Mendigando ao cotidiano sobre remorsos e
arrependimentos, me atrelo à companhia de um velho ranzinza que se intitula
conformismo. Por vezes me guia a absoluta ação do não agir, usando de algumas
falas bem convincentes prevendo desenrolares nada benéfico ao meu ser pensante
excessivo. Conformismo é praticamente para mim, neste meu estado como indigente,
como um mestre oculto inculto, onde quase não extraio algo produtivo e
qualitativo. Poderia deixa-lo em qualquer esquina de minha passiva existência,
mas me conformo com conformismo companheiro.
Alimento-me geralmente nas lixeiras carregadas de chorume e com os
restos alimentícios de estranhos, indiferentes a minha condição de penúria, sou
evitado por olhares desconfiados, na taxação de vagabundo sentimental escondida
por olhares raivosos, feitos por seres corrompidos pelo formalismo, temerosos
de sentir compaixão ou qualquer sentimento que os traga a realidade de humano
como ser.
Dentre todos os lixos, aquele que mais se
parece um banquete de um refinado restaurante
com seu nome escrito em letras garrafais na entrada: SUAVE LEMBRANÇA. Ali tudo
se consegue como alimento de alta gastronomia, de sólidas e duradouras amizades
aparentes, dos dias calmos se sentindo confortado e guarnecido das dores
mundanas, até os rompantes indecorosos de um amor vivido a ferro e fogo, típicos
de ideais juvenis.
Porém gostaria mesmo de voltar as minhas
origens lá no interior, em minha cidade natal, Espirito-aplacado. Tenho ainda
viva na memoria dias onde fazia era rotina a tranquilidade nos abraços de
sinceros iguais, sem termos de contrato exigindo mais do que meus encharcados ossos
podem arcar como tributo a pagar, como fazem cá na selva de pedra onde
atualmente a desgraça deste homem que aqui vos fala estabeleceu corpo e alma
vencidas. Meu único alivio atualmente é o fechar os olhos para o sono sem sonhar,
já que os sonhos refletem meus temores, e a realidade é tal como a descrevi
nestas palavras acima.”
Relato
de um mendigo da praça
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