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Crônicas de George

Poesia

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Outras Sagas


Nada de suas arremetidas cotidianas surtia efeito aparente. Ocupava grande parte dos seus próprios pensamentos com buscas incessantes por explicações ou desculpas para falhas que nem mesmo ele sabia quais eram e por que ao final das contas tinham se tornado tão profundas, e convergido após um tempo ocultadas. Ter vindo a tona de um modo tão inaplacável roubando o pouco que lhe restava de esperanças ao que tinha sonhado como modelo perfeito de uma singular pessoa, determinando suas ações em uma espécie de desventura errante em busca do acaso perfeito, destas coincidências inenarráveis ocorridas no tempo e no espaço estranhamente sincronizados.

Vivia dentro de si desde então, buscando aplacar os infortúnios aos quais tinha se submetido, não por capricho ou teimosia, mas apenas por ter firmado um vinculo com tamanha intensidade o objeto do seu verbo direto de retórica possessiva, una e indivisível. Remontava e refazia cada momento perpassado por ele e o seu amado “elo” perdido, tentando achar formas de contornar muros aos quais tinham erguido a sua volta, ocultando-lhe as vistas de um destino melhor e um tanto quanto aprazível, algo em que ele pudessem por fim creditar alguma esperança, embora isto lhe causasse alguns transtornos peculiares como uma aparente cegueira sobre o espírito humano.

Bastante desgastado com os contornos que os acontecimentos acabaram tendo, enfim tinha se fatigado com sua própria desolada situação. Acometeu-se de um marasmo melancólico pincelado em toques abrangentes de certa ironia, naturalmente rasteiras e secas, obviamente explicadas pelo abismo ao qual tinha se jogado desde que abriu a caixa de pandora de seus medos, erros, temores, dando vida aos pesadelos de seu mundo interno de sombras e obtusas sensações. De fato, realmente gostaria de negar o que ela afinal lhe havia negado, custava a ele um pesado fardo aceitar que tudo tinha se esfarelado por entre seus dedos e virado palavras ao vento.

Restava-lhe então empreender-se em uma nova jornada, vagar por caminhos diferentes dos quais havia traçado antes do derradeiro fim torpe em que discorreu os acontecimentos recém-terminados e enterrados. Claro que agora estaria vacinado nas peças que lhe podiam pregar com juras vazias ou olhares cinicamente lançados sobre si, embora isso pudesse lhe trazer demasiada desconfiança sobre tudo o que lhe rodeava, esta era uma forma melhor dentre as piores, de lidar com as somas de desvios de caráter dos outros e dele mesmo. Com isso, evitava se perder novamente em ilusões venenosas ou em verdades corrosivas.

E assim sendo, a cada dia do resto de sua singular vida, foi tentando sintetizar doses de uma cômica loucura com pedaços de uma séria lucidez. Suas respostas ao que passou eram, apesar de espinhosas, sinceras razões para tentar-se aperfeiçoar em meio a um caos estabelecido. Em certa medida remontou um paradoxo, afinal, conseguiu dentro do caos uma certa ordem e equilíbrio em que percebeu as nuances detalhadas do que realmente sentia. Tencionava a crer que a roda da fortuna começou a andar novamente, embora pro vezes passando por cima de buracos abertos pelo caminho, novos afetos e outros inacabáveis amores ainda suspensos o imergiriam em outras sagas.

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