Por mais que tente mudar os passos, as coisas sempre tendem
a se repetir tal como os ponteiros do relógio, apontando sempre sincronizadamente
os 12 números indicando os horários morosos do cotidiano. Mudam os personagens,
as cores, momentos, ações e reações, mas o enredo se revive sempre, com
aspectos singulares em cada caso é verdade, onde os atores de fato encenam
brilhantemente seus papéis, em que o meu é claro é sempre o mesmo. Estas
Histórias tem o aspecto em comum: as peças da minha tragédia grega.
É claro que tento fugir destas amarras dramáticas, embora
pareça que o destino determinou que eu acabasse fazendo o mesmo traçado todas
as vezes que reinicio o jogo. Aos meus olhos os determinantes do todo me
impedem de vislumbrar algo novo e com um desfecho oposto ao que Shakespeare
geralmente encerra suas peças, dando a ele um toque refinadamente violento,
pesado e densamente me afligindo e tirando o folego. A completa tragédia humana
em sua forma mais latente e plena.
Percebo que vou cometendo as mesmas falhas e faltas crassas,
movimentos já realizados que fracassaram na hora H e não surtiram efeito,
gerando resultados pífios e graves consequência no desenrolar dos fatos. As lamentações
vão se formando a esmo e dos mais diversos tamanhos e magnitude, em uma criação
sinfônica de velhos acordes e sons suavemente melancólicos, presas em uma
cadeia com grades formadas a partir de remorso e culpa. São sinos que tocam a
um som que perfura os tímpanos por vezes, em que nestes sons se expandem e se
perdem as ideias e emoções conturbadas cercadas de angustias efêmeras.
Não consigo conceder uma auto absolvição em todas estas
peças por mim encenadas, atuadas, dirigidas e concebidas, pois no fim a
concepção foi um roteiro criado por mim, com todos os detalhes de uma causa
aparentemente sem sentido e perdida desde o seu inicio. Sou meu critico mais voraz
e impiedoso, julgando todo o conjunto das minhas obras um tremendo desperdício ,com
chorume exalando seu odor fétido pelo chão, atraindo corvos carniceiros que se
banqueteiam com os restos de corpos decompostos pelas chagas do rancor.
No final das contas vou acabar por tentar escrever mais uma
peça, novamente botando em cena minhas aspirações e criações, buscando fugir
das mesmices dos enredos passados e de resultados insatisfatórios. Nestas
encenações mundanas, vou ajustando os erros e como em uma guerra de
trincheiras, os avanços são lentos, custosos e sofridos nesta guerra interna. A
ordem de fato segue sendo a mesma de um comandante teimoso e impaciente:
avançar sempre, retroceder jamais.
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