Esperando-te em vão, você não sabe o quanto a tua simples
existência me consome o viver, me tira a paz. Confesso que o sentimento já foi
bem mais forte, mas ele ainda existe e o medo de que alguma fagulha o faça
reviver das cinzas é constante, qualquer coisa a minha volta pode me trazer a
sua lembrança em minha mente, seja uma simples conversa ou algo que me traga o
teu cheiro doce e perfumado aos meus sentidos, inebriando-me intensamente.
Teus olhos podem estar a minha espreita em alguma esquina da
cidade, me observando e julgando meu modus operandi do atual estado que me encontro
decrépito, entediante e incolor, semelhante a um modorrento conto de Paulo Coelho ou os textos mastigados que vemos por ai na internet. Não se pode negar
a importância da sua pessoa nos meus parcos anos de vida (você acabou sendo o
grande momento dela, o ápice de um caminho ainda em construção) que devido a
uma série de fatos conjecturais foi rápido, instável e fugaz, acabei perdendo o
controle sobre a situação me levando a cometer erros grosseiros, diversas vezes
me faltando bom senso e tato para analisar a situação como um todo e perceber
que minhas atitudes e as suas acabariam desembocando em um uma triste sina, de
um fim melancólico, funesto e sem vida.
Com certeza eu mesmo me pergunto o porquê de escrever essas
coisas depois de tanto tempo, onde cada um seguiu seu caminho, construiu suas próprias
idéias, convicções, aspirações e sentimentos para si, deixando o que aconteceu
no passado (e é provável que para o melhor de ambos fique por La) para não
causar problemas. Escrevo para deixar tudo isso claro, para botar uma pá de cal
semanalmente, não deixar ele reviver de modo que se torne um espírito a me
atormentar tal como um poltergeist. Botar as emoções para fora, expressa-las
tal como são é meu alento, a aspiração divina que tenho para não perecer no
limbo dos sentimentos perdidos e incomensuravelmente fortes o bastante para
desestruturar o mais forte da psique humana.
De tal forma, que escrever me
prepara ao eventual questionamento se ainda tenho apego ao que sinto por você
que posso dizer que seja realmente amor (como foi no passado) e isso é uma
questão que ainda tento evitar a responder por temer uma resposta que seja
inconclusiva e que me atormente ainda mais. Realmente, a certas perguntas que
não posso e nem devo fazer a mim mesmo até ter a certeza de que estarei pronto
para a resposta, por mais inconclusiva que ela possa ser.
“meu alento é saber que existem
tantas almas em conflito com a mesma intensidade que a minha, isso passa a
sensação de que não estamos sozinhos na luta contra a indiferença humana”
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