Por casualidades desbaratadas e inoportunas, nos deparamos
com certos seres de aspecto efetivamente singular. São por excelência
extremamente envolventes, cativantes, envoltos numa aura de intensidade única,
nos levando a um momento aparente de êxtase, numa catarse individual alegre, do
mais puro favo que um dia tínhamos provado e experimentado até o momento em que
encontramos esta pessoa. Logo, somos levados a crer na mais doce das armadilhas:
ter se tornado especial, raro, sentimos contemplados por este ser, como uma joia
rara exposta em um museu ou galeria de arte. O Veneno alheio então corrompe aos
poucos, suave e sorrateiramente, os pensamentos, nosso psicológico, traçando um
emaranhado confuso em nosso emocional, tão forte e intenso que o sentimento
vira uma fé, praticamente uma religião pessoal, e esta pessoa de aspecto
pessoal, um Deus.
Como todo Deus, esta pessoa vai ser tornando onipotente,
poderosa, forte, e assim como os deuses do Olimpo, vaidosa, colérica e
excessivamente egoísta, podendo ser cruel em certos traços de sua
personalidade. E como nos mitos gregos sobre estas divindades, nós mortais
somos expostos a suas vontades mundanas, viramos uma peça no jogo da vida dos
deuses, o seu brinquedo favorito, ótimo para a diversão do seu ego inflado e
narcisista. O adoramos como sacerdotes, fazemos templos em seu nome no cérebro
e no coração embriagado pelo fervor e amor a um ser divino e fantástico, a
principio. Este deus então parte para nos testar, fazendo-nos entrarmos em seu
jogo da vida, uma espécie de the Sims real, mas para o ego de um deus, isto é
muito mais divertido, pois ele vive intensamente colabora para o jogo se
envolvendo diretamente, não usando de enviados indiretos ou eventos que possa
causar, ele é o dono do tabuleiro e faz o que quiser com sua peça.
Eis que deus acaba se cansando de brincar com seu jogo, e no
fim, o descarta e abandona o seu fiel e ardoroso crente as traças, fazendo com
que ele então, perca no momento o que mais precisava sua fé em seu “Deus”. Ai
vem a parte mais dolorosa de toda esta estrutura, conviver sem este credo
pessoal, como fazer para recuperar a
racionalidade e o otimismo sem este tipo de “fé”. Para isso não existe segredo,
formula de alquimistas ou feitiços de magos, o que irá nos libertar das amarras
que nos prendem a esse tirânico deus é buscar na lucidez dentro de si, meios
para seguir pela trilha do caminho do meio, novamente lograr pela roda da “virtu
e fortuna”, por esforço próprio, e ai sim, quem sabe, neste caminho do meio
encontrarmos outro andarilho com o mesmo propósito, objetivos, emoções e
pensamentos.
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