Ensaios

Crônicas de George

Poesia

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Peculiaridades



Era incerta sua situação, ao mesmo tempo em que os efeitos da própria relação que tentava construir lhe davam mais certeza de suas vontades. Abarcado nesta contradição, vivia então com os pensamentos da sua rotina sendo desviadas pela lembrança dos olhares dela, tão profundos, suaves e tímidos quanto folhas caindo aos ventos de outono.  Usava as lembranças como uma sensacional fuga de suas pequenas crises diárias, amenizando os infortúnios das cobranças que o viver exigia.

Ia percebendo as peculiaridades a cada palavra trocada, na agradável sensação de ouvir aqueles risos frouxos. Contemplava detalhadamente estas risadas, sua dose exata da poção curativa contra os venenosos marasmos mortais que geralmente tornavam seu tempo perdido. De certa maneira, estas sensações recém-adquiridas causava um conforto muito esclarecedor. Por certo tinha seus receios, medos e aflições que faziam predispor-se a tomar todos os tipos de resguardos possíveis, protegendo as muradas de sua muralha, mas estava aberto a inserir uma brecha para ela dentro de seus muros e acolhe-la em sua fortaleza, molda-la a suas indescritíveis vontades.

Perguntava se conseguiria desvendar os anseios que a acometiam, de forma em que conseguisse uma maneira de aplacar os temores do desconhecido mundo ao qual estava adentrando, desbravando certas emoções que ela pouco sentiu ou talvez nunca tenha tido. Pegava-se então tentando responder estas perguntas, como poderia fazer nascer um sentimento reciprocamente forte e protetor, ao quais ambos encontrassem um devido e adequado refugio a suas tormentas, formando entre eles um elo resistente aos amargos desconfortos, que tanto os perturbavam e por vezes rusgas de velhas cicatrizes.

Conclui a partir disso a realidade dos fins desta tentativa, pendurada por um fio de esperança em concretizar por gestos subentendidos, obter vida para certo amor, não destes tolos errantes que pairavam por ai, que terminavam por extinguir-se na própria chama, consumindo-se rapidamente em si, terminando de maneira espontânea, ao descontrole das vontades. Planejou então construir este em bases sólidas, alicerces duradouros e resistentes aos temores, para ambos aliviarem as chagas destemperadas de passado, presente e futuro.

Seguiu assim, absorvido nestas ideias, pensando em bota-las em prática o mais breve possível, já tinha esperado tempo demais gastos em amenidades tolas. Algo nela recobrou os sentidos do seu velho eu que a muito achou ter perdido em um distante dia, quando vieram cobrar-lhe o tributo da chamada maturidade, e levaram de suas entranhas os sentidos de confiança e solidariedade. Acima de tudo, ela o fez recobrar suas próprias virtudes e fortunas.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Autômato

Muito do que buscava era apenas uma espécie de fuga da automatização e os contornos robotizados, que seus passos de humanidade acabavam se metamorfoseando sistematicamente num cotidiano determinado por produções em série repetitivas, de fadiga nauseada. Vivia apenas por alimentar um ciclo entediante de processos já previstos, ações estas que minavam sua criatividade e aspirações, até mesmo seu ócio fora alterado, tinha sido tomado vorazmente por uma súbita inquietude.Em suma, era o reflexo de um ser criado para alimentar algo a princípio invisível, mas descomunalmente opressor.

Perambulava rotineiramente com suas ações pré-fabricadas em atos, falsas encenações de uma vida seca, ponderada por vastas reprimendas das suas emoções e pensamentos com os quais almejava construir algo, embora inconcretos  retocado por certas confusões de ego, esta vontade partia dele mesmo, não era um plano externo. Vislumbrava uma obra sua, a idealização plena da sua arte explanada ponto a ponto e rebuscadas com traços firmes, fortes e intensos.

Queria mesmo ser o gerador das causas intrinsecamente ditas, feitas e concebidas por ideais que independessem de planejamentos de determinados grupos ou forças, regulamentadas a partir de normas, convencionadas como corretas ou puras. Tentava romper com os grilhões com os quais se sentia sufocado, almejava cada vez mais intensamente os meios com que poderia por fim a estes açoites de seus sonhos. Dar um basta conclusivo nas perversidades infligidas por tormentas repressivas.

