O tempo veio a combinar com meu estado interno para desta
forma, denotar as formas nubladas que tomam conta dos pensamentos e
emoções. Sinto como se os ponteiros do
relógio estarem subitamente andando lentos neste momento, para que eu fique na
tortura de se angustiar no tédio e sofrer remoendo ocorrências de fatos sem
volta, com desfechos opostos as minhas vontades. Orgulho e ego fazem uma dupla
de vilões e malefícios extremamente eficaz nos seus propósitos de embalar a
discórdia e conflitos mesquinhos entre nós humanos, sendo alimentados por
sentimentos que outrora eram em sua essência bons, mas o desenrolar dos fatos envenenaram-nos
com rancores da culpa.
Como em o médico e o
monstro, alma e corpo se debatem entre o confronto da sanidade e loucura, do
bondoso com o perverso, entre a paz e a guerra. Sinto sentimentos violentos por
vezes possuírem minhas ideias, me trazendo temores indescritíveis por ter estes
negros pensamentos que não condizem com meu proceder e o modo de encarar as
situações conflitantes. Submetido nestes
momentos pelos impulsos da raiva e do egoísmo de orgulho ferido clamando por
ação vingativa, tentando justificar estes meios num falso senso de justiça nos
atos maliciando crueldades para aliviar cicatrizes da indiferença em que foi
jogado.
É nesta absorção de
tantos malefícios a essência do ser, que acabo transformando a indiferença no
tumor do amor. Como um câncer que vai se
espalhando até entrar na metástase aniquiladora de um sistema vivo e pulsante,
a indiferença desumana espatifa em pedaços sonhos e planos de um viver na
plenitude de seus braços suaves, da tórrida sensação de seus lábios aos meus,
de um olhar silencioso que compreendia exatamente tudo que guardava a você e de
como parecia à união de corpos e o encontro de espíritos se aliviavam na
intensidade mutua, formando o impenetrável escudo contra a mesquinharia mundana.
Perdi muito mais do que sua presença com esta indiferença, estou sem o alicerce
de toda minha raiz de viver, sem teu amor torno-me escravo da desolação.
Pareço agora ter
virado mero espectro do que já fui alguma vez num ideal distante, imagem
distorcida num espelho de sensações onde as incertezas fluem junto a magoa e o
pesar caminha lado a lado com o arrependimento. Vou padecendo num remorso por
ter cometido o maior dos crimes: perdido você por tola falta de tato e atenção
com meus modos, agindo sem pensar no pesar, fui à causa concreta e vitima do próprio
delito de ter cultivado e nutrido porcamente o maior de seus afetos. Sobra
neste instante a busca de anestesiar tamanha ausência nos devaneios de alguma
ilusão passageira, sem a esperança aparente de confrontar novamente uma definição
de intensidade igual a você.
Amargo em meio a
tudo isso certa leviandade de causas perdidas, acorrentado ao desassossego ansioso
de estar na posição da falta de perspectiva sobre o redor e meus pesados amores
desarmados. Fico no fio da navalha com pavorosa conclusão de perceber em o que
me metamorfoseei após vazio dos destemperos de sua ausência. Não consigo
definir o que resta ou se restou algo, tudo é termo de uma formalidade num mero
tratamento polido apenas com fins de educação cordial, ocultando no rodapé exclamações
de corrosivos sentimentos consumindo-se no desgosto.
" Fico no fio da navalha com pavorosa conclusão de perceber em o que me metamorfoseei após vazio dos destemperos de sua ausência. Não consigo definir o que resta ou se restou algo, tudo é termo de uma formalidade num mero tratamento polido apenas com fins de educação cordial, ocultando no rodapé exclamações de corrosivos sentimentos consumindo-se no desgosto." Sinto isso constantemente, e é agoniante.
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