Vivia relativizando tudo, sempre expondo os poréns de
qualquer pensamento e suas exceções, buscava em cada uma delas outros pontos de
vista para compreender os motivos que por ventura acabaram levando outros a
agirem de forma antagônica a sua. Embora ele mesmo agisse fugindo do senso
comum na maior parte do tempo, lhe causava uma boa dose de espanto e surpresa
quando percebia que os outros acabavam se enveredando pela mesma rota que ele
costumava seguir, encontrar outros caminhantes errantes por estas estradas
desertas as quais usava como rota de fuga de certas rotinas ou de situações
digamos, normais, ainda era um momento de rara ocasião.
Ia percebendo certas semelhanças entre ele e estes
andarilhos que encontrava pelo caminho, singularidades acabando por fugir a
regra, certos aspectos singulares de ter algo encrustado na alma. Escapando
destas mesmices moribundas do que taxavam por “normal” ou até digamos ser o “correto”
no modo de viver, ver, e sentir as coisas, eram estes passos específicos e o
traçado com o qual ele e estes andarilhos tinham como sentido ao norte
individual de cada um era o que os unia em determinadas jornadas por perguntas
e não por respostas. Conseguir obter as perguntas corretas nas situações
precisas tende a ser um fardo muito mais pesado de se lidar do que alcançar
respostas, pois em certa medida, respostas podem se tornar dúbias e vazias,
voltando à estaca do nauseante senso comum.
Seguia então ao lado destes andarilhos, compartilhando vagas
ideias, concepções e formulações para a verdadeira pergunta ao qual deveriam
fazer a si e não a outrem, achava que expondo e coletivizando suas acepções e
teorias com estes companheiros momentâneos da via conseguiria arrebatar algum
destes para a sua própria causa. Reconfortava-se em saber que sua espécie não
estava extinguindo-se, parecia que apesar de ainda serem poucos os seres que
andavam pelos mesmos trilhos, graças ao dom da comunicação e do uso da retórica
da razão e de épicas justas em busca do justo, seus semelhantes iam surgindo ao
longo do percurso. Mesmo que estes, pouco tempo ficassem ao seu lado, as breves
situações as quais vivenciavam juntos faziam os detalhes minuciosos desta
ocasião únicos e indivisíveis.
Só que novamente, era
a uma solidão contemplativa desconfortável, ficando por ali, desoladamente
andando em ciclos viciosos e mesmo percebendo as repetições ao qual acabava
sendo submetido, exasperava-se. Tinha uma plena consciência da situação em que
estava inserido, e isto o atormentava ainda mais, sua lucidez perante aos fatos
era uma maldição que o excesso de conhecimento e sabedoria absorvida lhe
causava, e por vezes via-se desejando ardorosamente alienação e ignorância em
diversos aspectos, chegando a imaginar que talvez esta fosse uma dadiva dada
aos imbecis, um presente concedido pelos deuses para amenizar a falta de senso
critico.
Seguia então novamente rumo ao norte especificado em sua
bussola pessoal, aquilo em que seu cerne concentrava o que tinha de mais puro.
Parecia que finalmente, a passos lentos e inconsistentes é verdade, estava
conseguindo fazer-se entender as vistas alheias, e os fazendo ver a sua causa
como necessária e fundamental não só para ele, mas para o que estava
compreendido e inserido no seu mundo, que mesmo sendo único e diferenciado,
acabava por fazer inúmeras intersecções com variadas dimensões alheias. Marcava
assim seus passos o sábio taciturno, e ia por estes rascunhando sobre
peculiares amores, fraternas amizades, na excêntrica ideia de ainda não ter
almejado a pergunta exata a ser descrita.
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