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Crônicas de George

Poesia

sábado, 3 de maio de 2014

Intolerável obsceno

O que me cerca parece um eterno quadrado hermeticamente fechado em si, e dentro deste ocorre uma rotina cansativa das mesmices de alfinetantes desconfortos. Ficar inserido na alienação do espaço reservado e acabar por ausentar-se de tudo que rodeia o incerto elemento do meu eu difuso pelos quatro tempos das estações. Nas horas de raciocínio confuso e perturbador, meus desencontros comigo são praxe dos viveres, traço sintomático de pratica obscena num emocional impacientemente tolerável.

Verão é abrasivo, com contornos de um forno sufocando as vontades na queima em fogo alto dos desejos que derretem aos olhos vistos como miragem para o louco no deserto. Sufocando no calor de sentimentos resistentes aos calores da estação, nada nesta época parece ter força para apagar o incêndio amargurado, que se expande pelos poros mentais e físicos de ser consumido pelo ardor das intermitências nos levantes de um passado abafado nas altas temperaturas do remorso.

Outono vem com o amargo frescor dos ventos cardeais, dando a direção ao nada insólito e taciturno. No cair das folhas o que acaba prostrado ao chão são meus quereres, sem as forças necessárias para a redenção de dar-se o próprio perdão. Assim sendo o outono se torna antessala do veredicto final do julgamento impiedoso de si por si mesmo, no lento escurecer que vai delineando cada vez mais cedo nas batidas dos ponteiros do relógio da alma. Vou fazendo inúmeros papéis na mesma cena jurídica: réu, promotor e juiz da própria sentença.

O Inverno chega com a força da tempestade gelada, o frio impessoal do formalismo ausente de quaisquer sentir por si mesmo ou ao outrem. Já condenado ao desolamento, às ideias neste período são turvas e incertas, permeadas pelos temores das experiências antigas marcadas a ferro e fogo como registro da culpa de crime proscrito. A reclusão do inverno tem ao menos o fator de isolar-se para a criação, no uso do medo como catarse criativa visando uma cura a essa enfermidade crônica chamada amor indiferente.


Por fim eis que chegam à redenção da primavera e seu suposto florescer de novas concepções, vontades e ideias seguras sobre o todo. É o processo de reformulação das próprias concepções da eterna característica de profunda, enorme e ansiosa cabeça acerca das indefinições caídas por terra ao elaborar outras rotas de colisão para os nervos de emocional atribulado. Sendo estação da boa safra madura, é o cuidado na colheita para não extrair-me novamente no quadrado transformado em hectare, raiz e frutos já corroídos pelos agrotóxicos usados como veneno tratado como adubo de outras e inéditas sentimentalidades.

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