Ensaios

Crônicas de George

Poesia

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Desengano

Tenho comigo as incertezas como constante
Em termos dos golpes discretos do ser
Atendo as ordens de cicatriz dilacerante
Refém da ausência em te querer

Agonia ansiosa impera nos passos
Talvez seja insignificante para deixar um legado
Por remoer demasiadamente velhos casos
O excesso de pensamento é fardo pesado

Ideias desconexas tomam forma
Duvidas sobre o sentir agora é cotidiano
Na invalidez de tudo que fiz até agora
Aguardo que te tornes meu eterno desengano

domingo, 29 de dezembro de 2013

Clássica sensação

 Conservo a velha sensação com a proximidade de datas comemorativa como o natal e o aniversário (que no meu caso são bem próximas) certa melancolia e sentimento de culpa. O motivo vai de encontro a nestes períodos em que fico absorto em pensamentos retrospectivos sobre o que realmente fiz de essencial ou bom. Passando a limpo todo o tempo de vida gasto nos planos ou acontecimentos dos quais me causam pontadas dilacerantes de amargura, trazendo a memória os fracassos e as antigas causas perdidas de outrora, a fenda do abismo novamente me carrega para o limbo do remorso.

 A velha mania de rotular o próprio tempo de vida como insuficiente e sem nenhuma relevância factual vira uma constante por esta época. No pensar demasiado sobre o que fiz e sobre os resultados de horas absorvidas em determinados projetos mundanos e sem sentido ou no ócio preguiçoso de uma falsa ideia de intelecto sendo expandido. O desanimo e a aflição vira regra ao ter uma concepção que o que fiz até agora nada servirá para algo, não foi algo marcante ou com força o suficiente de deixar um legado e ter significado não apenas para mim, mas para algo ou alguém. Não é questão de vaidade ou egocentrismo, mas sim de ao final do olhar reflexivo sobre meu caminho perceber que ele foi valido de alguma forma.

 De todas as reflexões sobre meu modo de levar a vida e seus ciclos, talvez o lado emocional e psicológico sejam as constantes que fazem todos os velhos terrores voltarem do fundo da memória a se tornarem peças da apatia atual. Tentando conjecturar os passos em falso nas ocasiões perdidas, abro em nova ocasião ferida antiga sem sucesso praticando uma espécie de auto-tortura, onde sou o juiz, acusador, carrasco e réu da própria sentença. Sendo meu nível de cobrança e exigência demasiado comigo mesmo, acabo tendo a impressão de estar condenado em processos repetitivos de falhas dentro da minha própria história, sou um tirano do eu profundo.

 Os excessos de pensamentos transformam-se em completa ausência de vontade nestes momentos aonde a instabilidade do meu sistema vai ao encontro do pesar de insuficiência, isolado dentro do vácuo dos sentidos. Tão confuso quanto um ser com amnésia, ai vou rabiscando novamente o esboço de um novo conto, para nele tentar a noção de um ideal a aspirar nestes idos de mais um ano a se passar em que vai se desenhando conexões de um impressionismo cinza destas manias de amores incertos aos quais me entrego.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Incerto a curto prazo

 Incertezas consomem agora o que relato entre as vias do viver, sem rota ou destino definido, sentido perdido nos pensamentos. A confusão vira rotina no cotidiano em meio a compromissos alheios aos quais acabo tendo obrigação por cumprir, nos excessos de outros acabo me ausentando de mim mesmo, gerando mais um filho desgarrado do eu profundo. O absoluto não é existência continua e eterna, o infinito por fim é mais uma variável ou probabilidade do que fato concreto, nisso tudo que digo e desconstruo, parece que acabo falando mais do sinto sobre você do que descrever minhas ideias de essência.

 O que passa agora comigo é sentimento indefinido é sem prognóstico em curto prazo, forma densa, porém de material desconhecido necessitando de molde com cuidado e zelo. Sensação imperativa me toma de assalto, tenho agora uma emoção com tamanho e peso sentido com magnitude, mas não consigo buscar seu interior e deixar exposto a mim e ao resto o que é. Eu que não sou de meios termos nestas coisas de essência do sentir, me torturo na ansiedade de aguardar um desfecho sobre o que sinto, vou sendo a contradição dos próprios ideais e ponto de vista, me restando apenas sentar no muro e aguardar se ele resiste a suas marretadas ou quebra pela força de sua vontade e desejo.

