Nada de suas arremetidas cotidianas
surtia efeito aparente. Ocupava grande parte dos seus próprios
pensamentos com buscas incessantes por explicações ou desculpas
para falhas que nem mesmo ele sabia quais eram e por que ao final das
contas tinham se tornado tão profundas, e convergido após um tempo
ocultadas. Ter vindo a tona de um modo tão inaplacável roubando o
pouco que lhe restava de esperanças ao que tinha sonhado como modelo
perfeito de uma singular pessoa, determinando suas ações em uma
espécie de desventura errante em busca do acaso perfeito, destas
coincidências inenarráveis ocorridas no tempo e no espaço
estranhamente sincronizados.
Vivia dentro de si desde então,
buscando aplacar os infortúnios aos quais tinha se submetido, não
por capricho ou teimosia, mas apenas por ter firmado um vinculo com
tamanha intensidade o objeto do seu verbo direto de retórica
possessiva, una e indivisível. Remontava e refazia cada momento
perpassado por ele e o seu amado “elo” perdido, tentando achar
formas de contornar muros aos quais tinham erguido a sua volta,
ocultando-lhe as vistas de um destino melhor e um tanto quanto
aprazível, algo em que ele pudessem por fim creditar alguma
esperança, embora isto lhe causasse alguns transtornos peculiares
como uma aparente cegueira sobre o espírito humano.
Bastante desgastado com os contornos
que os acontecimentos acabaram tendo, enfim tinha se fatigado com sua
própria desolada situação. Acometeu-se de um marasmo melancólico
pincelado em toques abrangentes de certa ironia, naturalmente
rasteiras e secas, obviamente explicadas pelo abismo ao qual tinha se
jogado desde que abriu a caixa de pandora de seus medos, erros,
temores, dando vida aos pesadelos de seu mundo interno de sombras e
obtusas sensações. De fato, realmente gostaria de negar o que ela
afinal lhe havia negado, custava a ele um pesado fardo aceitar que
tudo tinha se esfarelado por entre seus dedos e virado palavras ao
vento.
Restava-lhe então empreender-se em uma
nova jornada, vagar por caminhos diferentes dos quais havia traçado
antes do derradeiro fim torpe em que discorreu os acontecimentos
recém-terminados e enterrados. Claro que agora estaria vacinado nas
peças que lhe podiam pregar com juras vazias ou olhares cinicamente
lançados sobre si, embora isso pudesse lhe trazer demasiada
desconfiança sobre tudo o que lhe rodeava, esta era uma forma melhor
dentre as piores, de lidar com as somas de desvios de caráter dos
outros e dele mesmo. Com isso, evitava se perder novamente em ilusões
venenosas ou em verdades corrosivas.
E assim sendo, a cada dia do resto de
sua singular vida, foi tentando sintetizar doses de uma cômica
loucura com pedaços de uma séria lucidez. Suas respostas ao que
passou eram, apesar de espinhosas, sinceras razões para tentar-se
aperfeiçoar em meio a um caos estabelecido. Em certa medida remontou
um paradoxo, afinal, conseguiu dentro do caos uma certa ordem e
equilíbrio em que percebeu as nuances detalhadas do que realmente
sentia. Tencionava a crer que a roda da fortuna começou a andar
novamente, embora pro vezes passando por cima de buracos abertos pelo
caminho, novos afetos e outros inacabáveis amores ainda suspensos o
imergiriam em outras sagas.
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