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Poesia

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Indiferença leviana



O tempo veio a combinar com meu estado interno para desta forma, denotar as formas nubladas que tomam conta dos pensamentos e emoções.  Sinto como se os ponteiros do relógio estarem subitamente andando lentos neste momento, para que eu fique na tortura de se angustiar no tédio e sofrer remoendo ocorrências de fatos sem volta, com desfechos opostos as minhas vontades. Orgulho e ego fazem uma dupla de vilões e malefícios extremamente eficaz nos seus propósitos de embalar a discórdia e conflitos mesquinhos entre nós humanos, sendo alimentados por sentimentos que outrora eram em sua essência bons, mas o desenrolar dos fatos envenenaram-nos com rancores da culpa.
  
Como em o médico e o monstro, alma e corpo se debatem entre o confronto da sanidade e loucura, do bondoso com o perverso, entre a paz e a guerra. Sinto sentimentos violentos por vezes possuírem minhas ideias, me trazendo temores indescritíveis por ter estes negros pensamentos que não condizem com meu proceder e o modo de encarar as situações conflitantes.  Submetido nestes momentos pelos impulsos da raiva e do egoísmo de orgulho ferido clamando por ação vingativa, tentando justificar estes meios num falso senso de justiça nos atos maliciando crueldades para aliviar cicatrizes da indiferença em que foi jogado.

 É nesta absorção de tantos malefícios a essência do ser, que acabo transformando a indiferença no tumor do amor.  Como um câncer que vai se espalhando até entrar na metástase aniquiladora de um sistema vivo e pulsante, a indiferença desumana espatifa em pedaços sonhos e planos de um viver na plenitude de seus braços suaves, da tórrida sensação de seus lábios aos meus, de um olhar silencioso que compreendia exatamente tudo que guardava a você e de como parecia à união de corpos e o encontro de espíritos se aliviavam na intensidade mutua, formando o impenetrável escudo contra a mesquinharia mundana. Perdi muito mais do que sua presença com esta indiferença, estou sem o alicerce de toda minha raiz de viver, sem teu amor torno-me escravo da desolação.

 Pareço agora ter virado mero espectro do que já fui alguma vez num ideal distante, imagem distorcida num espelho de sensações onde as incertezas fluem junto a magoa e o pesar caminha lado a lado com o arrependimento. Vou padecendo num remorso por ter cometido o maior dos crimes: perdido você por tola falta de tato e atenção com meus modos, agindo sem pensar no pesar, fui à causa concreta e vitima do próprio delito de ter cultivado e nutrido porcamente o maior de seus afetos. Sobra neste instante a busca de anestesiar tamanha ausência nos devaneios de alguma ilusão passageira, sem a esperança aparente de confrontar novamente uma definição de intensidade igual a você.
   
Amargo em meio a tudo isso certa leviandade de causas perdidas, acorrentado ao desassossego ansioso de estar na posição da falta de perspectiva sobre o redor e meus pesados amores desarmados. Fico no fio da navalha com pavorosa conclusão de perceber em o que me metamorfoseei após vazio dos destemperos de sua ausência. Não consigo definir o que resta ou se restou algo, tudo é termo de uma formalidade num mero tratamento polido apenas com fins de educação cordial, ocultando no rodapé exclamações de corrosivos sentimentos consumindo-se no desgosto.

Um comentário:

  1. " Fico no fio da navalha com pavorosa conclusão de perceber em o que me metamorfoseei após vazio dos destemperos de sua ausência. Não consigo definir o que resta ou se restou algo, tudo é termo de uma formalidade num mero tratamento polido apenas com fins de educação cordial, ocultando no rodapé exclamações de corrosivos sentimentos consumindo-se no desgosto." Sinto isso constantemente, e é agoniante.

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