 O tempo parece ser consumido por tédios oscilantes e irritações constantes ao abrir os olhos no acordar, pois o despertar separa meus devaneios contigo aos quais me perco na diversão da origem das coisas. Meu lado irônico e áspero virou parte dos afazeres de um verão de incomodo calor e suada monotonia, sem ter com quem compartilhar minhas tragédias cômicas nos dias de procrastinação, desconto a melancolia da sua falta na morbidez do meu humor negro e imbecil.  E por isso acabo entrando num ciclo vicioso da personalidade, na sua distancia não tenho modos de ser o que sou ao fim dos atos.

 Como mera formalidade tudo acaba se tornando processo burocrático no agir, saudosismo repleto de arrependimento ao tardar as vontades intensas e não ter neste instante um modo de volta as origens do tempo para aproveitar o que aparentemente temi viver e arrependo-me do estado de imobilidade antes da partida. Mania adquirida de omitir o querer, de raiz calejada nas mazelas antigas de frustrações e dores de parto das paixões abortadas, nestes casos dos meus acasos tornei-me produto do meu medo. Marcas adquiridas pelos temores de outrora ainda me custam um preço alto, por mais força que faço, a momentos que a paralisia trava meus passos e me joga ao chão.

Gostaria de prometer as mais sinceras juras sobre nós e o resto dos dias que por fim virão, mas como navegantes marítimos do século XV, nossa viagem não tem rumo definido nem objetivo certo.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Devaneio

De certo devaneio inadequado                                                                      
Busco aplacar aflição concreta
Tentando não pisar tolamente em falso                                                                                     
Sofro nessa dicotomia fria de frouxa reza

Sonhar com passado não deveria ser possível
Mas em jogos de azar ao qual me submeto                                                                                          
Padeço de um mal oculto estranhamente sensível
Na sua lembrança indiferente que assim me esqueço

Tolamente me alegro no saudosismo bucólico
Nas memórias do elo emaranhado no tempo
Encontro uma fusão perdida de mentes e corpos
Só que isso foi em outra era levada pelo vento

Via de mão dupla acidentada
Atormento-me por nesta causa
A possibilidade fica num limbo do impossível
Meu afeto a ti se restringe ao incompreensível

Passos

Cada vez mais difícil ocultar
Pois em teus braços almejo estar
Anonimamente fico admirando
E louca a paixão deleitando

Aos passos trôpegos
Como amores tenros
Esmero seus lábios doces
No qual esqueço meus temores

A situação é conflitante
Mas não hesitarei neste instante
Neste ardor arrebatador
Vamos viver um conto de amor

Disforme

No tilintar das batidas do miocárdio
Sou envolto num imenso espasmo
No profundo ardor febril do minuto
Em cada passo seu que escuto

Na acalentadora memória
De nossa saudosa história
Não restou um misero afago
Somente um disforme gosto amargo

Em vãos

Em vãos expostos na parede
Contemplo seu riso plenamente
Abrindo frestas no meu imaginário
Sacio-me nos teus doces lábios

Ainda que pese ou falte algo
Sacio-me em teus braços
No clamor destas palavras
Acabo por apaziguar totalmente a alma

Vamos fazendo a trilha indecorosa
Que por vezes se torna espinhosa
Ainda que seja magistralmente confuso
Nosso amor sempre será difuso

Insuportável

Não suporto teu silencio
Ele me exaspera de modo intenso
Nos traços do seu esboço
Brincamos de amor no seu logro

Perpassou-me uma ideia
De queimar feito quimera
Feito um dom Quixote errante
Clamo seu nome neste instante

Contentamento

Nos teus braços me contento
E dentro destes me contenho
E no teu discreto olhar
Acabo por me deleitar

Tento em ti furtivamente
Achar peça condizente
De deleites momentâneos
Em que nos reconfortamos

Suplicio

Não bastasse suplicas consideráveis
Embora de fato justificáveis
Evitas encarar face a face
Ocultando-me a verdade

Na indiferença rasteira e muda
Ainda ouço o ressoar de sua voz
Clara como a mais transparente água
Porem ferina como a ponta de uma adaga

domingo, 22 de dezembro de 2013

Senhores da retórica

 Aqui pelos ambientes onde arrastamos corpo e alma por vezes falta de um tudo, indo das futilidades sem sentido até a luz do sol que desaparece durante tempos inglórios. Se segue a vida ignorando estes acontecimentos, sabem-se lá como uns poucos tiram vantagem disto e conseguem graças aos artifícios de uma boa retórica. Combinando esta com o desespero existencial de indivíduos sem causa desmotivados dentro de suas celas de cárcere do medo, conseguem pelo subterfúgio de iludir em seus discursos o controle sobre uma massa melancólica e apática.

 Qualquer resistência aparente sobre isto parece estar pulverizada, não se tem mais o antigo sentimento de revolta humana contra situações que causam malefícios ao todo. Entregues ao abandono de si mesmo ao desespero do realismo incerto graças ao medo e sentimento de culpa, se taxa os intensos do sentir como maníacos insanos que por carregarem consigo as vontades da mudança são os agentes de transformação mais perigosos para os senhores da retórica de palavras ao vento. Os intensos sabem que na caixa de pandora que vivemos apesar das feras do desespero e do rancor aparecerem mais ao publico, a esperança caminha por ai, pois ela foi libertada no fundo da caixa após todas as aflições saírem com suas artimanhas.

 Os sentimentalistas então são perigosos ao poder estabelecido, na sua percepção sobre o controle e vantagem de pouquíssimos sobre os semelhantes transformados em corpos destituídos de vontade própria. Alienados entregues ao moldamento dos desejos e atos como máquinas programadas a agir pré-determinadamente em processos visando suprimir qualquer reação e sentimento contrário, somos ensinados pela produção do medo a não exigir ou se tentar transformar a situação, graças ao condicionamento de associar a mudança ao pecado capital e ao delírio da loucura, criminalizou-se o sentimento da revolta incutindo nas ideias e pensamentos o temor pela punição e castigo ao agir contra as algemas do controle da vontade.

 Impera-se nestes termos o conformismo geral da situação, entregues a sensação do desanimo e do contentamento de sobreviver com pobres migalhas oferecidas de restos do banquete pelas mãos e fala dos ventríloquos que coordenam a situação de acordo com seus obscuros interesses. Já não existe mais aquela tradicional certeza sobre ideias certas  do vermelho e o azul, tudo entrou em uma fusão de interesses entre ambos por atrás das ribaltas do teatro da vida, o que prevalece hoje é um pano de fundo cinza estabelecendo o predomínio dos interesses egocêntricos e narcisistas. Não existe mais alguma disputa ou verdade, o cotidiano disto é uma farsa teatral onde todos se pintam de cores mais prazerosas escondendo a palidez acinzentada de cadáveres.

 Vivemos na era do contentamento e conformismo material, educados na crença que questão da posse do ter sensação primordial para se resolver qualquer incomodo ou problema que afeta corpo e mente humana. Repetindo constantemente falsas certezas, tudo foi estruturado para garantir a perpetuação e manutenção das ferramentas do controle, minando de forma silenciosa e cruel a oposição aos desmandos. Tudo isso baseado em sua maior parte na ideia implantada a força nas mentes: desacreditar e taxar de loucos delirantes aqueles que resistem, forçar os outros a crer que evoluir não passa de devaneios de seres malucos e doentios.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Cada qual desastrados

 As coisas foram se desenhando sobre o todo dos últimos tempos de forma comicamente torta e incerta, presos a certa insegurança e receio da repetição que determinadas linhas históricas gostam de repetir. Evitar os ciclos e as mesmices das falsas coincidências, que embora estejam mascaradas pela surpresa momentânea, se percebe que é mais do mesmo das cartas marcadas no jogo de uma envelhecida derrota na batalha amargurada. Temores aos quais de certa maneira ainda carrego correntes dos grilhões que me prendem a receios antigos, marcas visíveis ao observar meu agir e toda a ansiedade que atrelo as ideias e na junção do meu físico e psicológico nada seguro ou estável.

 Os últimos dias foram se esvaindo rapidamente onde cada momento foi crucial para extrair deles as lembranças que vou carregar durante esta ausência forçada por motivos aos quais compreendo, mesmo eles sendo contrários ao meu querer. E este querer agora se arrepende, de ter retardado os movimentos em sua direção por tolo orgulho, não dando o braço a torcer se escondendo na justificativa das dores de outros negros amores. Agora todas estas justificativas soam como ignorância e aparente insegurança de um velho lobo do mar temendo zarpar do cais com sua embarcação através de um oceano que o conhece tão bem como as marcas de seu calejado rosto.

