Ensaios

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Poesia

domingo, 27 de outubro de 2013

Fissura das palavras ao vento



 Há certos roteiros que parecem ser destinados a um desencontro óbvio entre vontade e realidade. Sem causa alguma vamos seguindo prostrados diante de certas forças maiores, incapacitados diante da própria mediocridade de agir sem ter uma reação eficaz contra desgostos acarretados pelos mais amargos fracassos. Resquícios de falhas sempre se acabam levando, marcas para lembrar-nos permanentemente de erros cortantes e os seus altos custos. A marca é consequência e um alerta as emoções para que sempre ao passarmos a mão sobre aquela áspera cicatriz a memoria nos remeta ao medo de sentimentos violentos e destrutivos.
  
 O comodismo então vai virando regra e ato de sobrevivência para um ser já experimentado na mágoa e no acirramento dos conflitos da alma. Mover-se de um lugar onde por mais entediante que seja este vácuo, a duvida e os riscos de sair desta zona de conforto impede a movimentação em busca de um horizonte muito mais pleno, sem aquela ideia de assumir a suposta mediocridade. É exatamente isto que aflige o sistema e adoece o espírito: ser insuficiente para voltar a suas graças tendo novamente a sensação do amar-te não ser a maior das causas perdidas.
  
 Tento até onde as medidas das minhas forças deixam ser racional ao ponto de incorporar um tom cético sobre qualquer boato que acabem dobrando o cabo da boa esperança. Mas não tenho a capacidade de ser como São Tomé e acreditar somente no que vejo, e então a mera fagulha de noticias me enchem o ser de expectativas radiantes e tão fortes quanto à infinitude universal do tempo, porém o tempo passado deixou na memória a velha marca da desolação em um sentimento corrompido na fissura das palavras ao vento.
  
 Distração deriva pela sincronia entre ausência de algo e a tentativa no momento fracassado, de preencher este vazio do seu espaço em outros fatos. Até agora pareço estar numa viagem sem fim e destino incerto por onde sossegar as preces, saciando minha sede de afeto com intensidade maior do que jamais tive em seus braços. É uma luta sem pausas essa busca por nova conexão e concepção de bem querer, pois no movimento dos ponteiros do relógio tudo indica que cada vez mais a distancia é a via onde se encerra o ciclo de meu indecifrável e relapso ser.
  
 A dificuldade de esquecer tudo e todo o contexto é que são lembranças ardentes de chamas que iluminaram intensamente, mas se consumiram num tempo curto demais. E aqui agora entro para o senso comum presente na literatura e nas artes que vivem retratando causos de amor e outros incômodos: dizer que ele realmente é grande se for triste e saudoso. É fácil perceber que este é o único ponto de convergência entre os escritos, sejam eles prosa ou poesia que para ser amor há a necessidade da dor. Não importa sua origem, causa ou condição, ou que sua construção for reacionária ou revolucionária, no fundo todos aqueles que amam tem um pouco de masoquista em sua essência.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Indiferença leviana



O tempo veio a combinar com meu estado interno para desta forma, denotar as formas nubladas que tomam conta dos pensamentos e emoções.  Sinto como se os ponteiros do relógio estarem subitamente andando lentos neste momento, para que eu fique na tortura de se angustiar no tédio e sofrer remoendo ocorrências de fatos sem volta, com desfechos opostos as minhas vontades. Orgulho e ego fazem uma dupla de vilões e malefícios extremamente eficaz nos seus propósitos de embalar a discórdia e conflitos mesquinhos entre nós humanos, sendo alimentados por sentimentos que outrora eram em sua essência bons, mas o desenrolar dos fatos envenenaram-nos com rancores da culpa.
  
Como em o médico e o monstro, alma e corpo se debatem entre o confronto da sanidade e loucura, do bondoso com o perverso, entre a paz e a guerra. Sinto sentimentos violentos por vezes possuírem minhas ideias, me trazendo temores indescritíveis por ter estes negros pensamentos que não condizem com meu proceder e o modo de encarar as situações conflitantes.  Submetido nestes momentos pelos impulsos da raiva e do egoísmo de orgulho ferido clamando por ação vingativa, tentando justificar estes meios num falso senso de justiça nos atos maliciando crueldades para aliviar cicatrizes da indiferença em que foi jogado.

 É nesta absorção de tantos malefícios a essência do ser, que acabo transformando a indiferença no tumor do amor.  Como um câncer que vai se espalhando até entrar na metástase aniquiladora de um sistema vivo e pulsante, a indiferença desumana espatifa em pedaços sonhos e planos de um viver na plenitude de seus braços suaves, da tórrida sensação de seus lábios aos meus, de um olhar silencioso que compreendia exatamente tudo que guardava a você e de como parecia à união de corpos e o encontro de espíritos se aliviavam na intensidade mutua, formando o impenetrável escudo contra a mesquinharia mundana. Perdi muito mais do que sua presença com esta indiferença, estou sem o alicerce de toda minha raiz de viver, sem teu amor torno-me escravo da desolação.

