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Crônicas de George

Poesia

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Eus Antecedentes

  Nada parece ser certo nestas aventuras sem emoção. acordar, levantar, ir trabalhar, faculdade ou tarefa obrigatória a se exercer para sobreviver nesta realidade do sistema.  Perante as ideias relapsas durante os dias de uma rotina cansativa, a sincronia de pensamentos esvaziados, que nascem do nada dando a lugar algum, parecem ser rotina não só minha mas de todos os viventes dessa realidade, tão cheia de intensidade e energia quanto o caminhar de uma tartaruga. Isto vai sendo rotina clássica nos andares vulgares, nas pequenas coisas espalhadas porém controladas do querer externo suprimindo o interno, o sufocamento das vontades é uma tortura subjetiva imperceptível acorrentada a uma silenciosa injeção de dormência, anestesiando o nosso eu frente as auto-proibições ou temores de julgamentos alheios de nosso fazer. 

  Estamos cercados por argumentações e indicações de como se portar, do que fazer, num ciclo constante e acachapante de excessos de deveres e responsabilidades, onde direitos ficam a margem. Excluídos pelo esquecimento induzido, lembranças das nossas paixões e aquilo que amamos fazer, ter e conviver, são relíquias guardadas pela memória em uma caixa ao qual  jogamos fora a chave que a tranca. Sabemos que estas existem, mas como abrir esta caixa sem causar danos a ela? fazer fissuras nela é dar possibilidades aos danos e perigos de buracos abertos que não podem fechar de maneira tranquila e eficiente. Existe também o próprio maleficio ao nos depararmos com estas memorias reveladas, segredos provavelmente escondidos ou suprimidos pelo fato de serem amargos, traumáticos a tal ponto que as lembranças precisaram ser levadas ao limbo devido ao tamanho da dor causada por ela. 

  Seria eu e tantos eus profundos reféns do velho saudosismo, reverenciando e fazendo juras de amor eterno e platônico a um passado glorificado, não por ser belo e reconfortante, mas em comparação ao presente é um porto seguro ao qual se remeter, vislumbrando o futuro incerto, ele é a certeza de que algo já fora bom um dia. Serei assim servo de exemplos indevidos, dos erros transformados, das belas mentiras, dores masoquistas. Passo o perfume mais sublime no cadáver do passado, jogando lixo num recém-nascido presente, atormentando a maturidade do futuro. Faço papel assim nestes termos, de teimoso pessimista amparado pela retórica da lei de Murphy, onde tudo tende a piorar em comparação ao que antecedeu as idas e vindas.

Minha meá-culpa não acrescenta talvez solução, já que mesmo reconhecendo os erros e falhas de meu caráter inconclusivo e vacilante, fico sem esboçar nenhuma reação a minha deprimente noção de realidade. Vou topando com murais, muros e grades repletos de cartazes dando publicidade as mais diversas ações: "tome isso, fume aquilo, beba mais, consuma, isto que é a vida, alegria em doses suaves". De nada isto adiantaria, pois ao fim das contas, o poeta estava com excesso de razão quando diz que não foi tudo aquilo que queria ser, das metas decaídas ou de vãs( ou vis) esperanças. De todo este extenso e cansativo texto, a conclusão que amar nada mais é que espécie de apego ao sofrimento e outras lamentações.