Nada mais melancólico que a sensação intensa de um querer
impossibilitado por algum motivo especifico, travando aquela saudosa e
reconfortante emoção de estar envolvido num contentamento quase infantil.
Detalhes que se percebe depois de certo tempo, demonstrando ser um incomodo
empecilho a nossa vontade do querer, e parece que quanto mais se postam a nossa
vista barreiras para o impedir, vamos necessitando deste como o doente
que precisa de uma cura. Mas o querer não é uma enfermidade mortal, embora na
maioria dos casos gere desolação, desconforto, tristeza, saudades e não raras
vezes noites de prantos convulsionantes, tradicionais sintomas do amar.
Existe o querer do instante, o velho companheiro das súbitas
paixões vorazes. Sentimento que surge do nada, ardendo os poros de cada
polegada do corpo, num indecifrável arrebatamento das atenções de instantes
maliciosos da mente, dando a imaginação momentos em que desejos de carne e espírito fundem-se em algo único, sintetizando as variáveis notas de emoções
até então escondidas no subconsciente, suprimidas outrora pelo tédio de manias
da rotina que consomem os apetites de vida. Só que este querer assim como surge
do nada, termina em ninharia, chama que se consome de tanto arder.
Um agradável querer é o da plenitude fraterna, que acomete aos
prezadores das boas e sinceras amizades, a melhor e resoluta solução para
levantarmos novamente quando se está acometido por sombras de terror ou dos
medos gerados pelo mundo em nossa alma. Há também o primeiro querer ao qual
ficamos sob a tutela, o mais sincero de todos: o materno. Neste a
irracionalidade de um amor de mãe sofre e se alegra a cada passo do rebento, em
certos momentos de uma chorosa alegria ou um sofrimento raivoso em forma de
gritos e reprimendas visando ensinar, seja lá o que for que nossas criadoras
queiram nos transmitir como conhecimento.
Só que agora me ocorre um querer diferente destes, peculiar
a mim e as minhas intensidades tendo eu esta petulante característica, está
além de determinações de vontade, desejo ou sonho. Meu querer é amar-te,
somente amar-te, sem precisar dar motivos, desculpas ou resoluções do meu
descontentamento contente por deixar de modo subentendido o que levo escondido
sob os pulmões, a incomoda sensação que me acarreta uma dor alegre ou como
assim acho que ele o é, uma loucura lúcida. Quero-te tanto que travo minha
fala, as palavras se perdem, e por tanto querer sou omisso no agir.
Nisto tudo fico a deriva dentro das ideias e do sentir, sem
obter um rumo nestas incertezas se querer-te assim em demasia não seria algum
teste de vontade, embora já fosse provado graças a minha teimosia ferrenha que
não arredarei de minha posição até que eu mesmo seja o seu querer. Parece
estranho ou mesmo ato de insanidade de minha parte, não raro ser taxado por
isso como besta de emoções demasiadamente exageradas e até mesmo de um
desesperado lobo perdido de sua matilha, mas confesso, amar-te é o melhor
paradoxo ao qual um dia vivi, vivo e viverei.
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