Por fim, foi permitindo aliviar-se das armadilhas com que o tédio e a nauseante rotina automática ao qual estava submetido. Obteve aos poucos lições absorvidas em um tempo-espaço diferenciados. Teve uma experiência singular ao ter se divertido para além das origens das coisas, ao ser tocado por um leve tom de dadiva divina, pode por si só esboçar um largo e estridente riso de espontâneo alívio de apaziguamento.

Voltou a andar novamente, revigorado por presenciar nas criações do caos, a real ordem desordenada dos fatos, fora aplacado das amenidades, enfim, tinha voltado ao seu estado natural de humanidade.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Na Origem Das Coisas



Tinha se cansado fartamente dos fins para que ainda mantinha algum vislumbre de melhora em sua fatídica situação. Perdera qualquer motivação e vontade para crer em algo novo, a repetição de situações desgostosas acumulava-se aos montes, e aos poucos a sua bola de neve de tormentas ia tornando-se uma avalanche voraz engolindo por inteiro suas fracas capacidades de reação, aprisionando-se em suas divagações que tanto o feriam mortalmente. Já não sabia realmente a definição de ego ou de autopreservação, foi privado dos instintos de defesa de si mesmo, expôs-se a execração publica após devanear sobre seus perigosos sonhos, estes eram temíveis para certos senhores de si.

Ficava então por ai, questionando seus próprios motivos por ainda persistir em certas jornadas desastradas, todas sempre tendiam a terminar no mesmo trágico fim, sendo ele designado a encenar o papel de cristo neste enredo tragicômico. Ocasionalmente pensava estar apenas desempenhando seu papel destinado a empenhar eternamente, o de cordeiro sendo oferecido ao sacrifico, tentavam convencer que seu sangue e suas chagas seriam um custo para o bem maior, oras, o que seria mais heroico do que privar-se de sua paz e emoções para aplacar o sofrimento e os infortúnios de outro semelhante? Embora isto já o deixasse farto, viver a mesma história apenas trocando nomes aqui e acolá, adaptações a cenários e ambientes, no fim das contas isto só o nauseava ainda mais.

A farsa cotidiana ia dando contornos vivos dos pobres causos, escapando entre seus dedos as possibilidades de alguma vivencia que contemplasse ao menos uma parte das suas aspirações e metas. Imaginava e formulava as mais tresloucadas teorias sobre meios com os quais pudesse reverter e mudar o repetitivo ciclo de fracassos colossais a cada nova jornada em que se aventurava. Nada mais motivador do espirito humano do que ares desconhecidos ou caminhos ainda a serem desbravados e percorridos, a cada inesperado empreendimento ele ignorava as possibilidades do fracasso ou das forças contrárias a ele, era um tolo sonhador, o ingênuo crente naquilo que se pressupõem e designam como amor.

Muitos o tomavam por um transtornado excêntrico, apenas algo com o que ouvir alguma história mirabolante, dar algumas risadas e deixa-lo ali, na sarjeta murmurando verdades para aqueles que jamais compreenderam seus motivos e ideias. Praguejava sobre suas causas perdidas, destilando com eloquência os motivos de sua insanidade, na retórica impecável que lhe era peculiar ia demonstrando as causas da derrocada de outrora edificantes paixões as quais repetitivamente se metamorfoseavam em negros amores. A velha receita cronológica de erros, incapacidades, culpa e condenação por erros que jamais cometera entrava novamente na ribalta.

Ao fim de tudo, era a sua crença em um encerramento diferente a cada nova jornada que o diferenciava do todo, era à exceção da regra, a fuga deste senso comum redundante alastrado como praga pela maioria dos seus semelhantes. Mantinha então esta confiança, que sobre todos estes descasos, algo o acabaria lhe dando uma grata surpresa, traria para si e encontraria um olhar peculiar que convergiria com suas concepções de ideal, em que o levaria para a diversão infantil na origem de todas as coisas, sejam elas ditas, feitas passadas ou que ainda serão criadas nestes vãos de nascimento.

domingo, 21 de abril de 2013

Sábio Taciturno



Vivia relativizando tudo, sempre expondo os poréns de qualquer pensamento e suas exceções, buscava em cada uma delas outros pontos de vista para compreender os motivos que por ventura acabaram levando outros a agirem de forma antagônica a sua. Embora ele mesmo agisse fugindo do senso comum na maior parte do tempo, lhe causava uma boa dose de espanto e surpresa quando percebia que os outros acabavam se enveredando pela mesma rota que ele costumava seguir, encontrar outros caminhantes errantes por estas estradas desertas as quais usava como rota de fuga de certas rotinas ou de situações digamos, normais, ainda era um momento de rara ocasião.