 Penso se o que esta acontecendo agora não será delírio das minhas intensas ideias ou mera fuga de pensamento sobre a realidade crua. Custo-me a dar crédito a algo que por si só acalenta o ser e conforta este a quem os desgostos acostumaram ao permanecer cético a quem o diz ser necessário a sua existência como se apenas a mais tola e imbecil brincadeira me tornasse sua razão em meio a insanidade do mundo. De fato eu possa ser sua razão, mas você a mim tem que ser este oposto, ser a minha mais adorável loucura onde possa fugir da rotina ociosa, do tédio da "normalidade", sonhar com os olhos abertos praticando os mais mirabolantes atos romantizados por intensos sentimentos.

 Se for mesmo tudo uma insana de minha cabeça e um ingênuo delírio, me deixe viver ele dentro de meus devaneios, a ilusão dos teus braços sempre será conforto para a verdade da ausência dos teus lábios. Passarei agora a contar dias e horas para reformular o que sinto, penso, direi, farei e assim vou suavemente enlouquecendo na criatividade do meu sentir. Nada mais incerto do que a volta é verdade, entretanto o aguardo de regresso prega peças, e os processos invariáveis transformam sentimentos e ideais de se ver o mundo ao redor, logo quero que essa mudança revolucionária por agora trave aqui, ainda quero aproveitar a sensação de poder ser eu mesmo com você.

 Eis por certa cômica razão está nos tornando cada qual desastrados que acabam por se encontrar finalmente quando estão dizendo até logo, sem tristeza ou mera melancolia, apenas com a sensação de poder ter-se aproveitado melhor as datas, com a ponta de arrependimento por inseguranças sem nexo. Por nada se encaixar em lugar algum a ambos, seja isso que acabou sendo nossa junção: duas peças de formato estranho chocando-se em meio ao caos ironicamente ordenado do narcisismo egoísta. Nisso acaba residindo estas coisas peculiares a nós dois, não podemos viver apenas dentro de nossos egos individuais, eu preciso te querer e você do meu viver.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Pacificação

 E o tempo foi passando nos idos de um ano indissociável dos termos de uma pacificação contundente e necessária do agir. Ocasionalmente voltar-se para o interior de si mesmo e nele, buscar as medidas para o aprendizado sobre conseguir tolerar e apaziguar o que se é todo o agir característico enquanto ser na individualidade da personalidade. Processo com caminho tortuoso e áspero, já que muito antes de se buscar a paciência consigo mesmo tentamos entender o que jamais entenderemos de fato ou atingir sua exata compreensão: a real noção do próprio ser.

  Sou inconclusivo nas intensidades e em certas responsabilidades e minhas linhas de conduta convergem ao oposto de uma maquina, não tenho nenhuma programação definida que me faça agir de acordo com o que estava pré-determinado. Mesmo que meu proceder acabe sendo limitado nas amarras do vicioso sistema regulatório das obrigações consigo e com os semelhantes alheios alienados e alienadores, de algum modo nestas aflições do desajuste as regulações do que acabam por me entregar, é a expansão na tentativa da criatividade num desatino de pensamento a fonte da existência do sentir incompreensível.

 Não faz muito tempo ouvi certa ideia sobre a ideia de ser livre e a noção para a liberdade, por assim dizer. A ideia era de que estando preso a algemas, ao buscar afrouxar a sua força no interior desse aprisionamento, se da vazão a nossa liberdade e assim criar a partir desse espaço que mesmo limitado, a possibilidade para inovar e construir algo novo e contrario ao que nos deixa acorrentados. Existe claro a opção de estar livre totalmente de qualquer apego a algo ou ideal, mas ai acaba-se sendo ironicamente trancafiados na cela das ausências de significados, se está totalmente libertado, mas libertado do que e sobre o que? Então se acaba na mesma angustia da tentativa do auto entendimento: é adentrar no campo das divagações angustiantes.

 Com o passar dos momentos, é em lições tiradas sobre o que não fazer e por onde não cometer falhas, esta noção de que se deve agir de tal forma e de acabar sendo empreendedor na empreitada coberto de glórias e das vaidades do sucesso, o pecado que corrompe de dentro para fora o indecifrável quem somos.  Nesse enredo cheio de nós e desencontros remoídos em velhos desgostos e magoas de outrora, ancoradas na tradicional insegurança rancorosa contra si mesmo, percebo que contemplar minhas necessidades simples e reconfortantes é não se perder nas medidas do exagero da procura nas utopias tresloucadas de um egoísmo narcisista.


 Por fim agora já se está posto a referencia as quais devo apreciar por hora enquanto emocional e psicológico de sentimentos imprevistos e diversos. O excesso de se buscar eternamente o lugar dentre o maior dos maiores vira lugar comum e meta de um vazio desmedido. Nunca se saciar e sempre visar estar acima de todas as coisas na posição de um deus nos mandos e desmandos o estopim das tormentas, o delírio da grandeza de tentar-se apoderar do controle total das coisas é a mascara para fugir do que estabiliza no todo: ser o que se é para si e para o semelhante.

sábado, 7 de dezembro de 2013

A sabia loucura

Aqui padeço de indefinições sobre o todo vazio inerte do momento ao qual estou inserido. Tenho anseios sobre algo que não sei o que é aguardando o acontecer tirar-me do comodismo de uma posição imune a qualquer sensação, seja dor ou amor, até mesmo empatia me falta agora por estar ciente das condições de um vácuo interno. Vou a passos largos com os pensamentos perdidos no limbo da própria consciência, onde a reflexão para o encontro de uma mera resposta foge as ideias sem nenhuma exatidão e assim parece que terei que seguir, numa linha reta onde a visão do caminho se esconde sobre a neblina cinza e tão densa quanto minhas maiores incertezas.

É a ausência de um sentir que me consome nas aflições intermináveis de idas e vindas do receio de terminar por caprichos e omissão no agir, perder o restante que me resta. A sensação de estar anestesiado sem sentir é peça de um artefato ilusório para individuo que, como eu, teme e conclui que a soma de seus maiores medos reside na imensidão dos seus sentimentos serem tão fortes e intensos. Ao imaginar a negação destes vislumbro minha entrada em um buraco negro onde até mesmo o fim certo seria atitude mais piedosa, mesmo caminhando a esmo sem nenhuma rota definitivamente traçada neste viver. Ainda que meus sonhos sejam tortos beirando a uma inocência infantil, são tão sinceros quanto à observação de uma criança.

Temer perder o restante da pouca razão que me resta esta no fato de que fui apoderado diversas vezes pela loucura. Como louco fui expandindo ideias e a criatividade, ela por vezes me desprendia da hipocrisia da realidade e levava a perceber que nem toda a verdade é verdade e nenhuma é absoluta em si, e que nisso estamos num paradoxo de tempo: a certeza de nada estar certo e concreto. Está loucura, porém, não é a que busco evitar e sair de seu alcance, falo da mais obsessiva, violenta e intensa na vontade de estar constantemente vivenciada, que nos transforma em doidos abobalhados: esta esquizofrenia que chamam de amor.

Um tipo de loucura onde todas as sensações estão presentes, a fusão de emoções controversas que por fim acabam convergindo na vontade de que o semelhante sinta o mesmo por seu ser. Nada mais louco que uma paixão desesperada onde o desatino torna-se rotina no cotidiano humano e quando esta acaba num amor decepcionado, a ideia de ter sido enganado vai a principio gerar somente uma saída óbvia a se pensar: ir de encontro aos braços convulsivos da demência. Sem o objeto do amor e abandonado de mero resquício de sonhos, vou perseguindo e torturando a mim mesmo na imensidão dos delírios. É a volta clara de um sentimento entregue a própria violência de sua existência.

Nem de flagelos dolorosos do amor é que consiste o estado de uma mente louca. A loucura também pode gerar outro modo de se encarar as controvérsias do mundo entregue aos seres infantis e imaturos que nunca estão saciados de suas vontades. Liberdade de agir e pensar vêm junto com os delírios dos loucos, não está presa a nenhuma concepção ou domínio de nada, sem a necessidade de estar na disciplina da ordem do poder superior. Tudo isto é gerado a bem da verdade porque no final das contas gastas pelo excesso de tempo, a loucura acaba triunfando sobre o restante, pois é dela que emana a sabedoria.