Um gosto amargo perpassava por seu paladar. Algo que outrora
o fazia extasiar-se na imensidão dos acontecimentos agora caia por terra,
definhando parcamente por meios distintos, mas que ao final das contas,
terminava no mesmo abismo oculto da lucida imensidão do nada. Já estava farto
dos infortúnios constantes e possessivos, eles sempre o levavam a fechar-se
cada vez mais nas celas da senzala do mundo das ideias opacas e nubladas pelo
véu das honestas mentiras e das boas causas outrora perdidas. Nestas divagações
acabava se perdendo, ao passo taciturno típico dos que padecem por tomar
conhecimento de determinadas verdades.
Incessantemente o passado vinha lhe cobrar certas dividas como
os fantasmas de um conto de natal, assombravam e comprometiam suas metas
futuras. Duvidava das próprias forças, dos sentidos aplacados nas aflições
ríspidas e latentes, estas em que arremetiam nos vastos campos da reflexão.
Perpassava por sua mente pensamentos se tudo o que lhe deixara com a velha
sensação de vácuo no espirito abatia seu ego, tangendo nos meios profundos das prematuras
concepções onde jazem suas duvidas na razão de ser e agir, a olhos vistos ia
decompondo tortamente os alicerces, leviandades cometidas ao acaso de ocasião
embutidas na incomoda sina de chocar-se eternamente na parede da indiferença.
Era arrancado da calma sensação do sossego, nos prantos que
abrandavam sua alma tornavam-se matéria sólida no quesito realidade. Tateava
cegamente buscando as causas e fatos, tencionava as mais variadas abordagens a
sua causa própria, ocultando de si mesmo que ao final das contas zeradas, a
retórica seguida consistia num fundo de enredo para o martírio heroico, apenas
sobreviver não bastava, necessitava marcar seu nome, passar para a história,
ser uma eterna lembrança nas memórias alheias, tornar-se uma lenda que passaria
a viver nos contos e em suas páginas gloriosas.
Mas como todo ciclo tem seu fim, mesmo que este no fim seja
apenas querelas e esgota-se até esfarelarem no mais escuro pó, eles encerram
eras e se dá ai o desfecho final do enredo. É curioso perceber os métodos que
peculiarmente cada individuo absorve estas idas e vindas do tempo, com seus
custos cobrados singularmente pelas forças de ação e reação, coordenando as
experiências sensitivas. Acima de tudo, ele resignou-se a aceitar os encargos
agora recebidos, este seria o preço a pagar por seus designíos engendrados
nesta busca pelo conhecimento da essência das coisas, a carga de loucura era o
abono a ser carregada neste paradoxo de quanta maior lucidez, maior seria a
aparente loucura.
Então foi dissimulando suas memórias, passou a maior parte
do tempo decorrido divagando no extrato discernido das vontades. Na razão
desconhecida, às vezes nada pode apresentar qualquer veia de racionalidade
inteligível, ou mesmo aproveitar-se dela o mínimo necessário para uma
compreensão dos fatos, desaparecendo das vistas como rastros apagados pelo
imperdoável esquecimento. Foi se contentando com outro recomeço na carreira
inabalável destas andanças presentes e futuras, ainda conservava em si fios de
esperança onde poderia buscar refugio destas exclusões que por vezes a falta de
um sentido norteador do espirito nos aflige.
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