio ao caos ironicamente ordenado do narcisismo egoísta. Nisso acaba residindo estas coisas peculiares a nós dois, não podemos viver apenas dentro de nossos egos individuais, eu preciso te querer e você do meu viver.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Pacificação

 E o tempo foi passando nos idos de um ano indissociável dos termos de uma pacificação contundente e necessária do agir. Ocasionalmente voltar-se para o interior de si mesmo e nele, buscar as medidas para o aprendizado sobre conseguir tolerar e apaziguar o que se é todo o agir característico enquanto ser na individualidade da personalidade. Processo com caminho tortuoso e áspero, já que muito antes de se buscar a paciência consigo mesmo tentamos entender o que jamais entenderemos de fato ou atingir sua exata compreensão: a real noção do próprio ser.

  Sou inconclusivo nas intensidades e em certas responsabilidades e minhas linhas de conduta convergem ao oposto de uma maquina, não tenho nenhuma programação definida que me faça agir de acordo com o que estava pré-determinado. Mesmo que meu proceder acabe sendo limitado nas amarras do vicioso sistema regulatório das obrigações consigo e com os semelhantes alheios alienados e alienadores, de algum modo nestas aflições do desajuste as regulações do que acabam por me entregar, é a expansão na tentativa da criatividade num desatino de pensamento a fonte da existência do sentir incompreensível.

 Não faz muito tempo ouvi certa ideia sobre a ideia de ser livre e a noção para a liberdade, por assim dizer. A ideia era de que estando preso a algemas, ao buscar afrouxar a sua força no interior desse aprisionamento, se da vazão a nossa liberdade e assim criar a partir desse espaço que mesmo limitado, a possibilidade para inovar e construir algo novo e contrario ao que nos deixa acorrentados. Existe claro a opção de estar livre totalmente de qualquer apego a algo ou ideal, mas ai acaba-se sendo ironicamente trancafiados na cela das ausências de significados, se está totalmente libertado, mas libertado do que e sobre o que? Então se acaba na mesma angustia da tentativa do auto entendimento: é adentrar no campo das divagações angustiantes.

 Com o passar dos momentos, é em lições tiradas sobre o que não fazer e por onde não cometer falhas, esta noção de que se deve agir de tal forma e de acabar sendo empreendedor na empreitada coberto de glórias e das vaidades do sucesso, o pecado que corrompe de dentro para fora o indecifrável quem somos.  Nesse enredo cheio de nós e desencontros remoídos em velhos desgostos e magoas de outrora, ancoradas na tradicional insegurança rancorosa contra si mesmo, percebo que contemplar minhas necessidades simples e reconfortantes é não se perder nas medidas do exagero da procura nas utopias tresloucadas de um egoísmo narcisista.


 Por fim agora já se está posto a referencia as quais devo apreciar por hora enquanto emocional e psicológico de sentimentos imprevistos e diversos. O excesso de se buscar eternamente o lugar dentre o maior dos maiores vira lugar comum e meta de um vazio desmedido. Nunca se saciar e sempre visar estar acima de todas as coisas na posição de um deus nos mandos e desmandos o estopim das tormentas, o delírio da grandeza de tentar-se apoderar do controle total das coisas é a mascara para fugir do que estabiliza no todo: ser o que se é para si e para o semelhante.

sábado, 7 de dezembro de 2013

A sabia loucura

Aqui padeço de indefinições sobre o todo vazio inerte do momento ao qual estou inserido. Tenho anseios sobre algo que não sei o que é aguardando o acontecer tirar-me do comodismo de uma posição imune a qualquer sensação, seja dor ou amor, até mesmo empatia me falta agora por estar ciente das condições de um vácuo interno. Vou a passos largos com os pensamentos perdidos no limbo da própria consciência, onde a reflexão para o encontro de uma mera resposta foge as ideias sem nenhuma exatidão e assim parece que terei que seguir, numa linha reta onde a visão do caminho se esconde sobre a neblina cinza e tão densa quanto minhas maiores incertezas.

É a ausência de um sentir que me consome nas aflições intermináveis de idas e vindas do receio de terminar por caprichos e omissão no agir, perder o restante que me resta. A sensação de estar anestesiado sem sentir é peça de um artefato ilusório para individuo que, como eu, teme e conclui que a soma de seus maiores medos reside na imensidão dos seus sentimentos serem tão fortes e intensos. Ao imaginar a negação destes vislumbro minha entrada em um buraco negro onde até mesmo o fim certo seria atitude mais piedosa, mesmo caminhando a esmo sem nenhuma rota definitivamente traçada neste viver. Ainda que meus sonhos sejam tortos beirando a uma inocência infantil, são tão sinceros quanto à observação de uma criança.

Temer perder o restante da pouca razão que me resta esta no fato de que fui apoderado diversas vezes pela loucura. Como louco fui expandindo ideias e a criatividade, ela por vezes me desprendia da hipocrisia da realidade e levava a perceber que nem toda a verdade é verdade e nenhuma é absoluta em si, e que nisso estamos num paradoxo de tempo: a certeza de nada estar certo e concreto. Está loucura, porém, não é a que busco evitar e sair de seu alcance, falo da mais obsessiva, violenta e intensa na vontade de estar constantemente vivenciada, que nos transforma em doidos abobalhados: esta esquizofrenia que chamam de amor.

Um tipo de loucura onde todas as sensações estão presentes, a fusão de emoções controversas que por fim acabam convergindo na vontade de que o semelhante sinta o mesmo por seu ser. Nada mais louco que uma paixão desesperada onde o desatino torna-se rotina no cotidiano humano e quando esta acaba num amor decepcionado, a ideia de ter sido enganado vai a principio gerar somente uma saída óbvia a se pensar: ir de encontro aos braços convulsivos da demência. Sem o objeto do amor e abandonado de mero resquício de sonhos, vou perseguindo e torturando a mim mesmo na imensidão dos delírios. É a volta clara de um sentimento entregue a própria violência de sua existência.

Nem de flagelos dolorosos do amor é que consiste o estado de uma mente louca. A loucura também pode gerar outro modo de se encarar as controvérsias do mundo entregue aos seres infantis e imaturos que nunca estão saciados de suas vontades. Liberdade de agir e pensar vêm junto com os delírios dos loucos, não está presa a nenhuma concepção ou domínio de nada, sem a necessidade de estar na disciplina da ordem do poder superior. Tudo isto é gerado a bem da verdade porque no final das contas gastas pelo excesso de tempo, a loucura acaba triunfando sobre o restante, pois é dela que emana a sabedoria.

sábado, 30 de novembro de 2013

Involução sem sentir

 Somos reféns dos próprios sentimentos desde os primórdios, perceptível até nos vestígios encontrados dos momentos em que a humanidade passou a interagir e viver numa coletividade. Relatos da convivência em que humanos estabelecem vínculos afetivos estão bem denotados nas pinturas pré-históricas, que mesmo sendo as mais simplórias gravuras e expressões artísticas, passam a sensação de como a humanidade enxergava e sentia as coisas naquele recorte histórico. Nestes rastros deixados na origem das ambientações humanas, vai percebendo-se a importância vital que temos por natureza instintiva, de fazer-se simpático e bem quisto pelo semelhante, fazendo que a afetividade e empatia tornar-se naquele instante a base da construção do convívio humano enquanto um grupo social coletivo.

 A passagem do estado natural de "bicho" selvagem para a primazia da condição de raciocínio e da formulação de pensamentos e ideias melhores refinadas foi ironicamente derivada por emoções ligadas à afetividade com o outro, embora o senso comum considere a questão do desenvolvimento intelectual humano ao oposto disto, e associamos as emoções a traçso animalescos de nosso ser. O estabelecimento destas premissas para a formação de relacionamentos humanos deriva então da noção de parceria, companheirismo e amizade. No momento da primeira ação humana envolvendo troca e ajuda mutua em alguma tarefa estabelecem-se laços de gratidão, respeito e cumplicidade e nos damos conta de todos os traços e características positivas destas vertentes, e o cotidiano em sua essência se torna muito mais suportável perante suas mazelas torturantes do tédio e incomodações pessoais.

 A solidariedade e preocupação para com o outro é fator crucial no desenvolvimento dos alicerces da evolução do homem em relação a tudo aquilo respectivo ao seu universo interno e externo. Entretanto estas noções e raízes da gratidão e empatia reciproca e de se por no lugar do semelhante agora está escassa, tal como água no deserto. Tomado de assalto pelo um falso idealismo egoísta centrado no individualismo narcisista, a moderna humanidade caminha na direção contrária da origem do seu próprio desenvolvimento. Na autossuficiência e numa busca de ser imune e vacinado contra a "selvageria" de afetos, as sensações de sentir e envolver-se emocionalmente em qualquer ideia ou a mera possibilidade de sonhar é vista como tolice, ingenuidade e desperdício de tempo, um empecilho e perigosa distração no cronograma engessado do ciclo de nosso relógio.

 Nesta filosofia da pós-modernidade, o importante é extrair toda a sentimentalidade da essência que vigora no ser humano e sua integralidade. Conceitos de planejamento preciso, sistematização burocratizada numa hierarquia no modo de proceder nos atos de viver é objetivo não  para um processo dito "civilizatório"(sic) mas sim de um plano de desumanização total lenta e gradual. Esta meta está centrada na busca da automatização das vontades, um controle total e repressivo muito bem disciplinado e aparado pelo medo, anulando qualquer questionamento ou revolta contra isto, graças a uma doutrinação sutil das ideias e ideais, sendo perceptível isto na condenação que se faz das pessoas que vivenciam e sentem intensamente, dando a elas tratamento pejorativo e preconceituoso.

 Estamos na atualidade presenciando a concretização de uma involução conservadora e reacionária, diminuindo o que nos fez avançar como ser: as vertentes indecifráveis por qualquer calculo ou forma exata das emoções e sentimentos. O plano atual é a criação de um novo homem, semelhante a uma máquina com movimentação e programada para agir obedientemente de cabeça-baixa e sem questionar o que lhe ordenam. O homem-robô é a meta deste processo produtivo e nessa repressão aos afetos fica claro que o maior perigo a esse sistema criado é um ser humano emocionado.

domingo, 24 de novembro de 2013

Sem temores

 Ao acaso sou levado pelas minhas características de sentir as coisas. Sou afetado por momentos ou pequenas nuances de que para muitos passariam despercebidos e sem nenhuma importância para notar o que se esta no interior de algo, ou sendo especifico, de alguém. Sensação de poder não ter nenhuma vergonha de mostrar-se como se é meus traços verdadeiros, sejam eles positivos ou negativos, levam a ter uma sensação diferente do que tive nos últimos tempos conturbados. Esta tempestade ao qual estava inserido se dissipa quando me encontro tentando bolar meios de como fazer a extração e determinar essa inesperada vontade de rever-te como se isto fosse fator máximo para eu puder ter planos no presente ou no futuro. Necessito do teu olhar novamente, pois quero voltar a ter as noites de sono como as de hoje.

 Tua presença me atingiu como raio que desce do céu e inesperadamente nos leva a um choque que nos prega e paralisa frente ao todo da situação. Não tinha esta sensação há tanto tempo que talvez tenha perdido o jeito e a forma de lidar com a sensação, embora ter alguém todo o tempo grudado na minha cabeça é muito melhor do que estar apenas martelando pensamentos sobre os meus problemas incômodos. Perdi a mão nesta coisa que chamam de paixão, pois sabendo das vias que minha intensidade me leva ao dar esperança e asas a emoções assim, acabava me perdendo nas desilusões melancólicas, sendo alfinetado pelo saudosismo do “porque não eu”. Agora você é presença constante e reconfortante, chegando a ser um paradoxo na tentativa de não pensar em ti me remeter a você.

 Mas que diabos isso afinal das contas, logo eu macaco velho nestas coisas de sentir e já vacinado contra essas ansiedades das paixonites, não tenho mais domínio e poder sobre a vontade de te ver. Angustiado agora por não tenho meio preciso de outro contato, dependendo de terceiros para ouvir novamente seu riso frouxo e aparentemente sincero perante meus comentários extremamente canastrões naquele falatório tentando fazer troça com qualquer coisa à volta. Fico sem meios de buscar caminhos de conseguir entender se foi sensação reciproca esta que agora estou tendo, pois do teu lado internamente estou aliviado e exteriorizo minha alegria nas anedotas dos contos de bobo da corte que verbalizo.

 Tenho lá meus pensamentos com os pés no chão duelando com esse ar esperançoso que trouxestes. O realismo pessimista entra em confronto com os sonhos suaves que tive na noite, fazendo a oposição suja e rasteira, acarretada por lembranças de um passado claramente imperfeito e negro. As ideias se contradizem fazendo as duvidas povoarem o ambiente e tentando desconstruir qualquer desejo, já que nisso de aflição interna e de não ter em alta conta a si mesmo devido à situação pessoal e tantos outros poréns e restrições que faço a mim nestas andanças, faço terror e temor no que consiste meu maior medo em todas as experiências vividas e amargamente falhas: não ser novamente suficiente a alguém.


 Nisso tudo pensado e exposto em palavras de texto, já vou estruturando algo que nem mesmo sei como lidar ou a forma de melhor abordar sobre você o principio das coisas assim meramente denotadas por esta minha veia de trapalhão circense sincero. A única certeza é que no fundo gostei de saber que alguém ainda consiga trazer-me a ingenuidade novamente em sonhar com esperança num sentimento inesperado. Você pode ser mais uma causa perdida nas minhas tolas crenças, mas deixe-me ter a ilusão de que entendas e abraças o que sou em essência.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sensiblidade e intensidade esquecida



 Perdemos noção das sensibilidades e intensidades presentes na nossa própria rotina cotidiana quase que de praxe, fato comum e consumado na vida. O nosso apego excessivo em ter uma ordem régia e ter horários a cumprir, cronogramas a seguir,burocracias a se portar e hierarquias a se respeitar, suprimem inconscientemente todas as vontades e percepções que poderíamos ampliar se não ficássemos presos a este modo de seguir o dia a dia submetendo-se sempre ao ciclo do sistema. A consequência disto vai derivar na conclusa de que levamos a vida apenas para darmos sustentação a uma estrutura repetitiva, levando a maioria dos seres que nela habitam a se afligir com pensamentos excessivos, persistindo em sua maioria nas amenidades desnecessárias que levam o interior humano a frustrar-se consigo e com o todo.

 Vamos então vivendo apenas a perambular pelas vielas das duvidas ansiosas e das certezas incomodas, falseando tranquilidade na aparência externa quando a verdade é que internamente sua essência padece na tormenta mais densa e na revolta de um oceano de ideias trancafiadas na prisão dos sonhos. Tentamos disfarçar nosso interior frente ao mundo, passar a impressão de imponência, força e de independência individual. Mas isso não é algo que sai de nossa própria natureza, pois a verdade é que somos condicionados a agir assim graças ao meio que estamos inseridos, forçados a agir assim, pois são essas ações e condições que a “realidade” exige de nossos tolos esforços. A pressão de agir como um narcisista tomado pela vaidade do ego é condição para muitos de um sucesso na vida, tornar-se um self-made man, um homem de negócios que não mediu esforços e meios (maquiavélicos, por exemplo) para ser reconhecido perante seus semelhantes.

 Estranho ideal dos últimos tempos, as metas individuais mais fúteis são hoje as ideias que foram incutidas na maioria subconscientemente, aos poucos toda reação contrária foi sendo anestesiada pela oferta de distrações e lazeres que pregam o egoísmo e o prazer de uma individualidade, em detrimento de determinado grupo ou situação coletiva. Arquitetou-se indiretamente a tentativa de uma solução final para as sensibilidades e intensidades das emoções e de toda uma gama de sentimentalidade em nossa geração. Somos obrigados pelos outros e por nós mesmos a sempre ser o melhor, buscar a perfeição nos resultados da vida.

 Tudo acaba se resumindo em aprimorar técnicas e meios de se conseguir resultados e metas, formando toda uma tribo de seres aprisionados dentro de um programa padrão cheio de gráficos e números aos quais devemos aprimorar nossas “características empreendedoras” e conseguir alcançar os objetivos do diagrama. Permanecer com uma boa camada de sentimentalidade e franqueza perante o ambiente é visto com preconceito, raiva, indiferença e acima de tudo temor, pois nestas generalizações do pensamento, o que se mais teme é o que realmente se é ou se quer tornar-se. O temor dos sentimentos deriva do medo de que estes por serem tão intensos, os sonhos por eles gerados acabem atrapalhando na carreira e na busca “gloriosa” do sucesso.

  O pano de fundo dessa repressão aos sentimentos intensos é que eles “atrapalham” o funcionamento de um sistema viciado, formal, impessoal, entediante, insensível às necessidades coletivas ou individuais, pois no frigir dos ovos, o ideal é que vivêssemos para ele no modo automático, como máquinas pré-determinadas e de comportamento perfeitamente previsível. É difícil para esta forma em que o sistema esta estruturado suportar uma rivalidade com o meio das emoções, já que não existe uma forma concreta e eficaz de controla-los, é algo que em sua essência é de combustão incontrolável. Muitos acabam se debruçando em ideias tentando formular teorias de mudança, mas esquecem de que nada gera mais sentimento de revolta, ação, reação e transformação do que o amor.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Traços

A esmo observo seu semblante
De maneira incessante
Busco encontrar traços
E encontrar seu abraço

Nos teus ternos lábios
Busco um espaço
Envolto em sua aura
Queimo como ferro em brasa

Pudera eu estar sempre
Na tua presença serene
Amar-te se torna indecifrável
Como um feitiço instável

Via de mão dupla acidentada
Atormento-me por nesta causa
A possibilidade fica num limbo do impossível
Meu afeto a ti se restringe ao incompreensível

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Reflexo contrário

 Absortos dentro de nos mesmos, por problemas e obrigações pertencentes à individualidade nestas idas e vindas do cotidiano repetitivo e entediante, as coisas se tornam o que são e não damos conta de transformações e mudanças derivadas além de nosso regime egocêntrico. É característica moderna essa individualização de toda uma convivência humana, a coletivização dos acontecimentos, sejam eles positivos ou negativos, se tornam cada vez mais raros e acabam parecendo ideia e fato pertencente à outra época, algo que não se encaixa mais no mundo atual e toda sua busca avassaladora pelo prestigio e satisfação individual, deixando de lado o bem estar geral. Estamos agora refém da cultura de maximização do prazer egoísta desacreditando as relações da estabilidade em comum.

 Vivemos nesta crença que estamos por nós mesmos e que nada nem ninguém ira estender ou ocasionar a oportunidade de nos confortar de alguma maneira e aplacar as sensações incomodas que ocupam nossos pensamentos e ideias constantemente. Apagou-se o estimulo a relações de troca positivas e de cooperação em nome de um pressuposto desejo pessoal e interno, ressaltando vernizes de uma vivencia na área somente das aparências. A ditadura da imagem é que rege praticamente todas as nossas ações de rotina e interfere diretamente nos objetivos da vida. Não importa mais a ninguém por principio a forma em como sua pessoa está estruturada em sua essência, o que se preza e tem-se estabelecido como prioridade é refletir um retrato de estética bela, mesmo que esta imagem seja uma ilusão e esconderijo de algo podre e fétido.

 Deixou-se a concepção de ser em essência aquilo que realmente importa para a idealização do ter e de todo uma sensação de posse ser o ideal humano de felicidade. O abandono de todas as relações de afeto sincero e de empatia, no reconforto e prazer mutuo do bem-estar de uma convivência afetiva verdadeira, foi corrompida pela concepção e modos de jogos emocionais. Com traços evidentes de eterna falsidade, já que nestes jogos vamos apenas encenando um papel conivente, dos torpes e mesquinhos objetivos egoístas e fúteis. Seja uma tragédia, aventura, romance, documentário ou relato bem humorado, estamos apenas fingindo algo que não somos e na maioria das vezes, detestando o papel encenado nesta peça do véu das aparências mundanas.

 Uma verdade entre tantas que não queremos (ou não nos deixam) enxergar é modo preconceituoso e estereotipado que temos nas considerações e visões sobre aqueles que vivem e prezam pela intensidade de afetos e sensações. Os taxamos como idealistas ingênuos e ignorantes, alienados da realidade como tolos sonhadores que tem a mente aérea sem conseguir permanecer com os pés na realidade. Mas esse discurso adotado esconde um desejo de tornar tudo àquilo que se condena nos intensos retornarem a acontecer e fazer com que o discurso deles torne-se a norma do senso comum. Ocultado por um discurso pregado em bases de realismo e racionalidade do pensamento, é evidente as veias do recalque que salta aos olhos para aqueles que percebem uma retórica de ódio neste discurso de condenação à intensidade de sentir.

