De Algum Lugar Abaixo
da Linha do Equador, após um pouco mais de 2000 anos do nascimento de Jesus de Nazaré.
Caro José,
Sei que por ventura desta sua vida grandiosa e de sua
sensacional necessidade de estar atarefado em seus escritos e ideias para as
obras literárias, tento nesta carta que remeto a sua pessoa ter o grande
privilégio de alguém com tamanha genialidade tente compreender estas aflitas
aporrinhações e lamentações que atingem cá este gajo ao sul da linha do
Equador. Muito me reconforta o que você escreve, pois ler seus textos é os
momentos aos quais posso escapar de mim mesmo e das chateações que vivo a
repetir no cotidiano moribundo e cansado ao qual o tempo me torna seu escravo,
consumindo a conta gotas torturantes qualquer vontade ou algo que almejo sinceramente.
Tenho algumas noções deveras criticas sobre mim mesmo, entretanto mesmo sendo
por certas contas exageradas, contem muitas verdades entre eu e o ambiente ao
qual supostamente pertenço. Parece que as coisas não tem um norte algum para
meu indivíduo torto e sinuoso, as peças do meu quebra-cabeça não se encaixam em
lugar algum, como se estivesse as botando no quadro da figura errada,
consistindo em formar algo fora do esquadro e de aparência grotesca. Em vão
tento remontar as coisas, busco dar outras formas ao que quero ser ou ter, mas
não obtenho algo claro e preciso sobre os erros ditos e revistos sobe qualquer
ótica que possa estar subentendida ou às claras, o implacável vácuo ainda
permanece incrustado nas minhas entranhas. Logo eu, por ter estes temperos de
peculiar intensidade sentimental, padeço de um mal com características titânicas
para seres constituídos com essa vertente de pensar e viver. Ao que vislumbro
como uma enfermidade das mais terríveis para este que vos fala, é que já não
tenho a mínima capacidade de cativar ou envolver alguém a se interessar com
estes afetos vitais ao espírito humano e todas suas vontades e variáveis. No
máximo o que ocorre é uma aparente compaixão (não confunda com paixão, está
consegui gerar em alguém faz tanto tempo que meu paladar já perdeu o sentido do
conhecer desta sensação) ou uma caridosa piedade, uma espécie de esmola solidária a um tolo maníaco sem perspectiva. Nisto tudo ocorrendo, acabo
desesperadamente perdendo a noção do agir sobre as emoções desmedidas, oras
afoito em excesso ou padecendo pela omissão demasiada. Acabo por concluir que
nestas condições e acontecimentos que percebo a minha vista, está consistindo
em razões de que afinal, nesta dimensão onde tudo se tem um preço a se
considerar, e por um valor a se trocar, sou de fato um “intocável”, o ser
impuro ao qual se deve manter-se afastado para não se macular com o gene da
loucura desvairada. Fui designado com uma espécie de praga divina que acometiam
os loucos da antiguidade, que por mais divinos e deles saíssem às vontades e
recados de deus, jamais seria certo manter contato com algo tão fora de si ou
singular, pois sua excentricidade visava apenas à diversão, mesmo sendo um
homem de carne, osso e alma, por ter a veia fora da normalidade não era
considerado humano, e o contato mais afetivo dos humanos com o esquizofrênico é
tabu, praticamente lei marcial. Não quero me delongar mais nestas minhas
lamentações e melancolias expressadas aqui nesta língua portuguesa cheia de
rapapés e traquitanas desnecessárias. A realidade é que ao estar escrevendo a
sua pessoa sobre esta minha sina tragicômica, é que estou novamente dando com
os burros n’água devido a uma nova repetição de acabar me envolvendo, sendo
verdadeiro na sinceridade sobre o sentir, ter de ouvir a recusa e ter como consequência
disto tudo a fuga de alguém ao qual tolamente achei ter tido a benevolência de
compreender-me tal como sou ou sinto. Um breve obrigado a você José, caso eu
consiga o privilégio que sua senhoria leia este ingênuo desabafo.
Carta finalizada no momento em que se anunciava o Falecimento
Do genial escritor José Saramago, sendo nunca remetida ao seu destino e,
portanto perdida nos pensamentos do seu remetente.
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