Ensaios

Crônicas de George

Poesia

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Flamejante



Aparentemente as coisas tinham-se arrefecido. Era um assunto que para ele a muito havia sido deixado para trás, fora superado graças à ação do anestésico (não a cura, a bem da verdade) mais eficaz de todos, o tempo. Sua rotina voltara ao normal desde a negação por parte dela, e embora este cotidiano não fosse exatamente o mais belo modo de vida, ainda assim conseguia certos deleites, alguma diversão para consumir sua cabeça em determinados prazeres individuais mesquinhos.

Ele conseguia viver desta forma modorrenta, só que ao levantar o véu da abençoada ignorância, percebia que estava apenas sobrevivendo, obtia clareza numa certeza real em que consistia uma aflita verdade, estava vivendo apenas para se manter vivo, submetido a nenhum sonho, pensava até então que estes haviam se perdido outrora em desilusões, esvaindo-o nas derrotas destinadas a si. Entretanto, como de costume nesta dimensão de deuses coléricos e de mortais pacificados (alguns é claro) nada é absoluto.

Percebeu isso colossalmente, experimentando estas típicas coincidências humanas, certas peças que o arquiteto do universo (seja lá como o identificam) nos prega em verso e prosa, arremetendo os seres em campos de profusas e diversas sensações cometidas por emoções. Nesta coincidência, cruzou novamente o olhar com ela após tanto tempo, dando-se conta de o quanto ela podia facilmente o fazer corar, tirar-lhe o chão ao abrir os lábios dando um sorriso discretamente envergonhado e singelo, típico destas peculiares almas entalhadas na delicadeza e na suavidade dos afetos humanos, sutis, frágeis e doces como campos de lírios flamejantes ao sol.

Foi jogado novamente ao estado de animo e na vontade de concretizar os ideais reencontrados. Ter sido agraciado com a visão da presença dela novamente revigorou seu mundo o que constituía o seu todo, e por mais encabulado que havia sido a troca de olhares, ela o fez reviver a esperança dentro da sua caixa de pandora. Ainda não podia definir com exatidão o tamanho do que sentia por ela, ou designar aquilo como uma ressurreição de um amor mal resolvido, mas tinha a certeza que apenas ter sido agraciado com a face dela perante seus olhos, o revigorou plenamente.

Nesta reviravolta singular que somente ele compreendia a imensidão e força dada ao reencontro, percebeu algo em crer como puramente inestimável. Pode por fim ao tédio nauseante que o acossava em apenas andar por ai contrariado, cabisbaixo e sem motivos aparente. Estava finalmente aliviado da grande massa dos desgostos, encontrara respostas para o que talvez fosse seu grande problema, iluminando descontraidamente seu rosto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário