Habituado a fazer o mesmo caminho moribundo de casa,
trabalho e faculdade, George permanecia compenetrado neste roteiro, sem
perturbações, serenamente tal como mestre Yoda pensando na filosofia vã da
força. Dentro do ônibus indo para os respectivos destinos, nosso humano herói
ia pensando na sua vida humilde, suas peripécias diárias iam tecendo a rotina
cíclica que vivia, e apesar dela aparentar ser extremamente cansativa e
entediante, poderia obviamente se dizer que ele tinha uma boa vida, com uma conexão
de internet decente e ainda tinha uma conta paga no DOTA, se bem que para isso
sua alimentação se resumia ao restaurante universitário e a coxinha do terminal
de ônibus, seu único meio de transporte, além é claro da sua bicicleta
enferrujada que tinha desde os 8 anos, com o adesivo dos 150 Pokémon.
Pensava na situação de penúria e entraves no viver das
pessoas que não tinham a sua condição, mesmo estando na condição de acomodado
típico da sua condição de classe média, irritava-se facilmente com comentários
reaças do senso comum. Seu estomago doía cada vez que ouvia a frase “bandido
bom é bandido morto”, definia essas idiocrasias como: - um atestado típico de
ignorância digna de um trasgo, seres que pensam assim tem a capacidade mental
menor do que Peter Griffin. De fato, George teve a certeza disso quando nestes
acasos da vida uma situação lhe apareceu.
Ia por ai no seu caminhar típico de estudante sem eira nem
beira, que nosso garoto acabou sendo vitima da insegurança de nossa sociedade
imperfeita, sem um misero Vingador para protegê-la. Sim, George foi abordado
voltando para casa por um assaltante e assim começa um diálogo nada usual.
- O da beca escrita, bazinga, tu memu! Passa tudo mermão !
- Pera cara, por
favor moço. Só me deixa salvar meus arquivos no Dropbox, um instantinho.
-
Vamo logo rapá, que vou te furar feito queijo suíço cum meu berro, ele ta
pedindo pra gritar!
- Desculpa
seu..., como é seu nome mesmo?
- João, ou Jãão, mas pode me chamar de Sorcerer.
-Sorcerer? o senhor por
acaso jogava Tíbia?
-Tíbia foi minha glória e perdição, literalmente.
- Como assim cara?
- Era
um grande jogador de Tíbia, level 200. Passava horas trancado no quarto
jogando, matando demons king e outros seres barra pesada. Eu realmente era fera
nisso, popular, ia para os encontros de Tíbia onde meu ego ia la no alto, tanto
quanto meu level. Mas ai um dia, um ser nefasto hackeou meu char. Enlouqueci,
perdi as vontades e acabei fugindo de casa. Sem sentido na vida, acabei
experimentando crack, e agora, assalto qualquer passante para sustentar meu
vicio. Me escute cara, jamais hackeie alguém, isso pode ser tão destrutivo para a
vida de alguém quanto kriptonyta para o Homem de aço.
– Nossa, que história trágica, a que ponto as coisas podem descambar por
culpa de um maldito bullying –
Leve isso como lição. Olha, obrigado por me escutar, toma, pega tuas coisas de
volta, não posso te roubar depois que ouvisse meu desabafo, seria sacanagem. Tu
é universitário rapaz?
-Sou sim, e no momento sem nenhum dinheiro na
carteira.
– Então pega aqui esses 2 conto
pra coxinha no terminal e vaza
E assim o seu assaltante se mandou, mais na penúria do que
já estava quando foi assaltar George, que aprendeu uma valorosa lição:
conhecimento sobre Tíbia pode lhe salvar de um assalto e ainda render uma
coxinha do terminal de ônibus.
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