Ensaios

Crônicas de George

Poesia

sábado, 11 de maio de 2013

Catarse



Qual movimento ainda possuía, ele mesmo não saberia dizer. Estava sangrando profusamente sobre os mesmíssimos entraves, tudo voltava a se repetir, não apetecia nada do que tivesse algum beneficio. Fora emboscado numa suave armadilha, aos poucos, sendo amarrado linha por linha em traços delicados da indiferença, onde acabava aturdido em meio a uma confusa cadeia de desgostos, perdido nos vãos espinhosos do sentir doloroso, nas chagas nada amenas da exclusão do ideal, que agora jaz espalhado em fragmentos na terra.

Os sentidos esvaíram-se à medida que os ciclos das incompetências iam revezando-se regiamente, detalhando os fracassos de seu jogo marcado e já velho conhecido por erros tolos e ingênuos. Ao passo em que ia atolando em si mesmo, era absorvido a conta-gotas numa letargia morosa, dilacerando-o de tal maneira que imponderavelmente o jogava em uma espécie de cruel dança de lobos, sendo exposto a uma selvagem caça, virava a presa perfeita para a desolação dos pensamentos.

Fora abatido moralmente das mais variadas e possíveis formas de aflições, nem mesmo o apego às saudosas alegrias em pedaços de alguns instantes, no contentamento de outrora o confortavam. Motivo para reagir já não possuía, sofrera a mais avassaladora perda, batalhas atrás de batalhas sendo derrotado, julgado a vista cínica de um júri nada parcial, como um criminoso vil, sentenciado a pagar por um crime ao quais os seres ditos racionais, isentos e impiedosos taxavam como ato imperdoável em sua egocêntrica norma constitucional, a crença na catarse dos afetos, na sua concepção plena exacerbada nos sonhos.

Questionava os motivos de todas estas reviravoltas sádicas que as circunstancias do viver lhe causava, como levaria a compreensão do que acontecia repetidamente com seus impulsos de humanidade. Por vezes sonhava com o dia em que poderia se tornar uma maquina em série, apenas mover-se por um só motivo, sem duvidas de como proceder, e de que modo agir almejava a glória de alienar-se em um movimento uniforme e único, ficar retido num processo único indolor, anestesiado em uma espécie de puro regimento de ação controlada. Sua natureza como ser atrelado às emoções, embora considerado por muitos como belo e essencial, era um fardo carregado com imenso pesar.

Enfim novamente seu cérebro foi cedendo ao coração, como de praxe e corriqueiro em seus passos destrambelhados. Ficou fazendo as concessões de sempre em nome de conhecidas retóricas sobre as emoções, passando a limpo tudo o que acabava por sentir, pensar e ressoar nos âmagos internos da passional maneira que conduzia seu trajeto ao longo da via desta dimensão demasiada humanista comandada por aqueles sem nenhuma humanidade. Dentre todas as lamentações essências que tinha, sendo ele de aspecto tão sensitivo, ter seus atos redigidos por aqueles que não sentem, era o maior dos seus infortúnios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário