Insuficiência, do verbo insuficiente. Segundo o dicionário o
verbo se define por Incompetente, Incapaz, função inadequada de um órgão ou
sistema, a falta de algo, pouco. Pois bem, é o que de fato se passa pela cabeça
nestes tempos em que se cobra muito, pede-se demais e não há mínima reciprocidade
para aplacar necessidades humanas para se viver de modo decente e suficiente.
Somos cobrados por resultados e a sermos algo que por vezes não queremos e nem
podemos ser, determinando-nos a seguir por um caminho a força, presos em
grilhões por uma mão invisível que condiciona a vida de acordo com os
interesses daquilo que por ventura seja a melhor moeda de troca para terceiros.
Então este personagem ao qual relato aqui assume este papel
da incapacidade da sua insuficientabilidade dos seus toscos atos. Retraído
nestas sarjetas da apreensão existencial, nada via em si com uma boa
perspectiva ou com capacidade de gerar ou criar algo em que se tivesse proveito,
teme até mesmo fazer figuração de paisagem, pois sua posição e composição pensa
ele, tende a desfigurar e obstruir a beleza de qualquer quadro. Sua presença na
vida dos que se fazem presente em seu ambiente é um fardo, peso morto, credita
sua aura no viver destes como um desenho de Picasso num quadro de Van Gogh, desproporcional,
incomodativo, tenebroso e grotescamente fora do contexto.
A capacidade para cativar alguém ou gerar o mais humilde dos
amores é algo desconhecido a seu ser, tal capacidade (se é que realmente um dia
teve) desconhece ou lhe foi negada por motivos que apenas a força que rege o
universo saiba explicar nos mínimos e minuciosos detalhes. É limitado a cada
ação pensada, pois no fim não age, pois piamente crê que jamais conseguira o
que tem como vontade de suas maquinações e emoções peculiares as taxando como
as mais onipotentes e magnificas das causas perdidas. Chega a ser uma ironia
cruel consigo mesmo, ele que tanto preza por manter-se sempre disposto a
batalhar pelas ideias, já as considera como derrotadas antes mesmo destas irem às
claras e serem expostas aos seus receptores.
Vai se perdendo nos próprios passos bem das contas, já que
ao que parece a ele todos os caminhos oferecidos tornam-se labirintos que o
encerram numa prisão cheia de trilhas mas sem uma saída. Assim como o Minotauro
de Creta da lenda grega, é apenas um monstro escondido do resto dos homens
esperando o dia que um herói mequetrefe e sem sal o aborde e abra seu ventre a
fio de espada, para sair do confronto vencendo um desgraçado previamente
derrotado pela ocasião a ele destinada. É nisso que credita ser seu fim, apenas
a escada da glória para mais um passante da multidão em busca de se vangloriar
sobre a carne seca, ou satisfazer seu ego perante a destruição do semelhante
agonizando sobre o tudo e o nada.
Consumindo as próprias prevaricações e remoendo aguas
passadas que contraditoriamente movem seus moinhos de vento, vai se entregando
a definhar absorvido no remorso. Nada mais pede a não ser uma finalidade digna
para suas abstratas capacidades enquanto sentimentalista ingênuo. Seu idealismo
agora já é trágico e traça paralelos entre o amargor de ter deixado o cavalo
passar encilhado e ao mesmo tempo ter usado munição demais em determinados
empreendimentos de sua vontade. Ao final do dia já está extenuado por tantas
lamentosas observações, por fim retira sua máscara de personagem risonho para
finalmente descansar sua face atribulada ao vento, e após tantos dissabores da
rotina terminal, encerra-se dentro de seu reduto a salvo dos outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário