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Poesia

sábado, 31 de agosto de 2013

Caro José



De Algum Lugar Abaixo da Linha do Equador, após um pouco mais de 2000 anos do nascimento de Jesus de Nazaré.

Caro José,

Sei que por ventura desta sua vida grandiosa e de sua sensacional necessidade de estar atarefado em seus escritos e ideias para as obras literárias, tento nesta carta que remeto a sua pessoa ter o grande privilégio de alguém com tamanha genialidade tente compreender estas aflitas aporrinhações e lamentações que atingem cá este gajo ao sul da linha do Equador. Muito me reconforta o que você escreve, pois ler seus textos é os momentos aos quais posso escapar de mim mesmo e das chateações que vivo a repetir no cotidiano moribundo e cansado ao qual o tempo me torna seu escravo, consumindo a conta gotas torturantes qualquer vontade ou algo que almejo sinceramente. Tenho algumas noções deveras criticas sobre mim mesmo, entretanto mesmo sendo por certas contas exageradas, contem muitas verdades entre eu e o ambiente ao qual supostamente pertenço. Parece que as coisas não tem um norte algum para meu indivíduo torto e sinuoso, as peças do meu quebra-cabeça não se encaixam em lugar algum, como se estivesse as botando no quadro da figura errada, consistindo em formar algo fora do esquadro e de aparência grotesca. Em vão tento remontar as coisas, busco dar outras formas ao que quero ser ou ter, mas não obtenho algo claro e preciso sobre os erros ditos e revistos sobe qualquer ótica que possa estar subentendida ou às claras, o implacável vácuo ainda permanece incrustado nas minhas entranhas. Logo eu, por ter estes temperos de peculiar intensidade sentimental, padeço de um mal com características titânicas para seres constituídos com essa vertente de pensar e viver. Ao que vislumbro como uma enfermidade das mais terríveis para este que vos fala, é que já não tenho a mínima capacidade de cativar ou envolver alguém a se interessar com estes afetos vitais ao espírito humano e todas suas vontades e variáveis. No máximo o que ocorre é uma aparente compaixão (não confunda com paixão, está consegui gerar em alguém faz tanto tempo que meu paladar já perdeu o sentido do conhecer desta sensação) ou uma caridosa piedade, uma espécie de esmola solidária a um tolo maníaco sem perspectiva. Nisto tudo ocorrendo, acabo desesperadamente perdendo a noção do agir sobre as emoções desmedidas, oras afoito em excesso ou padecendo pela omissão demasiada. Acabo por concluir que nestas condições e acontecimentos que percebo a minha vista, está consistindo em razões de que afinal, nesta dimensão onde tudo se tem um preço a se considerar, e por um valor a se trocar, sou de fato um “intocável”, o ser impuro ao qual se deve manter-se afastado para não se macular com o gene da loucura desvairada. Fui designado com uma espécie de praga divina que acometiam os loucos da antiguidade, que por mais divinos e deles saíssem às vontades e recados de deus, jamais seria certo manter contato com algo tão fora de si ou singular, pois sua excentricidade visava apenas à diversão, mesmo sendo um homem de carne, osso e alma, por ter a veia fora da normalidade não era considerado humano, e o contato mais afetivo dos humanos com o esquizofrênico é tabu, praticamente lei marcial. Não quero me delongar mais nestas minhas lamentações e melancolias expressadas aqui nesta língua portuguesa cheia de rapapés e traquitanas desnecessárias. A realidade é que ao estar escrevendo a sua pessoa sobre esta minha sina tragicômica, é que estou novamente dando com os burros n’água devido a uma nova repetição de acabar me envolvendo, sendo verdadeiro na sinceridade sobre o sentir, ter de ouvir a recusa e ter como consequência disto tudo a fuga de alguém ao qual tolamente achei ter tido a benevolência de compreender-me tal como sou ou sinto. Um breve obrigado a você José, caso eu consiga o privilégio que sua senhoria leia este ingênuo desabafo.

Carta finalizada no momento em que se anunciava o Falecimento Do genial escritor José Saramago, sendo nunca remetida ao seu destino e, portanto perdida nos pensamentos do seu remetente.

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