Ia percebendo certas semelhanças entre ele e estes andarilhos que encontrava pelo caminho, singularidades acabando por fugir a regra, certos aspectos singulares de ter algo encrustado na alma. Escapando destas mesmices moribundas do que taxavam por “normal” ou até digamos ser o “correto” no modo de viver, ver, e sentir as coisas, eram estes passos específicos e o traçado com o qual ele e estes andarilhos tinham como sentido ao norte individual de cada um era o que os unia em determinadas jornadas por perguntas e não por respostas. Conseguir obter as perguntas corretas nas situações precisas tende a ser um fardo muito mais pesado de se lidar do que alcançar respostas, pois em certa medida, respostas podem se tornar dúbias e vazias, voltando à estaca do nauseante senso comum.

Seguia então ao lado destes andarilhos, compartilhando vagas ideias, concepções e formulações para a verdadeira pergunta ao qual deveriam fazer a si e não a outrem, achava que expondo e coletivizando suas acepções e teorias com estes companheiros momentâneos da via conseguiria arrebatar algum destes para a sua própria causa. Reconfortava-se em saber que sua espécie não estava extinguindo-se, parecia que apesar de ainda serem poucos os seres que andavam pelos mesmos trilhos, graças ao dom da comunicação e do uso da retórica da razão e de épicas justas em busca do justo, seus semelhantes iam surgindo ao longo do percurso. Mesmo que estes, pouco tempo ficassem ao seu lado, as breves situações as quais vivenciavam juntos faziam os detalhes minuciosos desta ocasião únicos e indivisíveis.

Só que novamente, era a uma solidão contemplativa desconfortável, ficando por ali, desoladamente andando em ciclos viciosos e mesmo percebendo as repetições ao qual acabava sendo submetido, exasperava-se. Tinha uma plena consciência da situação em que estava inserido, e isto o atormentava ainda mais, sua lucidez perante aos fatos era uma maldição que o excesso de conhecimento e sabedoria absorvida lhe causava, e por vezes via-se desejando ardorosamente alienação e ignorância em diversos aspectos, chegando a imaginar que talvez esta fosse uma dadiva dada aos imbecis, um presente concedido pelos deuses para amenizar a falta de senso critico.

Seguia então novamente rumo ao norte especificado em sua bussola pessoal, aquilo em que seu cerne concentrava o que tinha de mais puro. Parecia que finalmente, a passos lentos e inconsistentes é verdade, estava conseguindo fazer-se entender as vistas alheias, e os fazendo ver a sua causa como necessária e fundamental não só para ele, mas para o que estava compreendido e inserido no seu mundo, que mesmo sendo único e diferenciado, acabava por fazer inúmeras intersecções com variadas dimensões alheias. Marcava assim seus passos o sábio taciturno, e ia por estes rascunhando sobre peculiares amores, fraternas amizades, na excêntrica ideia de ainda não ter almejado a pergunta exata a ser descrita.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Outras Sagas


Nada de suas arremetidas cotidianas surtia efeito aparente. Ocupava grande parte dos seus próprios pensamentos com buscas incessantes por explicações ou desculpas para falhas que nem mesmo ele sabia quais eram e por que ao final das contas tinham se tornado tão profundas, e convergido após um tempo ocultadas. Ter vindo a tona de um modo tão inaplacável roubando o pouco que lhe restava de esperanças ao que tinha sonhado como modelo perfeito de uma singular pessoa, determinando suas ações em uma espécie de desventura errante em busca do acaso perfeito, destas coincidências inenarráveis ocorridas no tempo e no espaço estranhamente sincronizados.

