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Poesia

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Serventia a hipocrisia

 Letargia que toma conta dos espasmos da respiração, suavemente comprimindo o peito tirando o ar necessário para fazer-me submergir frente à desordem instaurada. Ainda estou preso a desatinos das vontades em que mera fagulha da loucura atravessa caminhos incertos sobre vastos campos, onde vou distraidamente absorvido pelas aflições de uma ansiedade indo do nada a lugar algum. Não existe a certeza de distancia percorrida nisto tudo, em meio ao caos que habita meus pensamentos nada sensatos, os momentos de lucidez da minha oscilante cabeça são tributos à memória do que você já não é mais.

 Sem uma causa a que recorrer busco no nada ideal a que creditar alguma ponta de esperança, como farol a seguir em meio ao nevoeiro ou boia a que se agarrar perdido no oceano do remorso. Por certo tempo estas coisas acabam parecendo mera tolice das minhas ideias, alucinações de um cérebro coordenado pelas sensações de um velho coração louco teimosamente insistindo em dar murros em ponta de faca cega da paixão. Numa sincronia desnivelada e convulsiva as crianças do ego e do desespero vão brincando com sentimento e emoção como duas marionetes cômicas e divertidas.

 Como modo de distração de rotina expresso na amargura refinada no humor de tons depravados de ser personagem interessante a qualquer propósito ou projeto, mas ao fim o mesmo resultado crava sua irônica conclusão ao denotar o descarte dos sonhos. Outras armas inutilmente foram usadas para aplacar as pontadas originadas no tórax, entretanto o tradicional sarcasmo e o clássico cinismo na tentativa de ignorar o que eres e serás em nada adiciona, e nem mesmo tentativas de alienar-se na ignorância para esboçar um contentamento gera alguma satisfação para anestesiar as chagas do descaso.

 Ferida crônica nascida para servir como instrumento de tortura do sentir vai perdendo nas indecisões do que agora está exposto. Sanidade e loucura agora parecem estar fundidas em um corpo só, travando luta para apoderar-se da razão e de alguma verdade. Assim sendo talvez ambas acabem sendo idiotas uteis tendo serventia em abrir brechas e retirar o tumor que sangra a alma materializado no que penso ser supostamente sua antiga versão.

 Agora é os sentidos alterados a mercê do descontrole maníaco de jogos de azar, viro descartável peça de tabuleiro na sua infantilidade. Cartas marcadas expostas sobre nossa mesa da vaidade, vamos nisso nos unindo na partilha dos prejuízos e deixando claro sem rodeios que tudo está consumido as cinzas. Mas a formação de muros das lamentações já não presta de eficaz serventia, aprendi observando sua conduta que muitos abusam do amar como veneno de hipocrisia.

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