O que o tornou um doido varrido foi por fim, a sua tentativa
de buscar algum refugio das dores de parto da vida. Sonhava constantemente com um abrigo para
aliviar-se das enfermidades de seu sistema mundo, anestesiar com algo
consistente sua rotina repetitiva e enjoativa de tantas ninharias e infortúnios
que o acometia diariamente, doses diárias de incomodas verdades sobre si e seu
circulo do viver. Chegou numa conclusão extremamente cruel para quem enxergava
e tinha consciência da realidade, o privaram da forma de aliviar-se das chagas
que o acometiam, retiraram do pobre moribundo o maior dos confortos do realismo
bárbaro: não tinha a capacidade de ser amado por seus iguais.
Este remédio para as enfermidades lhe foi negado de cabo a
cabo, com toques sutis de divertimento alheio com seu sofrimento. Nunca passou
sequer perto de alcançar o topo da muralha que o separava dos afetos e vez ou
outra alguém do lado oposto jogava alguma migalha apenas para torturá-lo com uma
ínfima partícula de algo que jamais conseguiria realmente ter em mãos. Sentimentos
recíprocos nunca surgidos lhe foram negado sempre, conhecer esta faceta
prazerosa da vida era uma dádiva de seres que perto dele por terem este
conforto sagrado, tornavam-se deuses, ou na maioria dos casos, demônios da
tortura.
Foi definhando com toda esta indiferença ao qual estava
submetido, oprimiram com uma repressão ditatorial qualquer necessidade de
sentir que tinha, estando preso num palco onde era a diversão de uma plateia,
num jogo dos afetos falsos, não os dele é verdade, mas seu emocional era o jogo
mais apreciado pelos espectadores de sua desgraça. Virou nas mãos destes um
escravo das vontades, uma fusão estritamente cômica e excêntrica de um palhaço
com um macaco amestrado, gerador de risadas através de trapalhadas onde delas
surgiam hematomas por bordoadas, risos típicos do humor negro dos sádicos.
Sua única saída foi ao fim a loucura. O que lhe restou foi
ter que inserir a mente em uma dimensão paralela, tornando-se refugiado num
mundo alternativo onde conseguiu escapar da realidade que estava submetido. Foi
na loucura que conseguiu se libertar deste cárcere que tinha suas amarras bem
apertadas sobre seu peito, lhe tirando quase todo o oxigênio, deixando aquele
pouco resto apenas para mantê-lo com um fio de vida. Mas ali ele estava, com
sua irmã de todas as horas, sua fraterna amiga que o dava alivio nos momentos
mais negros, nada mais o deixava tranquilo que estar Louco.
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