Ensaios

Crônicas de George

Poesia

sábado, 7 de dezembro de 2013

A sabia loucura

Aqui padeço de indefinições sobre o todo vazio inerte do momento ao qual estou inserido. Tenho anseios sobre algo que não sei o que é aguardando o acontecer tirar-me do comodismo de uma posição imune a qualquer sensação, seja dor ou amor, até mesmo empatia me falta agora por estar ciente das condições de um vácuo interno. Vou a passos largos com os pensamentos perdidos no limbo da própria consciência, onde a reflexão para o encontro de uma mera resposta foge as ideias sem nenhuma exatidão e assim parece que terei que seguir, numa linha reta onde a visão do caminho se esconde sobre a neblina cinza e tão densa quanto minhas maiores incertezas.

É a ausência de um sentir que me consome nas aflições intermináveis de idas e vindas do receio de terminar por caprichos e omissão no agir, perder o restante que me resta. A sensação de estar anestesiado sem sentir é peça de um artefato ilusório para individuo que, como eu, teme e conclui que a soma de seus maiores medos reside na imensidão dos seus sentimentos serem tão fortes e intensos. Ao imaginar a negação destes vislumbro minha entrada em um buraco negro onde até mesmo o fim certo seria atitude mais piedosa, mesmo caminhando a esmo sem nenhuma rota definitivamente traçada neste viver. Ainda que meus sonhos sejam tortos beirando a uma inocência infantil, são tão sinceros quanto à observação de uma criança.

Temer perder o restante da pouca razão que me resta esta no fato de que fui apoderado diversas vezes pela loucura. Como louco fui expandindo ideias e a criatividade, ela por vezes me desprendia da hipocrisia da realidade e levava a perceber que nem toda a verdade é verdade e nenhuma é absoluta em si, e que nisso estamos num paradoxo de tempo: a certeza de nada estar certo e concreto. Está loucura, porém, não é a que busco evitar e sair de seu alcance, falo da mais obsessiva, violenta e intensa na vontade de estar constantemente vivenciada, que nos transforma em doidos abobalhados: esta esquizofrenia que chamam de amor.

Um tipo de loucura onde todas as sensações estão presentes, a fusão de emoções controversas que por fim acabam convergindo na vontade de que o semelhante sinta o mesmo por seu ser. Nada mais louco que uma paixão desesperada onde o desatino torna-se rotina no cotidiano humano e quando esta acaba num amor decepcionado, a ideia de ter sido enganado vai a principio gerar somente uma saída óbvia a se pensar: ir de encontro aos braços convulsivos da demência. Sem o objeto do amor e abandonado de mero resquício de sonhos, vou perseguindo e torturando a mim mesmo na imensidão dos delírios. É a volta clara de um sentimento entregue a própria violência de sua existência.

Nem de flagelos dolorosos do amor é que consiste o estado de uma mente louca. A loucura também pode gerar outro modo de se encarar as controvérsias do mundo entregue aos seres infantis e imaturos que nunca estão saciados de suas vontades. Liberdade de agir e pensar vêm junto com os delírios dos loucos, não está presa a nenhuma concepção ou domínio de nada, sem a necessidade de estar na disciplina da ordem do poder superior. Tudo isto é gerado a bem da verdade porque no final das contas gastas pelo excesso de tempo, a loucura acaba triunfando sobre o restante, pois é dela que emana a sabedoria.

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