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Poesia

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Notas Sobre O Querer



Nada mais melancólico que a sensação intensa de um querer impossibilitado por algum motivo especifico, travando aquela saudosa e reconfortante emoção de estar envolvido num contentamento quase infantil. Detalhes que se percebe depois de certo tempo, demonstrando ser um incomodo empecilho a nossa vontade do querer, e parece que quanto mais se postam a nossa vista barreiras para o impedir, vamos necessitando deste como o doente que precisa de uma cura. Mas o querer não é uma enfermidade mortal, embora na maioria dos casos gere desolação, desconforto, tristeza, saudades e não raras vezes noites de prantos convulsionantes, tradicionais sintomas do amar.

Existe o querer do instante, o velho companheiro das súbitas paixões vorazes. Sentimento que surge do nada, ardendo os poros de cada polegada do corpo, num indecifrável arrebatamento das atenções de instantes maliciosos da mente, dando a imaginação momentos em que desejos de carne e espírito fundem-se em algo único, sintetizando as variáveis notas de emoções até então escondidas no subconsciente, suprimidas outrora pelo tédio de manias da rotina que consomem os apetites de vida. Só que este querer assim como surge do nada, termina em ninharia, chama que se consome de tanto arder.

Um agradável querer é o da plenitude fraterna, que acomete aos prezadores das boas e sinceras amizades, a melhor e resoluta solução para levantarmos novamente quando se está acometido por sombras de terror ou dos medos gerados pelo mundo em nossa alma. Há também o primeiro querer ao qual ficamos sob a tutela, o mais sincero de todos: o materno. Neste a irracionalidade de um amor de mãe sofre e se alegra a cada passo do rebento, em certos momentos de uma chorosa alegria ou um sofrimento raivoso em forma de gritos e reprimendas visando ensinar, seja lá o que for que nossas criadoras queiram nos transmitir como conhecimento.

Só que agora me ocorre um querer diferente destes, peculiar a mim e as minhas intensidades tendo eu esta petulante característica, está além de determinações de vontade, desejo ou sonho. Meu querer é amar-te, somente amar-te, sem precisar dar motivos, desculpas ou resoluções do meu descontentamento contente por deixar de modo subentendido o que levo escondido sob os pulmões, a incomoda sensação que me acarreta uma dor alegre ou como assim acho que ele o é, uma loucura lúcida. Quero-te tanto que travo minha fala, as palavras se perdem, e por tanto querer sou omisso no agir.

Nisto tudo fico a deriva dentro das ideias e do sentir, sem obter um rumo nestas incertezas se querer-te assim em demasia não seria algum teste de vontade, embora já fosse provado graças a minha teimosia ferrenha que não arredarei de minha posição até que eu mesmo seja o seu querer. Parece estranho ou mesmo ato de insanidade de minha parte, não raro ser taxado por isso como besta de emoções demasiadamente exageradas e até mesmo de um desesperado lobo perdido de sua matilha, mas confesso, amar-te é o melhor paradoxo ao qual um dia vivi, vivo e viverei.

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