Há certos roteiros
que parecem ser destinados a um desencontro óbvio entre vontade e realidade.
Sem causa alguma vamos seguindo prostrados diante de certas forças maiores,
incapacitados diante da própria mediocridade de agir sem ter uma reação eficaz
contra desgostos acarretados pelos mais amargos fracassos. Resquícios de falhas
sempre se acabam levando, marcas para lembrar-nos permanentemente de erros
cortantes e os seus altos custos. A marca é consequência e um alerta as emoções
para que sempre ao passarmos a mão sobre aquela áspera cicatriz a memoria nos
remeta ao medo de sentimentos violentos e destrutivos.
O comodismo então vai
virando regra e ato de sobrevivência para um ser já experimentado na mágoa e no
acirramento dos conflitos da alma. Mover-se de um lugar onde por mais entediante
que seja este vácuo, a duvida e os riscos de sair desta zona de conforto impede
a movimentação em busca de um horizonte muito mais pleno, sem aquela ideia de
assumir a suposta mediocridade. É exatamente isto que aflige o sistema e adoece
o espírito: ser insuficiente para voltar a suas graças tendo novamente a
sensação do amar-te não ser a maior das causas perdidas.
Tento até onde as
medidas das minhas forças deixam ser racional ao ponto de incorporar um tom
cético sobre qualquer boato que acabem dobrando o cabo da boa esperança. Mas
não tenho a capacidade de ser como São Tomé e acreditar somente no que vejo, e
então a mera fagulha de noticias me enchem o ser de expectativas radiantes e
tão fortes quanto à infinitude universal do tempo, porém o tempo passado deixou
na memória a velha marca da desolação em um sentimento corrompido na fissura
das palavras ao vento.
Distração deriva pela
sincronia entre ausência de algo e a tentativa no momento fracassado, de
preencher este vazio do seu espaço em outros fatos. Até agora pareço estar numa
viagem sem fim e destino incerto por onde sossegar as preces, saciando minha
sede de afeto com intensidade maior do que jamais tive em seus braços. É uma
luta sem pausas essa busca por nova conexão e concepção de bem querer, pois no
movimento dos ponteiros do relógio tudo indica que cada vez mais a distancia é
a via onde se encerra o ciclo de meu indecifrável e relapso ser.
A dificuldade de esquecer
tudo e todo o contexto é que são lembranças ardentes de chamas que iluminaram
intensamente, mas se consumiram num tempo curto demais. E aqui agora entro para
o senso comum presente na literatura e nas artes que vivem retratando causos de
amor e outros incômodos: dizer que ele realmente é grande se for triste e
saudoso. É fácil perceber que este é o único ponto de convergência entre os
escritos, sejam eles prosa ou poesia que para ser amor há a necessidade da dor.
Não importa sua origem, causa ou condição, ou que sua construção for
reacionária ou revolucionária, no fundo todos aqueles que amam tem um pouco de
masoquista em sua essência.
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