Recusava a negar as oportunidades perdidas, amargava um
incólume remorso por deixar o cavalo acabar passando encilhado e ter deixado de
montar-se e partido, para onde não se sabia, mas provavelmente a um local muito
mais aprazível e edificante do que o atual. Abusou no passado de tolas brincadeiras
malfeitas, em horas por ventura desnecessárias, e como sal em uma chaga aberta
ardendo feito brasa, exalando um cheiro forte de um velho chorume lamentoso, ao
passo em que perdia sabe-se lá onde, outrora as virtudes das índoles aprazíveis.
Ele por fim acabou por construir sua própria sentença perpétua, aprisionado em
seu calabouço sem fim.
Absorvia tudo que passava pelos neurônios, a conta-gotas ia
tentando reverter as nuances dos momentos ditos e feitos, que de modo
imperfeito, determinavam a situação atual ao qual o atrelava a profusas buscas
pelo que nem ele sabia ao certo. Buscava encontrar ou consertar, absorto na
crença de ter errado em certo ponto do caminho. Revirava-se nos lençóis da
cama, em sonos irrequietos, sonhando com possíveis acontecimentos se remoendo,
ter dado mais atenção aos breves detalhes, não ter deixado esvaírem-se ao vento
outras concepções, por vezes acordava naquele tupor descontrolado, clamando por
perdão ao desconhecido.
Nos traços até então desenhados, os rasgos do infortúnio que
estava acometido aparentemente não lhe deixavam descansar as atenções, nem por
instantes as ideias lhe arrefeciam a ânsia de estar enclausurado numa espécie
de prisão das metas almejadas, estando rodeado por vultos que outrora eram seus
sonhos e ideias, que agora jaziam acorrentados na parede pedindo clemência. Tudo isso girava em torno de ter-se omitido na
hora mais preciosa, em como o destino fora de praxe implacável, e, no entanto
ainda ressoava para o tempo essa sensação de ser um criminoso ceifador da boa
vontade o perseguia feito matilha de lobos no encalço da presa.
Tal ponto era o desespero em que se acometeu, que suas
vontades mundanas humanas já tinham perdido o sentido, pequenos prazeres
transformados em meras distrações indolor ou intransigentes, vagas atividades
sem nenhuma utilidade especifica, tolas amenidades perfumadas, disfarçando o
imenso vácuo que eram. O bem da verdade foi aos poucos retomando as rédeas
destes entraves, cansou-se de relativizar estes incômodos de sempre, ficar
eternamente sentado em cima deste formigueiro lamurioso nada acrescentaria ao
seu modus operandi, tomou a decisão de sair rabiscando por outros muros
recém-decorados, ainda cheirando a fresca tinta da imaturidade.
Entorpecido pela típica coragem que acomete os idealistas,
foi vagueando em outras esferas de ações, verbalizando e proseando sobre formas
e contornos dos próprios sonhos. A principio poderia pensar-se que novamente
estaria caindo no vicio ingênuo do excesso de fé ou confiança nas mudanças
provocadas nas novas ideias florescidas em seus pensamentos por alto,
entretanto era exatamente esse florescimento a causa da súbita melhora dos ânimos
e da ressureição da criatividade pelos atos sinceros. Nas suas causas ou
motivos, em divagações profundas ou rasas, podia finalmente concluir que uma única
certeza teria, tudo era concretamente incerto.
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