 Talvez não exista um modo pratico e efetivo de solucionar o problema do esquecimento da importância da essência das coisas e do ser em nome da ascensão do ideal de ter, possuir e demonstrar pela aparência. Entretanto se não podemos eliminar o egoísmo das aparências, podemos sim voltar a dar a atenção mínima ao essencial e a intensidade do sentir como algo construtivo e unicamente bom, sem a questão do viés de segundas intenções que a demonstração de uma imagem do ter quer passar a visão alheia. A necessidade do desprendimento em sempre querer impressionar o semelhante fingindo ser reflexo de algo totalmente contrário ao seu ser da forma em que esta estruturada todas suas convicções de pensamentos e emoções, é a alternativa para se começar a mudar, ao menos, as relações pessoais e abstrair dela os desconfortos.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Dizem por ai

Imerso em desconexos ideais 
Fico exposto a anseios fatais 
Tão logo absorto enfim 
Perco a rara sanidade em mim 

Por vãos expostos pelo caminho 
Eis que errantemente prossigo 
Embora nada mais espere 
Apenas que a saudade cesse 

Cravo na alma chagas exposta 
Ao quais princípios se porta 
Numa batalha de tempo incerto 
Sobre amores ternos e eternos 

Dizem por ai que a loucura 
Assolou-me numa hora escura 
Ainda que nisso certa razão tenha 
Sou louco por amar-te apenas

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Entre querer, poder, ser, ter



 Ando vivendo por ironias pregadas nas manias que o destino persiste em jogar dados comigo, com formato e números viciados, com a eterna tendência de causarem a derrota. Sou um veterano nesta brincadeira que só a atração do jogo mais perigoso para os homens proporciona, em medidas pontuais de artimanhas subentendidas por frases mascarando segundas intenções e meras distrações. Apesar de todo este aparato maquiavélico ao qual me aprisionam de tempos em tempos, não resisto as minhas vontades, e acabo  maquiando esta como desejo de uma terceira.

No momento onde o descrédito me assola algo acaba me impelindo novamente a extrair motivos para ter fé ou ponta de esperança num sentimento ou causa, mesmo que ela torne-se mais uma das saudosas e melancólicas causas perdidas. Sou convencido pelas forças de intensidades do sentir que implacavelmente torna-se fato consumado para crescimento e fortalecimento de afetos projetados ou arquitetados por linhas tortas e embaralhadas, porém com consistência e densidade que tendem a infinitude do plano. Mesmo que esteja vacinado e consciente da problemática de ignorar certos avisos sobre os arames-farpados da mureta dos afetos, a ideia de ao menos ter um momento a se lembrar por uma era inteira torna-se tão forte quanto um Titã onipresente.

 É estranho relatar sensação destas pois penso que é algo um tanto quanto sonhador e lúdico, quase inocente em sua essência. Uma via em que ao se percorrer, no entanto, jamais saberemos o seu final se não chegarmos até lá, já que ele nos é ocultado até o final ser o que é na concepção da palavra: o fim, ou término. Sistematizar um caminho ou modo de se operar sobre um futuro ideal pleno de reconforto em braços tão intensos quanto o que se pensa ter, é provavelmente o maior dos porto-seguros a um espírito irrequieto e imperativo graças as ansiosas frustrações de criar utopias antes dos eventos virem a tona.

Parece que as palavras vão fugindo e esvaindo-se em mera retórica do mundo dos sonhos, embora a maior parte do tempo acabo por lidar com pesadelos infestados por temores e aflições. Padeço de um mal por ter lidado tempo demais com indiferença ferina, marcando as mais variadas dores que carrego internamente, fingindo em risos frouxos falsa tranquilidade. Relatando as formas de erros e fantasmas de um passado inerte ou nos receios de um espírito com os fantasmas de pretéritos imperfeitos, almejo por fim ter ciência no que estou adentrando e seus motivos de gerar no ser, esperanças fortes o suficiente para moverem meu corpo estagnado em nova empreitada.

 Meu conflito agora é entre querer, poder, ser, ter e através de inéditas sinceridades mutuas. conquistar todo um novo ambiente. Não é criar fantasia ou se iludir com promessas sem validade, é somente dar a si mesmo o beneficio da duvida e crer na possibilidade que ao menos em um mero momento, fui agraciado ao apetecer alguém por ser o que sou de fato, sem ficar ocultando verdades ou mascarando crueldades. Pelo que parece nisto tudo e de um empurrão de fatores externos num sentido cômico e fraterno, tudo indica que com você sou eu mesmo.

sábado, 2 de novembro de 2013

Duas faces da mesma tonalidade



 Não tenho mais no e em que acreditar. Olho ao redor e nada vejo de diferente ou cativante, apenas a velha e tradicional forma de se tentar traduzir ideias tortas sobre uma dimensão surreal, fora de um contexto material ou até espiritual. Desacreditei em qualquer fé ou crença existente na atualidade num ideal maior que tantos ingênuos almejam, alienados em traços de uma rotina histórica repetida ao longo de diversas eras. Até os invejo por ainda se apegarem a algo de forma tão apaixonada e intensa, pois perdi totalmente essa capacidade nos últimos tempos de buscar numa suposição um sentido ou motivação de vida, mesmo que isto acabe derivando numa ignorância e cegueira para as verdadeiras problemáticas de nosso meio, ainda sim há certas coisas que parecem ser um fardo pesado por demais para carregar ao descobrirmos o que realmente a por trás de um pensamento ou ato.

 Sem esta retórica de tédio e convencimento pelo cansaço da repetição dos mesmos termos, macaquices de ideologia, mitologia, filosofia viram cacofonia de piadas e todos os ismos tornam-se instrumentos de tortura seletiva. Quebrar paradigmas, reinventar um sistema novo de vida a partir de determinadas ideias já dadas ou se manter preso a pensamentos doentios é a forma que estamos sendo educados desde sempre, não existindo conciliação ou essa sonhadora frase “coexistência pacifica”, somos canalhas se banqueteando por cima da carne seca enquanto estamos no papel dominante, divertindo-se à custa da parte baixa que se alimenta de nossos despojos espoliados dos mesmos. E quando os papéis se invertem, é o mesmo processo individualista de se fazer como mandante através do medo e da força, e agimos desta forma porque somos ensinados que isto é o certo a se fazer, pois não sendo você a atuar neste papel, alguém tomara seu lugar.

 O vermelho e o azul são duas faces da mesma tonalidade incolor, instrumentos de convencimento de nossos afetos, que no final das contas apenas servem para controle de nossas paixões servindo de ferramentas para causas obscuras de terceiros, visando à consumação extrema de um orgasmo prazeroso de ego desmedido e desprovido de qualquer empatia sobre o semelhante. Com a licença poética tomada, aqueles que usam de discursos enfeitados, maquiados com belas metas e promessas de mundo perfeito, são duas opções de personalidades: ou um crente cego pela ignorância na ausência de percepção da realidade ou é o perfeito retrato do narcisista consciente de como a roda dos processos sistemáticos gira, e como filho naturalmente desprovido e desconhecedor de um amor de mãe tal qual um filhote de chocadeira, usa a noção que tem sobre a existência para levar vantagem sobre a ignorância coletiva e assim saciar sua volúpia infinita pelo poder.

 Pode parecer que estou sendo dramaticamente pessimista em relação às causas e lutas de alguns, mas percebam o que os cerca e o meio viciado que está se adentrando. Isto não é uma questão de embate entre o bem e o mal ou deuses e demônios, é somente a tratativa de um vislumbre sobre que qualquer ser que se submeta ao sistema adotado desde os primórdios, tende a se corromper, pois na premissa deste sistema e sua base de perpetuação é de fato a abolição da empatia e de senso coletivo visando o bem comum. Deixo claro aqui que não tenho nenhuma ideia ou teoria para resolver ou mudar o que nos deram e forçaram a engolir como modo de existência, no entanto o que se está ai tem a necessidade de se acabar na perdição e completa desconstrução, barrar as engrenagens de abusos do poder que agem há milênios e inovar com alguma criatividade. Quem sabe no fundo seja esta minha crença, desconstruir velho falido e dar forma ao novo criativo.