Vivia dentro de si desde então, buscando aplacar os infortúnios aos quais tinha se submetido, não por capricho ou teimosia, mas apenas por ter firmado um vinculo com tamanha intensidade o objeto do seu verbo direto de retórica possessiva, una e indivisível. Remontava e refazia cada momento perpassado por ele e o seu amado “elo” perdido, tentando achar formas de contornar muros aos quais tinham erguido a sua volta, ocultando-lhe as vistas de um destino melhor e um tanto quanto aprazível, algo em que ele pudessem por fim creditar alguma esperança, embora isto lhe causasse alguns transtornos peculiares como uma aparente cegueira sobre o espírito humano.

Bastante desgastado com os contornos que os acontecimentos acabaram tendo, enfim tinha se fatigado com sua própria desolada situação. Acometeu-se de um marasmo melancólico pincelado em toques abrangentes de certa ironia, naturalmente rasteiras e secas, obviamente explicadas pelo abismo ao qual tinha se jogado desde que abriu a caixa de pandora de seus medos, erros, temores, dando vida aos pesadelos de seu mundo interno de sombras e obtusas sensações. De fato, realmente gostaria de negar o que ela afinal lhe havia negado, custava a ele um pesado fardo aceitar que tudo tinha se esfarelado por entre seus dedos e virado palavras ao vento.

Restava-lhe então empreender-se em uma nova jornada, vagar por caminhos diferentes dos quais havia traçado antes do derradeiro fim torpe em que discorreu os acontecimentos recém-terminados e enterrados. Claro que agora estaria vacinado nas peças que lhe podiam pregar com juras vazias ou olhares cinicamente lançados sobre si, embora isso pudesse lhe trazer demasiada desconfiança sobre tudo o que lhe rodeava, esta era uma forma melhor dentre as piores, de lidar com as somas de desvios de caráter dos outros e dele mesmo. Com isso, evitava se perder novamente em ilusões venenosas ou em verdades corrosivas.

E assim sendo, a cada dia do resto de sua singular vida, foi tentando sintetizar doses de uma cômica loucura com pedaços de uma séria lucidez. Suas respostas ao que passou eram, apesar de espinhosas, sinceras razões para tentar-se aperfeiçoar em meio a um caos estabelecido. Em certa medida remontou um paradoxo, afinal, conseguiu dentro do caos uma certa ordem e equilíbrio em que percebeu as nuances detalhadas do que realmente sentia. Tencionava a crer que a roda da fortuna começou a andar novamente, embora pro vezes passando por cima de buracos abertos pelo caminho, novos afetos e outros inacabáveis amores ainda suspensos o imergiriam em outras sagas.

domingo, 14 de abril de 2013

O Monstro Interno



Ultimamente venho tendo os pensamentos consumidos pelos mais variados questionamentos, sejam eles rasos ou profundamente densos. Um em especial tem de certa forma, ocupado fortemente meu tempo maquinando esboços e teorias sobre o mesmo: a contradição demasiadamente humana sobre o conflituoso embate sobre a nossa conduta entre discurso x ação, a eterna busca em conciliar da melhor forma possível ambos sem que sejamos hipócritas ou juízes sem nenhum juízo moral, permitindo-me abusar da retórica redundante.

É extremamente fácil e belo ter um discurso completamente ideal, praticamente um sonho idílico construído nos alicerces do mais seguro e belo mármore grego, estando este discurso alinhado perfeitamente com a ética e nossos direitos universais de liberdade, igualdade e fraternidade, tão recorrentes em nosso tempo aos qual a sociedade moderna assentou toda sua teia social e difundiu em normas de lei. A plena liberdade do individuo é citada amplamente e defendida a plenos pulmões, mas enquanto no campo da teoria o avanço foi e é pujante, progressista e visceral, quando chega aos momentos de trazer as questões para a realidade e aplica-los agindo de uma forma na qual possa ser levada adiante, torna-se evidente como acaba empacando este agir.

Com um discurso claro, preciso e direto, vamo-nos armando com a mais bela das retóricas que a principio criamos num forte senso critico para avaliar o todo. É muito bom e necessário termos um senso critico embasado e alinhado com nossa filosofia e pensamento, entretanto geralmente acabamos por nos enveredar pelo mundo da hipocrisia regulatória. A velha ideia presente na frase “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” toma força e reacende as maiores contradições latentes dentro de cada cérebro humano, perdendo-se a noção do maleficio que causamos ao ambiente ao qual estamos inseridos e com isso o clássico efeito borboleta torna-se uma cruel verdade.

