Tinha se cansado fartamente dos fins para que ainda mantinha
algum vislumbre de melhora em sua fatídica situação. Perdera qualquer motivação
e vontade para crer em algo novo, a repetição de situações desgostosas
acumulava-se aos montes, e aos poucos a sua bola de neve de tormentas ia
tornando-se uma avalanche voraz engolindo por inteiro suas fracas capacidades
de reação, aprisionando-se em suas divagações que tanto o feriam mortalmente. Já
não sabia realmente a definição de ego ou de autopreservação, foi privado dos
instintos de defesa de si mesmo, expôs-se a execração publica após devanear
sobre seus perigosos sonhos, estes eram temíveis para certos senhores de si.
Ficava então por ai, questionando seus próprios motivos por
ainda persistir em certas jornadas desastradas, todas sempre tendiam a terminar
no mesmo trágico fim, sendo ele designado a encenar o papel de cristo neste
enredo tragicômico. Ocasionalmente pensava estar apenas desempenhando seu papel
destinado a empenhar eternamente, o de cordeiro sendo oferecido ao sacrifico,
tentavam convencer que seu sangue e suas chagas seriam um custo para o bem maior,
oras, o que seria mais heroico do que privar-se de sua paz e emoções para
aplacar o sofrimento e os infortúnios de outro semelhante? Embora isto já o deixasse
farto, viver a mesma história apenas trocando nomes aqui e acolá, adaptações a
cenários e ambientes, no fim das contas isto só o nauseava ainda mais.
A farsa cotidiana ia dando contornos vivos dos pobres
causos, escapando entre seus dedos as possibilidades de alguma vivencia que
contemplasse ao menos uma parte das suas aspirações e metas. Imaginava e
formulava as mais tresloucadas teorias sobre meios com os quais pudesse
reverter e mudar o repetitivo ciclo de fracassos colossais a cada nova jornada
em que se aventurava. Nada mais motivador do espirito humano do que ares
desconhecidos ou caminhos ainda a serem desbravados e percorridos, a cada
inesperado empreendimento ele ignorava as possibilidades do fracasso ou das
forças contrárias a ele, era um tolo sonhador, o ingênuo crente naquilo que se
pressupõem e designam como amor.
Muitos o tomavam por um transtornado excêntrico, apenas algo
com o que ouvir alguma história mirabolante, dar algumas risadas e deixa-lo
ali, na sarjeta murmurando verdades para aqueles que jamais compreenderam seus
motivos e ideias. Praguejava sobre suas causas perdidas, destilando com eloquência
os motivos de sua insanidade, na retórica impecável que lhe era peculiar ia
demonstrando as causas da derrocada de outrora edificantes paixões as quais
repetitivamente se metamorfoseavam em negros amores. A velha receita
cronológica de erros, incapacidades, culpa e condenação por erros que jamais
cometera entrava novamente na ribalta.
Ao fim de tudo, era a sua crença em um encerramento
diferente a cada nova jornada que o diferenciava do todo, era à exceção da
regra, a fuga deste senso comum redundante alastrado como praga pela maioria
dos seus semelhantes. Mantinha então esta confiança, que sobre todos estes
descasos, algo o acabaria lhe dando uma grata surpresa, traria para si e
encontraria um olhar peculiar que convergiria com suas concepções de ideal, em
que o levaria para a diversão infantil na origem de todas as coisas, sejam elas
ditas, feitas passadas ou que ainda serão criadas nestes vãos de nascimento.
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