Ensaios

Crônicas de George

Poesia

domingo, 31 de março de 2013

Insanos



“Ficou ali maquinando o sentido daquela ausência colossal que tomava conta de si torridamente, sem saber como arrefecer de algum modo ou maneira a sensação. Pensava mil maneiras de preencher este espaço com algo por definitivo, embora não tivesse a mínima ideia de obter sucesso nesta empreitada, foi arquitetando planos, estratégias e táticas diversas para obter respostas, encher as lacunas com algum enxerto adequado. No fundo, o que ele mais almejava e buscou ao final das contas, foi um norte para sua concepção de mundo.

Perdeu tudo aquilo que prezava como sentido tendo seus pensamentos desmanchados em pranto ardente, sob o peso tremendo do desfecho protagonizado pelo ser ao qual depositava toda sua leal devoção. Enfim chegou sua dose de realidade quando compreendeu que aquele ciclo de êxtase havia chegado ao seu fim, se dissolvendo em amargas lembranças sob o resguardo suave das memórias precisas, detalhadas nos escritos feitos em palavras de juras insatisfeitas e de promessas levianas, tudo que lhe foi dito eram negras blasfêmias, causando o corrompimento de toda sua crença no viver.

E então se pôs a divagar sobre o desenrolar dos acontecimentos, foi tentar uma compreensão dos fatos, e acima de tudo, do que ela teria dito sentido e feito, gerando os derradores efeitos sob as peças do maquinário amoroso, já que surtiu um explosivo surto melancólico de arrependimento e rancor sobre si, pensou que jamaisentenderia estes fatos, como o sentimento tornou-se a gangrena com que teve o costume de conviver ao passar dos dias e tempos em tempos, fazia a sangria diária, na dose exata de uma torturante fusão de arrependimento, saudosamente um psicótico amor.

Mas o que ele realmente procurava nestas respostas, na conclusão destes truncados questionamentos e anseios sobre suas aflitas duvidas era o ponto chave. Ele realmente estava disposto ao enfrentamento de choque, tratar toda a situação da forma mais pesada e densa, reviver toda a intensidade dos momentos. Por mais desgastante que fosse, ele necessitava tratar o que sentia com voracidade leonina, mesmo que isso lhe custasse ao final das contas, perder a sanidade num determinado ponto, pois teria que processar uma boa dose de loucura, aprofundar-se na esquizofrenia  e soltar seu louco na maluquice que a mera lembrança dos traços dela o fazia sentir.

Enfim, quando seu surto passou, tomou conta de que nisso tudo, o que fazia sentido ligando os pontos do enredo, é que nada fazia sentido e nisso residia os motivos de tudo ter se tornado singularmente único e inenarrável. A loucura divina da história era o que fez valer a pena, percebeu depois de tanto se desgastar, fritando os pensamentos absorto em remoer estes fatos. Foi então ao encontro dela, explicar o quanto de gratidão lhe devia, pois ao tirar sua sanidade, tornou o encontro deles mitológico, fez-se a legenda posterior para outras gerações.”

quinta-feira, 28 de março de 2013

Uma História Destas



Ainda se encontrava lá, entravado nas próprias divagações tortas e sem sentido. A esmo tentava buscar a compreensão para sua própria tormenta, pois nada arrefecia sua inquietação, muito menos conseguia conforma-lo sobre o porquê de toda esta chaga ter se aberto em seu dorso, com a profundidade das intermináveis abominações de sua instável mente, adentrando em campos de martírio. Buscando algo perdido em certo ponto, por razões indistintas e alheias a suas vontades e desejos, ao todo vai se tornando um escravo do senhor do sofrimento.

Nada aparentava conforta-lo, absorvido intensamente na sensação amarga de estar preso a sentimentos obtusos, sem nenhum sentido ou razão para crer na plena idealização de um ser, que efetivamente apenas foi existindo em seus pensamentos idílicos. Tentou concretizar a materialização de sua mais duradoura utopia, em que está acorrentado aos pesados grilhões, nas toneladas de emoções entrelaçadas nos vãos ainda abertos no seu peito, castigado por intempestivas guerras e ingênuas causas perdidas, na crença sobre o apaziguamento eterno e  sua realização na dimensão exata ao qual sempre lutou e acreditou piamente.

Ele Tornou-se refém da duvida, marcando as ações de maneira diversa e de medidas extremas dentro de si. Confusão tomou conta inteiramente do cotidiano, nada mais bastava ou conseguia contenta-lo, tudo se tornou desgostoso, sem um sentido norteador, a bussola que determinava o caminho acabou se partindo em meio aos choques da realidade. Ela se foi com tudo aquilo que de fato a principio importava para ele: a vivacidade, o olhar penetrante, o conforto de seus braços, o calor de suas profusas palavras. A sua partida foi o grande determinante, exaurindo dele toda a vontade de simplesmente abrir os olhos após o sono, em que os sonhos transformaram-se melancolicamente nas estocadas de agulha na alma quando traduzidos para a realidade.

Então nada mais o acometia, nem mesmo o mais frouxo riso, o sistema todo entrou em declínio, na decadência evidente no seu estado aos olhos vistos. Em seu velho conto a tragédia de Shakespeare poderia fazer sentido, embora Freud não explicasse seus atos e conduta , toda sua revolta e tormento seria a grandiosa obra de Kafka que jamais fora terminada, sequer mesmo escrita, seus amores foram perdidos ao vento quando saíram dos lábios dela, a maquiavélica ilusão brotada de uma falsa promessa, embalada na caixa de pandora do veneno que gotejava e esvaia sua vitalidade aos poucos.

Eis que então ele se encontra agora ali, na deformidade da indiferença dos passos alheios, lhe restou apenas agora, observar os momentos e nuances dos dias. É fácil encontra-lo ainda por ai, analisando minuciosamente cada ida e vinda, numa disfarçada ansiedade, aguardando outra chegar para enfim, abordar e por fim na dormência que está inserido ferozmente. Embora a principio possa parecer uma besta ingenuidade de sua parte, ele aguarda esta outra, em meio a sensações de velhos medos, questões repetidas e novos ardores.

sábado, 23 de março de 2013

Invariável



As voltas com assuntos desgostosos em todos os aspectos desmembrados por meu cérebro irrequieto, buscando termos e condições para recompor em partes meu quebra-cabeça do mundo das ideias, e conecta-lo sem mais delongas e tormentas ao mundo das sombras tranquilas, no mar de sentimentos precisos e claramente compostos de uma aura radiante, em que toda a gama de esperança floresça, acabando por tomar a forma dos idílicos devaneios de um ser desassossegado, ao passo que nem mesmo este sabe o motivo da sua própria inquietude dentro de si.

Espasmos da memória são vultos do passado que por vezes se apresentam como assombrações no presente, num processo incomodo de assimilar os erros cometidos e toma-los como lição para cada passo dado. O aprendizado não é algo suave e doce, é reviver amargas sensações, momentos aterradores do viver, em uma espécie de autoflagelo, como pena da culpa de faltas e crimes cometidos nas aguas passadas e perpassadas pelo moinho, estas que por vezes são tão sujas e contaminadas que seu uso é em certa medida, um veneno para a alma.

Por causas e termos vistos, revistos e assumidos, atrelo-me a elos de correntes em que os pensamentos precisos se enredam a concepções insanas, na mortífera ideia de voltar com um velho plano gasto e fadadas ao fracasso, batendo na mesma tecla, dando o gasto acorde do desafinado tom da via, na falsa ideia de estar retomando outro caminho, um novo momento. Entretanto isto não passa apenas de uma tentativa fúnebre da reforma de algo sem condições de estar em pé, pois o alicerce está invariavelmente condenado.

Neste terreno acidentado e íngreme, a fertilidade em variáveis de inúmeras respostas ao mesmo questionamento é gritante, mas a escolha em qualquer destas vai se tornando a decisão de depositar todos os créditos em uma nova epopeia, sem previsão exata de concretização dos desenhos almejados, novamente insere-se velhos novos amores e os já conhecidos espasmos de duvidas dos riscos assumidos ao adentrar no coliseu do mais instável e perigoso dos jogos.

Apenas se vive, a outra história foi escrita em meio a outro contexto, foi delineada a partir de outro enredo, enraizada noutro ponto de vista em que se mediu de diversas formas e pesou-se sua importância no devido tempo em que se desenrolou cada acontecimento. Perspectivamente foi sendo o pedaço desenhado em um papel já usado, mas que vai se reciclando continuamente, para conceber aos poucos porque não, num estável processo de pacificação e limpeza do próprio ambiente.

terça-feira, 19 de março de 2013

Esvaindo



Tudo se esvai em pedaços de lembranças, tal qual é os traços da sua face, que me vem à mente quando fecho meus olhos cansados. Quando minha vista se encerra no mundo do sono, acabo por vislumbrar aquele olhar profundo, analisador, intenso, e ele vai ardendo quimericamente, reavivando alegrias ocultas sobre a minha carapaça de guerra, que embora enferrujada e gasta, foi meu abrigo contra os destemperos clássicos deste mundo de bestas humanas e humanas bestas.

Porque seu rosto é presença constante em meus sonhos é uma questão que me aflige feito um ferimento que gangrena frente à vista de todos. Vai se tornando a sádica rotina de alguém perdido em meio a causas perdidas e desgostos, inserido em pontos de convergência com inúmeras perguntas de uma única resposta e sentimento. A negação da afirmação destes parece ser uma boa invenção para estancar a sangria da gangrena necrosada que corrói o espirito, tornando os dias mais inquietos, num estranho silencio de desassossego memorável e acachapante.

Em meio a respostas evidentes, a consistência do fato de ter-te povoando a minha nada estável cabeça forma um emaranhado de frustrações dos objetivos mais claros que sempre tive, todas as metas ruíram na minha frente, tive a pior das castrações humanas, a de sonhos. Nas perdas colossais deste caminho percorrido, a crença na razão de uma emoção foi se esvaindo em um nada, uma casca oca quebrando-se para apenas virar palavras ao vento sem norte, rumo ao esquecimento do mundo das indiferenças crassas.

Não se reconstrói o tempo perdido consumado a dilacerações de enfermos amores corrompidos por intrigas internas e conturbações. Criadas a partir de factoides compostas de meias verdades e outra parte de fantasias requentadas por piedade disfarçada de fantasias, nosso enredo é no final das contas, a mais bela mentira que tive o prazer de viver nestes tempos. Entre Todos os Desgostos, nosso sentimento foi o mais vistoso, a coroação plena de um império formado a voltas de dissimuladas promessas.

Apesar dos pesares aqui supracitados, não sou acometido pelo sentimento do remorso que geralmente toma conta neste caso individual amor. Por mais nocivo que aparentemente ele foi, é causador de um milagre do renascimento, da velha, porem experiente e sábia criatividade de florescer outros sentimentos para além do compreendimento racional e previsível. De alguma forma, sou grato por ter me tornado novamente humano, em todos os aspectos falhos e virtuosos.

sábado, 16 de março de 2013

Tragicômico



Por mais que tente mudar os passos, as coisas sempre tendem a se repetir tal como os ponteiros do relógio, apontando sempre sincronizadamente os 12 números indicando os horários morosos do cotidiano. Mudam os personagens, as cores, momentos, ações e reações, mas o enredo se revive sempre, com aspectos singulares em cada caso é verdade, onde os atores de fato encenam brilhantemente seus papéis, em que o meu é claro é sempre o mesmo. Estas Histórias tem o aspecto em comum: as peças da minha tragédia grega.

É claro que tento fugir destas amarras dramáticas, embora pareça que o destino determinou que eu acabasse fazendo o mesmo traçado todas as vezes que reinicio o jogo. Aos meus olhos os determinantes do todo me impedem de vislumbrar algo novo e com um desfecho oposto ao que Shakespeare geralmente encerra suas peças, dando a ele um toque refinadamente violento, pesado e densamente me afligindo e tirando o folego. A completa tragédia humana em sua forma mais latente e plena.

Percebo que vou cometendo as mesmas falhas e faltas crassas, movimentos já realizados que fracassaram na hora H e não surtiram efeito, gerando resultados pífios e graves consequência no desenrolar dos fatos. As lamentações vão se formando a esmo e dos mais diversos tamanhos e magnitude, em uma criação sinfônica de velhos acordes e sons suavemente melancólicos, presas em uma cadeia com grades formadas a partir de remorso e culpa. São sinos que tocam a um som que perfura os tímpanos por vezes, em que nestes sons se expandem e se perdem as ideias e emoções conturbadas cercadas de angustias efêmeras.

Não consigo conceder uma auto absolvição em todas estas peças por mim encenadas, atuadas, dirigidas e concebidas, pois no fim a concepção foi um roteiro criado por mim, com todos os detalhes de uma causa aparentemente sem sentido e perdida desde o seu inicio. Sou meu critico mais voraz e impiedoso, julgando todo o conjunto das minhas obras um tremendo desperdício ,com chorume exalando seu odor fétido pelo chão, atraindo corvos carniceiros que se banqueteiam com os restos de corpos decompostos pelas chagas do rancor.

No final das contas vou acabar por tentar escrever mais uma peça, novamente botando em cena minhas aspirações e criações, buscando fugir das mesmices dos enredos passados e de resultados insatisfatórios. Nestas encenações mundanas, vou ajustando os erros e como em uma guerra de trincheiras, os avanços são lentos, custosos e sofridos nesta guerra interna. A ordem de fato segue sendo a mesma de um comandante teimoso e impaciente: avançar sempre, retroceder jamais.