Resta então buscar-se amenizar estas mazelas da contradição, fazer exercícios e reflexões sobre nossos atos e o quanto os mesmos estão desconfigurados com nosso modo de pensar e enxergar a vida. Obviamente isto é um processo complicado, pois nos força a aprendizados diários e esforços sobre nosso individualismo que está incrustado subconscientemente no pensamento humano, presente em nossa educação, concepção de mundo e vontades, ou seja, ter um domínio de si mesmo e dos impulsos mesquinhos leva tempo, uma evolução que apesar de seu custo, é essencial para assentar uma mudança definitiva.

Encarar e botar em pratica nosso discurso e imergir ele na realidade é uma tarefa árdua para qualquer ser com uma mínima lucidez e racionalidade, evitando assim definhar-se em frustrações consigo mesmo. Por isso me lembro de um pensamento ao qual me expuseram, estamos divididos em 3 divisões de preconceituosos: o que é preconceituoso e não tem consciência disso, o que é preconceituoso e tem noção mas não tenta mudar pois isso lhe convém de algum modo, e o que sabe dos seus próprios preconceitos e luta contra eles, policiando-se e evitando ao máximo reproduzir isso na pratica da realidade.

De fato, o maior monstro que devemos lutar e derrotar carregamos conosco, enraizado dentro de nosso ser, e a capacidade de vencê-lo é uma tarefa pessoal ao qual é vital para elevar-se a um estágio de vida mais digno.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Lendas Modernas



“Perdurava a asfixia, por mais que tentasse desvencilhar-se, a velha sensação o perseguia, marcava os passos por onde cambaleava, travando qualquer modo ou meio pelos quais agia. Seus parcos passos faziam uma rota de senso comum, acabando por vagar errantemente em círculos, deveras viciosos, numa espécie de trama obscura alienada de qualquer pensamento reconfortante, levando-o a uma carreira inabalada imerso em seu caos particular aos leves traços de cruel insanidade.

Então a vontade voraz de vaguear sem nenhum caminho determinado ou traçado em planos conjecturados por uma ansiedade dos momentos, de passados do pretérito ad eternum imperfeitos e intransigentes, foi o conduzindo a aparentes convulsões de seu cerne central. Ficava se perguntando a por que cargas d’agua era acometido de opulenta sensação, ia verificando até certos traços de lucidez nesse indecoroso processo de autodestruição ao qual se submetia pela própria incapacidade de buscar a solução final pessoal.

Rebuscava pelos cantos planos e metas para fugir da inércia do caos em que se tinha acorrentado, nos moldes fabricados por obra de seu próprio trabalho inconclusivo e disforme. Em certos momentos ocultava sua parcela de culpa e incutia em fatores (ou agentes) externos a causa de suas enfermidades calamitosas. Fazia um julgamento das ações alheias contraditoriamente, afinal, no caso explanado era o cumplice mais do que envolvido na situação, provável que fosse o mandante deste crime sórdido, e olhando por este viés friamente racional, teria sido então enquadrado nas leis humanas por ato indecoroso contra a própria vida.

Foi enfim tornando-se evidente a raiz deste estrangulamento da sua vitalidade: era a ausência do que tinham cravado em si. Após tomar posse do seu ser incompleto completamente, ela subitamente levantou-se e foi buscar outras verdes campinas para rapinagens furtivas, deixando atrás de si e dentro dele um rastro do saque e do assalto aos cofres mais ocultos, em certa medida as muralhas do velho castelo outrora imponente, foram devastadas pelas hordas do barbarismo indiferente, ardendo nas torres de efervescente desolação.

E pelas ruinas da muralha assentou seus novos velhos domínios. Com certeza não fazia ideia de como iria reconstruir-se novamente ou com que meios usufruiria ou em quem poderia encarregar-se de requisitar auxilio. Deu-se conta ao final das maiores ninharias ou meros detalhes, em que todos os equívocos aos quais provocou e tinha sido provocado, Nada mais eram que uma espécie de sua própria via crucies na busca por uma semi-utopia, pois no fundo de suas crenças, mantinha uma fé cega por certas lendas modernas, como a fraternidade sincera e o amor.”