Ensaios

Crônicas de George

Poesia

domingo, 7 de abril de 2013

Cotidianamente



“E então acordou, para seguir novamente pelos meneios do cotidiano semanal. Sua cabeça ainda latejava e queimava como ferro em brasa, embora isso não era culpa do álcool e sim do excesso da melancólica lucidez que lhe acometeu desde a tenra infância, quando começou a  aprender a arte de ouvir, escutar, ler escrever, tendo assim se armado para conquistar conhecimento. Desta absorção de ideias e no seu trajeto de aprendizado continuo, só não esperava que o choque de concepções se tornasse a mais sublime e nefasta das torturas pessoais.

Era assombrado diariamente por espectros do passado, presente e futuro. Eles vinham cobrar-lhe o preço do saber, do pensar e sentir, prazeres e afazeres que muito lhe confortava em certos momentos, embora na maioria do tempo, seja ele de ócio criativo ou com afazeres que derivavam numa mais-valia para outrem, acarretava num sangrar a conta-gotas sádico de seu cerne interno e atingia vorazmente a raiz das razões de todas suas crises e tormentas, motivo central de seus aflitos questionamentos.

O espectro do saber corrompia e o enredava por completo em inúmeras contradições que lhe tirava por muito a serenidade, transformando-o completamente na maior parte do tempo em um cético, numa variante extrema de senso critico de tudo, de si mesmo e do que vivia ou viveu. Sua destreza em perceber os pontos cegos de quaisquer ideia acabava por fim, tencionando-o a analisar cada peça dos quebra-cabeças expostos em sua mesa pejorativamente, negava para elas o mais singelo e humilde beneficio da duvida, desconfiava das ideias apresentadas como o cordeiro suspeitava do sorriso do lobo.

Por deixar-se sentir as coisas em toda sua plenitude acabava por expor-se demais aos desgostos negros das sensações de perda, culpa e incapacidade numa quimérica decepção. Aprofundava-se em termos nada amistosos na dimensão das emoções e nela parecia apenas conseguir rascunhar pedaços inacabados de históricas idílicas em busca de um bem-querer seu. Porém, a contrapartida para com ele nunca tinha alguma retórica de sucesso, pois empecilhos das mais variadas formas e motivos persistiam em impor suas vontades contra seus projetos, ficando por si apenas resenhas de amores imperfeitos.

Foi saindo então da letargia dos pensamentos de um recém-acordado, dando conta do que afinal das contas deveria fazer frente a estes anseios que lhe tiravam a paciência e a serenidade mundana. Estava decidido a tomar conta das próprias rédeas das ideias que lhe acometiam e ai foi fazendo o mesmo de sempre, tomou uma boa ducha quente, uma xicara de café forte e saiu pela porta de casa, dando conta de que por mais que lhe custasse à tolerância de aguentar-se si mesmo, lhe convirá ao final de tudo alienar-se na rotina malandra disposta a sua nauseante rotina.”

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