Acordar, sempre a hora mais difícil de qualquer dos dias de
sua inerte existência. Sair do conforto e segurança do sono era o que o mais
incomodava diariamente, já que isto significava rodar novamente os ponteiros da
rotina moribunda ao qual estava submetido. Foi levantando debaixo de seu
edredom velho do Dragon Ball Z, o qual nunca se desfez por pura birra com sua
mãe, que lhe torrava a paciência por ainda manter algo tão juvenil como peça de
quarto. Derrubou os controles da TV e do Playstation no chão ao acordar,
bufando:
- As empresas hoje em dia fazem controles apenas pra caírem
no chão e fazerem esporro, resistência que é bom nada, bom mesmo é botar no
rabo do consumidor.
Desligou o despertador do celular, ainda zumbi de sono. Sua
primeira visão ao sair da dimensão dos roncos era sua estante de livros e
filmes, ao qual considerava ser a sua mina de ouro particular. Deu um sorriso
sarcástico ao ver o Guia do Mochileiro das galáxias e murmurou a frase clássica
estampada na capa:
- Não entre em Pânico George.
Foi então se encaminhando para o banheiro, assim começando o
dia de George Augusto Pereira, ou Joji, apelido recebido na infância graças à
dicção falha de seu primo Astolfo. Jogou a gélida agua no rosto com a sua
tradicional barba malfeita propositalmente, ao qual segundo familiares lhe dava
uma cara nada agradável de “desertor”. No banho Joji foi maquinando em sua
cabeça o que tinha acontecido na ultima noite, e custava a crer nos fatos
envolvidos na incomodação gerada por apenas uma observação e um comentário de
sua parte, embora em tom de brincadeira e chacota, acabou sendo mal visto pelo
pessoal da mesa.
Mesmo Tendo toda a coletânea completa das Hqs nacionais do
velho morcego e considerar The Dark Knight Rises a obra-prima do cinema contemporâneo
, declarou sua visão sobre o mundo e a filosofia inserida em Batman, ao qual
Bruce Wayne seria na sua visão:
- Apenas um playboy burguês concentrador de renda, que saia
de madrugada fantasiado em trajes de morcego sadomasoquista para espancar a
população carente de Gotham, um tremendo fascista a serviço do livre mercado. Estes seus
comentários na reunião dos amigos acabavam sempre com a sentença
- Ok Joji, chega.
De fato, George possuía uma personalidade disposta sempre à
joça e tentativas de piadas fadadas ao silencio constrangedor da falta de
graça, ou aparentemente de sempre acabar irritando quem escutava seus
comentários sinceros e impertinentes, geralmente ásperos e com certa dose de
ironia polida. Embora quase ninguém entendesse a não ser ele estas observações,
achava ao final das contas, tudo que pensava lucido demasiadamente, sonhando
quase sempre com um pouco da tranquilidade de ignorância,
-A dádiva concebida
aos imbecis- como ele gostava de dizer.
E então depois de por seus sentidos a pleno funcionamento,
lá se foi George, aturar um belo e atraente ônibus lotado para o estágio, tendo
que aguentar a dose torturante de funk de algum celular de uma espécie
aleatória típica de uma infeliz alma.
-Não Entre em pânico George- dizia novamente a si mesmo.
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