Ensaios

Crônicas de George

Poesia

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O Elo (Humanamente) Perdido



“Quando teve noção do tortuoso aprendizado devido a uma crise das mais evidentes, foi tentando em vão, retomar as rédeas das coisas. Aos poucos começou a perceber um arrastar nas coisas, uma lentidão presente nas singelas miudezas mundanas referentes ao dias que persistiam em se tornar murrinhas e entediantes, embora a perspectiva de melhora fosse evidente, algo o atormentava e subconsciente, lhe torturava as ideias com obscuros pensamentos, desconfiando do horizonte vigente.

Sob certo véu sorrateiro de disfarçada calma, internamente estava irrequieto e extremamente incomodado. Algo havia mudado em seu ambiente, no seu cerne, na sua raiz mais profunda e encravada em seu amago, o que lhe fez evoluir de certa forma sua tolerância para com tudo ao redor, e embora neste aspecto possa se considerar algo de reciclável, no processo que acabou por ter que digerir de uma forma um tanto quanto confusa e sofrível. Só que a sensação torpe que assimilava teimava em atormentá-lo, em estocadas de pontas de lança envoltas num envenenar da alma.

E então a verdade veio para lhe esmurrar a face com beligerantes golpes acachapantes, cheios de uma certeza real, crua e cruel: por seu medo e fraqueza, acabou sendo tomado como um pária. Discretamente, o afastamento de certos vínculos que tinha estabelecido com os que estavam a sua volta até então foi perdendo a força, este laço foi se rompendo lentamente, a conta gotas, disfarçado pela rotina densa das ocupações diárias de cada. Uma sincera desculpa, mas isso ocultava a realidade dos fatos de que ele era taxado como um apêndice para o restante .

Agora lhe sobrava o julgo ao qual lhe tinham forçado a encarnar, um manto ao qual o obrigaram a vestir, impuseram-lhe algo corriqueiramente torpe: virou um estimado, porem estranho e singularmente, Elo (de humanidade desumanamente) perdido. Notava os olhares ocultos que lhe lançavam, ora de pena, em outros momentos de analise de suas condições, mas sempre eles traziam em si algo de julgamento e reprimenda. Estava claro que seu tributo a pagar seria o de ser alguém para se escutar, mas jamais acalentar.

Nada de proximidade, reconforto ou afeto, lhe negaram cada demonstração sincera de proximidade. Aos olhos alheios, era temeroso aproximar-se de um ser tão jocoso e instável, e tal como um leproso do século XIX, era necessário isola-lo de contato para evitar o contagio da insanidade ao qual se dizia, ele exalava aos quatro ventos. Só que nada deixava este elo perdido mais instável, do que o tratamento que lhe dispensavam. Nada de dor, amor ou ardor, somente o ar indiferente.”

Um comentário: