Aqui padeço de indefinições sobre o todo vazio inerte do
momento ao qual estou inserido. Tenho anseios sobre algo que não sei o que é
aguardando o acontecer tirar-me do comodismo de uma posição imune a qualquer
sensação, seja dor ou amor, até mesmo empatia me falta agora por estar ciente
das condições de um vácuo interno. Vou a passos largos com os pensamentos
perdidos no limbo da própria consciência, onde a reflexão para o encontro de
uma mera resposta foge as ideias sem nenhuma exatidão e assim parece que terei
que seguir, numa linha reta onde a visão do caminho se esconde sobre a neblina
cinza e tão densa quanto minhas maiores incertezas.
É a ausência de um sentir que me consome nas aflições
intermináveis de idas e vindas do receio de terminar por caprichos e omissão no
agir, perder o restante que me resta. A sensação de estar anestesiado sem
sentir é peça de um artefato ilusório para individuo que, como eu, teme e
conclui que a soma de seus maiores medos reside na imensidão dos seus
sentimentos serem tão fortes e intensos. Ao imaginar a negação destes vislumbro
minha entrada em um buraco negro onde até mesmo o fim certo seria atitude mais
piedosa, mesmo caminhando a esmo sem nenhuma rota definitivamente traçada neste
viver. Ainda que meus sonhos sejam tortos beirando a uma inocência infantil,
são tão sinceros quanto à observação de uma criança.
Temer perder o restante da pouca razão que me resta esta no
fato de que fui apoderado diversas vezes pela loucura. Como louco fui
expandindo ideias e a criatividade, ela por vezes me desprendia da hipocrisia
da realidade e levava a perceber que nem toda a verdade é verdade e nenhuma é
absoluta em si, e que nisso estamos num paradoxo de tempo: a certeza de nada
estar certo e concreto. Está loucura, porém, não é a que busco evitar e sair de
seu alcance, falo da mais obsessiva, violenta e intensa na vontade de estar
constantemente vivenciada, que nos transforma em doidos abobalhados: esta
esquizofrenia que chamam de amor.
Um tipo de loucura onde todas as sensações estão presentes,
a fusão de emoções controversas que por fim acabam convergindo na vontade de
que o semelhante sinta o mesmo por seu ser. Nada mais louco que uma paixão
desesperada onde o desatino torna-se rotina no cotidiano humano e quando esta
acaba num amor decepcionado, a ideia de ter sido enganado vai a principio gerar
somente uma saída óbvia a se pensar: ir de encontro aos braços convulsivos da
demência. Sem o objeto do amor e abandonado de mero resquício de sonhos, vou
perseguindo e torturando a mim mesmo na imensidão dos delírios. É a volta clara
de um sentimento entregue a própria violência de sua existência.
Nem de flagelos dolorosos do amor é que consiste o estado de
uma mente louca. A loucura também pode gerar outro modo de se encarar as
controvérsias do mundo entregue aos seres infantis e imaturos que nunca estão
saciados de suas vontades. Liberdade de agir e pensar vêm junto com os delírios
dos loucos, não está presa a nenhuma concepção ou domínio de nada, sem a
necessidade de estar na disciplina da ordem do poder superior. Tudo isto é
gerado a bem da verdade porque no final das contas gastas pelo excesso de
tempo, a loucura acaba triunfando sobre o restante, pois é dela que emana a
sabedoria.
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