“Quando teve noção do tortuoso aprendizado devido a uma
crise das mais evidentes, foi tentando em vão, retomar as rédeas das coisas. Aos
poucos começou a perceber um arrastar nas coisas, uma lentidão presente nas
singelas miudezas mundanas referentes ao dias que persistiam em se tornar
murrinhas e entediantes, embora a perspectiva de melhora fosse evidente, algo o
atormentava e subconsciente, lhe torturava as ideias com obscuros pensamentos,
desconfiando do horizonte vigente.
Sob certo véu sorrateiro de disfarçada calma, internamente
estava irrequieto e extremamente incomodado. Algo havia mudado em seu ambiente,
no seu cerne, na sua raiz mais profunda e encravada em seu amago, o que lhe fez
evoluir de certa forma sua tolerância para com tudo ao redor, e embora neste
aspecto possa se considerar algo de reciclável, no processo que acabou por ter
que digerir de uma forma um tanto quanto confusa e sofrível. Só que a sensação
torpe que assimilava teimava em atormentá-lo, em estocadas de pontas de lança
envoltas num envenenar da alma.
E então a verdade veio para lhe esmurrar a face com
beligerantes golpes acachapantes, cheios de uma certeza real, crua e cruel: por
seu medo e fraqueza, acabou sendo tomado como um pária. Discretamente, o
afastamento de certos vínculos que tinha estabelecido com os que estavam a sua
volta até então foi perdendo a força, este laço foi se rompendo lentamente, a
conta gotas, disfarçado pela rotina densa das ocupações diárias de cada. Uma sincera
desculpa, mas isso ocultava a realidade dos fatos de que ele era taxado como um
apêndice para o restante .
Agora lhe sobrava o julgo ao qual lhe tinham forçado a
encarnar, um manto ao qual o obrigaram a vestir, impuseram-lhe algo
corriqueiramente torpe: virou um estimado, porem estranho e singularmente, Elo
(de humanidade desumanamente) perdido. Notava os olhares ocultos que lhe
lançavam, ora de pena, em outros momentos de analise de suas condições, mas
sempre eles traziam em si algo de julgamento e reprimenda. Estava claro que seu
tributo a pagar seria o de ser alguém para se escutar, mas jamais acalentar.
Nada de proximidade, reconforto ou afeto, lhe negaram cada
demonstração sincera de proximidade. Aos olhos alheios, era temeroso
aproximar-se de um ser tão jocoso e instável, e tal como um leproso do século
XIX, era necessário isola-lo de contato para evitar o contagio da insanidade ao
qual se dizia, ele exalava aos quatro ventos. Só que nada deixava este elo
perdido mais instável, do que o tratamento que lhe dispensavam. Nada de dor,
amor ou ardor, somente o ar indiferente.”
lindo.
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