Ainda se encontrava lá, entravado nas próprias divagações
tortas e sem sentido. A esmo tentava buscar a compreensão para sua própria tormenta,
pois nada arrefecia sua inquietação, muito menos conseguia conforma-lo sobre o porquê
de toda esta chaga ter se aberto em seu dorso, com a profundidade das intermináveis
abominações de sua instável mente, adentrando em campos de martírio. Buscando
algo perdido em certo ponto, por razões indistintas e alheias a suas vontades e
desejos, ao todo vai se tornando um escravo do senhor do sofrimento.
Nada aparentava conforta-lo, absorvido intensamente na
sensação amarga de estar preso a sentimentos obtusos, sem nenhum sentido ou
razão para crer na plena idealização de um ser, que efetivamente apenas foi
existindo em seus pensamentos idílicos. Tentou concretizar a materialização de sua
mais duradoura utopia, em que está acorrentado aos pesados grilhões, nas
toneladas de emoções entrelaçadas nos vãos ainda abertos no seu peito,
castigado por intempestivas guerras e ingênuas causas perdidas, na crença sobre
o apaziguamento eterno e sua realização
na dimensão exata ao qual sempre lutou e acreditou piamente.
Ele Tornou-se refém da duvida, marcando as ações de maneira
diversa e de medidas extremas dentro de si. Confusão tomou conta inteiramente
do cotidiano, nada mais bastava ou conseguia contenta-lo, tudo se tornou
desgostoso, sem um sentido norteador, a bussola que determinava o caminho
acabou se partindo em meio aos choques da realidade. Ela se foi com tudo aquilo
que de fato a principio importava para ele: a vivacidade, o olhar penetrante, o
conforto de seus braços, o calor de suas profusas palavras. A sua partida foi o
grande determinante, exaurindo dele toda a vontade de simplesmente abrir os
olhos após o sono, em que os sonhos transformaram-se melancolicamente nas
estocadas de agulha na alma quando traduzidos para a realidade.
Então nada mais o acometia, nem mesmo o mais frouxo riso, o
sistema todo entrou em declínio, na decadência evidente no seu estado aos olhos
vistos. Em seu velho conto a tragédia de Shakespeare poderia fazer sentido,
embora Freud não explicasse seus atos e conduta , toda sua revolta e tormento
seria a grandiosa obra de Kafka que jamais fora terminada, sequer mesmo
escrita, seus amores foram perdidos ao vento quando saíram dos lábios dela, a
maquiavélica ilusão brotada de uma falsa promessa, embalada na caixa de pandora
do veneno que gotejava e esvaia sua vitalidade aos poucos.
Eis que então ele se encontra agora ali, na deformidade da
indiferença dos passos alheios, lhe restou apenas agora, observar os momentos e
nuances dos dias. É fácil encontra-lo ainda por ai, analisando minuciosamente
cada ida e vinda, numa disfarçada ansiedade, aguardando outra chegar para
enfim, abordar e por fim na dormência que está inserido ferozmente. Embora a
principio possa parecer uma besta ingenuidade de sua parte, ele aguarda esta
outra, em meio a sensações de velhos medos, questões repetidas e novos ardores.
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