Era incerta sua situação, ao mesmo tempo em que os efeitos
da própria relação que tentava construir lhe davam mais certeza de suas
vontades. Abarcado nesta contradição, vivia então com os pensamentos da sua
rotina sendo desviadas pela lembrança dos olhares dela, tão profundos, suaves e
tímidos quanto folhas caindo aos ventos de outono. Usava as lembranças como uma sensacional fuga
de suas pequenas crises diárias, amenizando os infortúnios das cobranças que o
viver exigia.
Ia percebendo as peculiaridades a cada palavra trocada, na agradável
sensação de ouvir aqueles risos frouxos. Contemplava detalhadamente estas
risadas, sua dose exata da poção curativa contra os venenosos marasmos mortais
que geralmente tornavam seu tempo perdido. De certa maneira, estas sensações recém-adquiridas
causava um conforto muito esclarecedor. Por certo tinha seus receios, medos e
aflições que faziam predispor-se a tomar todos os tipos de resguardos
possíveis, protegendo as muradas de sua muralha, mas estava aberto a inserir
uma brecha para ela dentro de seus muros e acolhe-la em sua fortaleza, molda-la
a suas indescritíveis vontades.
Perguntava se conseguiria desvendar os anseios que a
acometiam, de forma em que conseguisse uma maneira de aplacar os temores do
desconhecido mundo ao qual estava adentrando, desbravando certas emoções que
ela pouco sentiu ou talvez nunca tenha tido. Pegava-se então tentando responder
estas perguntas, como poderia fazer nascer um sentimento reciprocamente forte e
protetor, ao quais ambos encontrassem um devido e adequado refugio a suas
tormentas, formando entre eles um elo resistente aos amargos desconfortos, que
tanto os perturbavam e por vezes rusgas de velhas cicatrizes.
Conclui a partir disso a realidade dos fins desta tentativa,
pendurada por um fio de esperança em concretizar por gestos subentendidos,
obter vida para certo amor, não destes tolos errantes que pairavam por ai, que
terminavam por extinguir-se na própria chama, consumindo-se rapidamente em si,
terminando de maneira espontânea, ao descontrole das vontades. Planejou então
construir este em bases sólidas, alicerces duradouros e resistentes aos temores,
para ambos aliviarem as chagas destemperadas de passado, presente e futuro.
Seguiu assim, absorvido nestas ideias, pensando em bota-las
em prática o mais breve possível, já tinha esperado tempo demais gastos em
amenidades tolas. Algo nela recobrou os sentidos do seu velho eu que a muito
achou ter perdido em um distante dia, quando vieram cobrar-lhe o tributo da
chamada maturidade, e levaram de suas entranhas os sentidos de confiança e
solidariedade. Acima de tudo, ela o fez recobrar suas próprias virtudes e
fortunas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário