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terça-feira, 1 de abril de 2014

Coação pelo Terror

Os últimos eventos aos quais marcaram o momento atual demonstram a face dos resquícios que ainda perduram de sociedade controlada pelo viés educativo na coerção e repressão.  Há 50 anos um golpe militar inaugurou o inicio de uma cultura em nosso país de estruturas que ainda permanecem sendo usadas metodicamente visando manter o controle sobre o individuo em toda sua totalidade como ser. Um aparato então foi planejado e montado naquele momento da grande piada achincalhando o Brasil do século XX, o golpe militar. Militares estes que foram coagidos por setores da sociedade civil com grande influencia politica e econômica naquelas circunstancias históricas.

Passamos então 21 anos sob um regime de exceção, onde os direitos civis foram cerceados, as liberdades reprimidas e limitadas, e por fim com os tenebrosos atos institucionais, o famigerado AI-5, a politica do terror foi instaurada nos ditames da lei daquele macabro governo. Ter opinião própria naquele instante era crime segundo as leis, ato terrorista contra a nação, o que evidencia que leis e normas não podem ser consideradas justas ou igualitárias (vimos isso sendo bem exposto na ação de guerra da tropa de choque da PM no campus da UFSC e da tomada do complexo da Maré no rio de Janeiro pelos militares).

A ditadura (que deveria ser chamada de ditabroxa, pois condiz melhor com o que acabou sendo para os brasileiros em seus desdobramentos posteriores) usou uma pratica que agora esta voltando à moda, como método eficaz de manter o controle sobre aqueles que tentam se revoltar ou mudar uma situação de desigualdade ou de violência direcionada especificamente, a uma minoria ou grupo em situação de fragilidade: a psicologia da imposição do medo. Nos porões do DOPS e do DOI-CODI, o que mais feriu e destruiu homens e mulheres não foram os castigos físicos e o pau de arara, mas o terror psicológico e suas consequências sobre as mentes dos torturados. Perda da esperança, sufocamento dos pensamentos e o bem feito serviço de extração das ideias contrárias à violência de um estado totalitário e fascista, fazendo crer que resistir a quem detinha o poder naquele momento, era inútil e perda de tempo além da própria vida. Para aqueles que não resistiam e apenas observavam a situação se desenrolar fingindo que tudo estava como deveria ser, obedecendo piamente às recomendações do governo e da politica do “Brasil, ame-o ou deixe-o” colado com adesivos nos para-lamas automotivos, os desaparecimentos súbitos dos que ousavam discordar do pensamento “senso-comum” praticado pelo regime e a censura faziam bem seu papel, instaurando pelo medo de acontecer situação semelhante consigo a obediência bovina da maioria da população, como gado ruminando num matadouro.

Fato é que de todas as ferramentas disponíveis nas mãos daqueles detentores dos mecanismos sádicos do poder, a coação através do medo e da propaganda deste através do terror incutido no subconsciente da população, foi arma mais poderosa e eficaz para manter sua opressão sobre o domínio daqueles aos quais exploram. Basta ver isso sendo usado pelo conservadorismo em atacar maquiavelicamente as mulheres na campanha contra o estupro pois elas “ousaram contestar a ideia do alfa-machismo de que são as próprias mulheres que num dia de calor andam com trajes curtos, provocando a libido masculina, completo absurdo para nossos padrões normativos”. Quando nos deparamos com este tipo de discurso sendo adotado por uma parcela considerável das pessoas, realmente percebemos como esta cultura de inversão de valores, da criminalização da vitima e da ideia indireta de que a mulher deve andar com trajes ”decentes” para não tentar a selvageria do macho no cio, que a politica do medo persiste e ainda não foi rompida.


Mas ainda pode-se ter esperança de melhora na situação vendo a conjuntura como um todo. Tudo que vem acontecendo como as ações violentas do braço armado do estado que é a PM, atos de racismo e a mais absurda de todas, a concepção de que a mulher é mero objeto de satisfação sexual e social do homem, reação de extratos conservadores que estão agora( adoro estas ironias) com MEDO E ATERRORIZADOS, pois após tantos anos silenciados pelas mais escabrosas maneiras, aqueles que estavam sob sua coleira de escravidão servil, estão desprendendo-se de seus grilhões a gora ameaçam morder as mãos de maneira mortal dos seus dominadores.  Como diria o filósofo alemão Walter Benjamin, “os mortos jamais descansam, pois os desdobramentos do passado nunca terminam.” Talvez o passado venha cobrar seu preço em nosso presente daqueles que abusaram e  usufruíram do terror iniciado a 50 anos atrás. 

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