Pensava, tecia, refutava. Estava inerte ao passo que seguia
as suas contemplações sobre seu próprio todo corrosivo. Ia perdendo-se em
divagações ora vagas, por vezes conclusivas, mas ao final se tornavam reflexivas,
cercadas pelos versos nada rimados nos vastos campos de maquiavélicas
aspirações das vontades. Nisto tudo, uma tirânica sensação de desolação lhe
consumia lentamente, nas ácidas certezas realistas, perambulava na busca de
inconcreta clareza para o seu excêntrico querer, ia refinando os sentidos,
abraçar de alguma forma suas implacáveis aspirações. Embora temesse certo apego
ao desassossego, à causa dos trêmulos movimentos nervosos consistia no fato da
dificuldade clássica de voltar a remoer sempre, causos passados, somando estes
aos velhos vícios de vitimar-se repetidamente, o fardo pesador de oferecer-se
como sacrifício, encarnar o martírio.
De fato, seu ego era anestesiado cada vez que prestava este
papel de herói de uma tragédia grega, garantindo a salvação alheia ao
sacrificar-se, legitimar as liberdades do outro ao se lançar a condenação do
cárcere, acarretando na punição de reclusão ao oprimir seus sonhos. Inserido
totalmente na contradição eminente, neste paradoxo de prender para libertar, na
dicotomia confusa da curiosa sina de permutar sentimentos, categoricamente
acabava sendo onerado nesta troca submetida: “sua dor, meu amor”.
Intrigante mazela de sua personalidade, gestos de abdicação
em nome de um pressuposto bem comum mascarava o maior e pujante dos fatos, era
pelo conforto dela à bem da verdade. Pelas vontades e desejos enraizados
naquele ser, que revirava e jogava seu mundo em ciclos de crises. Cada ciclo
destes era caracterizado pelas suas facilidades de reformar-se, tomar formas
cada vez mais geniais de enredos densos, enveredando-o em causas extremamente
sedutoras, para no fim causar as mais gloriosas destruições criativas. Para
isso, bastavam apenas os sons de sussurros esquizofrênicos de um coração louco,
e tal como Dom Quixote, vivia uma épica ilusão.
Quando finalmente percebeu estes históricos de frustrações,
teve a noção amarga da origem dos traumas a muito amarrados excessivamente em
seus braços, elos contumazes notados no sofrimento, o principio fundamental da
apatia voraz que o devorava. A violência da sabedoria de conhecer a situação a
qual estava inserido poderia parecer cínica e indiferente, mas carregava uma
verdade arrebatadora, a ideia reluzente na mais sincera lucidez do viver. Seu
primeiro e vital passo para compreender seu ambiente nas andanças errantes, era
a necessidade de perder para encontrar-se.
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