Os últimos eventos aos quais
marcaram o momento atual demonstram a face dos resquícios que ainda perduram de
sociedade controlada pelo viés educativo na coerção e repressão. Há 50 anos um golpe militar inaugurou o inicio
de uma cultura em nosso país de estruturas que ainda permanecem sendo usadas metodicamente
visando manter o controle sobre o individuo em toda sua totalidade como ser. Um
aparato então foi planejado e montado naquele momento da grande piada achincalhando
o Brasil do século XX, o golpe militar. Militares estes que foram coagidos por
setores da sociedade civil com grande influencia politica e econômica naquelas
circunstancias históricas.
Passamos então 21 anos sob um
regime de exceção, onde os direitos civis foram cerceados, as liberdades
reprimidas e limitadas, e por fim com os tenebrosos atos institucionais, o
famigerado AI-5, a politica do terror foi instaurada nos ditames da lei daquele
macabro governo. Ter opinião própria naquele instante era crime segundo as
leis, ato terrorista contra a nação, o que evidencia que leis e normas não
podem ser consideradas justas ou igualitárias (vimos isso sendo bem exposto na
ação de guerra da tropa de choque da PM no campus da UFSC e da tomada do
complexo da Maré no rio de Janeiro pelos militares).
A ditadura (que deveria ser
chamada de ditabroxa, pois condiz melhor com o que acabou sendo para os
brasileiros em seus desdobramentos posteriores) usou uma pratica que agora esta
voltando à moda, como método eficaz de manter o controle sobre aqueles que
tentam se revoltar ou mudar uma situação de desigualdade ou de violência direcionada
especificamente, a uma minoria ou grupo em situação de fragilidade: a
psicologia da imposição do medo. Nos porões do DOPS e do DOI-CODI, o que mais
feriu e destruiu homens e mulheres não foram os castigos físicos e o pau de
arara, mas o terror psicológico e suas consequências sobre as mentes dos
torturados. Perda da esperança, sufocamento dos pensamentos e o bem feito
serviço de extração das ideias contrárias à violência de um estado totalitário
e fascista, fazendo crer que resistir a quem detinha o poder naquele momento,
era inútil e perda de tempo além da própria vida. Para aqueles que não
resistiam e apenas observavam a situação se desenrolar fingindo que tudo estava
como deveria ser, obedecendo piamente às recomendações do governo e da politica
do “Brasil, ame-o ou deixe-o” colado
com adesivos nos para-lamas automotivos, os desaparecimentos súbitos dos que ousavam
discordar do pensamento “senso-comum” praticado pelo regime e a censura faziam
bem seu papel, instaurando pelo medo de acontecer situação semelhante consigo a
obediência bovina da maioria da população, como gado ruminando num matadouro.
Fato é que de todas as
ferramentas disponíveis nas mãos daqueles detentores dos mecanismos sádicos do
poder, a coação através do medo e da propaganda deste através do terror
incutido no subconsciente da população, foi arma mais poderosa e eficaz para
manter sua opressão sobre o domínio daqueles aos quais exploram. Basta ver isso
sendo usado pelo conservadorismo em atacar maquiavelicamente as mulheres na
campanha contra o estupro pois elas “ousaram
contestar a ideia do alfa-machismo de que são as próprias mulheres que num dia
de calor andam com trajes curtos, provocando a libido masculina, completo
absurdo para nossos padrões normativos”. Quando nos deparamos com este tipo
de discurso sendo adotado por uma parcela considerável das pessoas, realmente
percebemos como esta cultura de inversão de valores, da criminalização da
vitima e da ideia indireta de que a mulher deve andar com trajes ”decentes”
para não tentar a selvageria do macho no cio, que a politica do medo persiste e
ainda não foi rompida.
Mas ainda pode-se ter esperança
de melhora na situação vendo a conjuntura como um todo. Tudo que vem
acontecendo como as ações violentas do braço armado do estado que é a PM, atos
de racismo e a mais absurda de todas, a concepção de que a mulher é mero objeto
de satisfação sexual e social do homem, reação de extratos conservadores que
estão agora( adoro estas ironias) com MEDO E ATERRORIZADOS, pois após tantos
anos silenciados pelas mais escabrosas maneiras, aqueles que estavam sob sua
coleira de escravidão servil, estão desprendendo-se de seus grilhões a gora
ameaçam morder as mãos de maneira mortal dos seus dominadores. Como diria o filósofo alemão Walter Benjamin, “os mortos jamais descansam, pois os desdobramentos
do passado nunca terminam.” Talvez o passado venha cobrar seu preço em
nosso presente daqueles que abusaram e usufruíram
do terror iniciado a 50 anos atrás.
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