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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Pretérito imperfeito

 Em aspectos variados, somos forçados em determinados momentos a remexer no baú do passado e nos depararmos com os antigos desgostos. Tarefa inglória, pois nos faz reviver recortes de tempo que na maioria das vezes foram passagens nada agradáveis ou merecedoras de ter seu espaço em nossa memória saudosista.  Abrimos o baú do passado em busca de respostas para sanar aflições do presente, de forma com que nos erros de um passado recoberto pelas cortinas da melancolia no arrependimento, tirarmos lições para não sucumbir diante das problemáticas de um presente que poderá tornar ou não nosso futuro um pretérito imperfeito.

 Temos a bem da verdade um vicio eterno de buscar a origem das coisas, não importando os meios empreendidos para encontrar a resposta a este questionamento eterno. Cria-se uma necessidade existencial de praticamente ter a ciência do lugar ou meio de onde partiram qualquer coisa, a qual presenciamos em algum momento, e insaciavelmente vamos perguntando cada vez mais gerando a ânsia pelas respostas numa infinidade das questões  eternamente jogada por nós. Curiosidade é o que nos move no final das contas, pois somos seres de contentamento descontente, de amores de constância imperfeita e de duvidas absolutas.

 Ser humano é de fato um animal engraçado e finge se diferenciar das outras espécies se auto intitulando racional, dotado de inteligência superior e imune aos instintos animalescos. Mas esse pensamento é mera fábula contada de geração a geração para dissimular a essência natural do homem, no intuito de assegurar e dar a humanidade mais motivos para se alocar no topo da pirâmide da vida. Tola crença esta que foi arraigada, pois o que nos torna humanos melhores não seriam os sentimentos e emoções fraternas, como amor e amizade? Logo ai está o paradoxo criado, somos mais humanos quando nutrimos sensações animalescas e instintivas, não racionais e calculistas.

 Olhamos para o passado tentando encontrar a origem e a raiz dos acontecimentos nas ações geradas a partir dele, entretanto nos direcionamos apenas num ponto especifico que jamais explicara o contexto. Com isso deixamos a margem motivos e causas que realmente construíram a história dos fatos, o contexto que estava inserido onde se pode afinal das contas, tirar algum aprendizado com erros e acertos de outrora.  Ao nos debruçarmos somente na origem em detrimento da estrutura do acontecido, apenas seremos meros reprodutores de erros persistentes, adentrando num ciclo eternamente repetitivo das falhas e arrependimentos. Tentando buscar conhecimento apenas com a mente preso a origem, estamos nos enterrando ainda mais na cova da ignorância servil.


 Somos responsáveis pelos acontecimentos cravados na memória e o seu desenrolar fatídico ou criativo, culpados do crime do esquecimento e ausentes na maioria do tempo para assimilar alguma lição das conclusões amargas e de términos frustrantes. Sede da verdade absoluta nos conduz a cegas para frente , sem a visão necessária imbecilmente não contornamos o mesmo, voltando ao passado para tentar enxergar meios de ultrapassar barreiras, e nisso nos afastamos cada vez mais de progredir ou ascender a melhores condições de ser com suas vontades próprias e amores respectivos.

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