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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sensiblidade e intensidade esquecida



 Perdemos noção das sensibilidades e intensidades presentes na nossa própria rotina cotidiana quase que de praxe, fato comum e consumado na vida. O nosso apego excessivo em ter uma ordem régia e ter horários a cumprir, cronogramas a seguir,burocracias a se portar e hierarquias a se respeitar, suprimem inconscientemente todas as vontades e percepções que poderíamos ampliar se não ficássemos presos a este modo de seguir o dia a dia submetendo-se sempre ao ciclo do sistema. A consequência disto vai derivar na conclusa de que levamos a vida apenas para darmos sustentação a uma estrutura repetitiva, levando a maioria dos seres que nela habitam a se afligir com pensamentos excessivos, persistindo em sua maioria nas amenidades desnecessárias que levam o interior humano a frustrar-se consigo e com o todo.

 Vamos então vivendo apenas a perambular pelas vielas das duvidas ansiosas e das certezas incomodas, falseando tranquilidade na aparência externa quando a verdade é que internamente sua essência padece na tormenta mais densa e na revolta de um oceano de ideias trancafiadas na prisão dos sonhos. Tentamos disfarçar nosso interior frente ao mundo, passar a impressão de imponência, força e de independência individual. Mas isso não é algo que sai de nossa própria natureza, pois a verdade é que somos condicionados a agir assim graças ao meio que estamos inseridos, forçados a agir assim, pois são essas ações e condições que a “realidade” exige de nossos tolos esforços. A pressão de agir como um narcisista tomado pela vaidade do ego é condição para muitos de um sucesso na vida, tornar-se um self-made man, um homem de negócios que não mediu esforços e meios (maquiavélicos, por exemplo) para ser reconhecido perante seus semelhantes.

 Estranho ideal dos últimos tempos, as metas individuais mais fúteis são hoje as ideias que foram incutidas na maioria subconscientemente, aos poucos toda reação contrária foi sendo anestesiada pela oferta de distrações e lazeres que pregam o egoísmo e o prazer de uma individualidade, em detrimento de determinado grupo ou situação coletiva. Arquitetou-se indiretamente a tentativa de uma solução final para as sensibilidades e intensidades das emoções e de toda uma gama de sentimentalidade em nossa geração. Somos obrigados pelos outros e por nós mesmos a sempre ser o melhor, buscar a perfeição nos resultados da vida.

 Tudo acaba se resumindo em aprimorar técnicas e meios de se conseguir resultados e metas, formando toda uma tribo de seres aprisionados dentro de um programa padrão cheio de gráficos e números aos quais devemos aprimorar nossas “características empreendedoras” e conseguir alcançar os objetivos do diagrama. Permanecer com uma boa camada de sentimentalidade e franqueza perante o ambiente é visto com preconceito, raiva, indiferença e acima de tudo temor, pois nestas generalizações do pensamento, o que se mais teme é o que realmente se é ou se quer tornar-se. O temor dos sentimentos deriva do medo de que estes por serem tão intensos, os sonhos por eles gerados acabem atrapalhando na carreira e na busca “gloriosa” do sucesso.

  O pano de fundo dessa repressão aos sentimentos intensos é que eles “atrapalham” o funcionamento de um sistema viciado, formal, impessoal, entediante, insensível às necessidades coletivas ou individuais, pois no frigir dos ovos, o ideal é que vivêssemos para ele no modo automático, como máquinas pré-determinadas e de comportamento perfeitamente previsível. É difícil para esta forma em que o sistema esta estruturado suportar uma rivalidade com o meio das emoções, já que não existe uma forma concreta e eficaz de controla-los, é algo que em sua essência é de combustão incontrolável. Muitos acabam se debruçando em ideias tentando formular teorias de mudança, mas esquecem de que nada gera mais sentimento de revolta, ação, reação e transformação do que o amor.

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