 Pareço agora ter virado mero espectro do que já fui alguma vez num ideal distante, imagem distorcida num espelho de sensações onde as incertezas fluem junto a magoa e o pesar caminha lado a lado com o arrependimento. Vou padecendo num remorso por ter cometido o maior dos crimes: perdido você por tola falta de tato e atenção com meus modos, agindo sem pensar no pesar, fui à causa concreta e vitima do próprio delito de ter cultivado e nutrido porcamente o maior de seus afetos. Sobra neste instante a busca de anestesiar tamanha ausência nos devaneios de alguma ilusão passageira, sem a esperança aparente de confrontar novamente uma definição de intensidade igual a você.
   
Amargo em meio a tudo isso certa leviandade de causas perdidas, acorrentado ao desassossego ansioso de estar na posição da falta de perspectiva sobre o redor e meus pesados amores desarmados. Fico no fio da navalha com pavorosa conclusão de perceber em o que me metamorfoseei após vazio dos destemperos de sua ausência. Não consigo definir o que resta ou se restou algo, tudo é termo de uma formalidade num mero tratamento polido apenas com fins de educação cordial, ocultando no rodapé exclamações de corrosivos sentimentos consumindo-se no desgosto.

domingo, 20 de outubro de 2013

Para os outros parecer

 Percebi ultimamente diversas facetas do que se está realmente dando valor pelas pessoas em geral. Fui observando como alguns se comportam perante seu meio “social” e de convívio com o semelhante tendem a viver somente a buscar aceitação em suas ações aos olhares de terceiros, esquecendo-se completamente do seu real eu e o ocultando em meio a sorrisos fingidos e uma momentânea sensação de ego massageado ao notar os olhares de contentamento pelo papel que se esta encenando.

De fato é exatamente isso que se está fazendo, apenas encarnando uma ideia e a impressão de ser algo que não se é, puro teatro visando convencer e conseguir inserção no meio de um determinado tipo de pessoas, e na maioria das vezes estas não são seres com os quais conseguimos conviver harmonicamente.
Esse teatro que vamos fazendo perante terceiros vai derivando em diversos erros que aos poucos vamos cometendo conosco e com quem realmente devemos dar atenção. Esquecemo-nos da razão e de certos princípios relativos somente as nossas vontades e ideias, coisas ou maneiras de enxergar a vida referente a mais profunda raiz de cada individuo. Ao tentar ser para os outros o que não somos, vamos envenenando esta nossa raiz lentamente, até esgotar toda vida que dela emanava matando o que somos verdadeiramente.

Outra consequência extremamente pesada é o conflito que vamos criando dentro do psicológico e do emocional, fazendo um enredo complexo e tão bem amarrado que para desatar os nós que nos prendem entre o personagem que criamos e a nossa real essência vão batalhando pela mesma alma e corpo. Nossa verdade interna vai se digladiando e sendo devorada aos poucos pelo que os outros querem que sejamos, não importando o desenrolar do final desse processo doloroso.
  
 Notei também a fragilidade de se manter passivo frente aos problemas dos outros, mesmo que forem uns completos estranhos a você. A sensação de impotência quando me deparo com situações onde se está envolvido principalmente sentimentos e emoções intensas por demais me afeta de tal modo que acabo absorvendo a energia negativa emanada daquele conflito.

 Fiquei me questionando tudo isso por uma sensação que nos oprime a partir do momento que tomamos conhecimento de que somos humanos: O Medo. Ele nos impede de agir, reprime nossos sentimentos, aterroriza a alma e paralisa qualquer reação a vários problemas. Somos forçados assim a fazer varias coisas que não compactuamos nem que é o que nos beneficia e acalenta os afetos.


 Por fim o medo nos faz, graças as mais variadas pressões, darmos muita importância ao materialismo desmerecendo a essência. Estamos condenando e achando as pessoas que sentem as coisas afetivamente de modo intenso como estranhas, desnecessárias e complicadas, quando de fato o verdadeiro problema é evitar as intensidades de bons sentimentos. Tudo anda tão distorcido que quem acaba sendo verdadeiro é punido com a indiferença e afastamento.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sem fim repetitivo

 Nem tudo aquilo que se abre ou acaba ficando disponível torna-se o que realmente queremos, por mais abrangente e de fácil acesso que seja, ele é algo forçoso e um tanto quanto sem vontade. Com isso tento forçar alguma situação, mas não tenho na maioria do tempo, noção para mensurar um proceder neste tipo de situação incomoda e extremamente desconfortável. Certas ações penso para tomar alguma atitude condizente de maneira mais correta sem causar um dano grave, pois ele ocorreu por menor que for, tomando forma e consciência, me restando bolar alguma formula para acabar anestesiando e diminuir este prejuízo.

 São doses dispersas de um momento reflexivo que me insiro por agora, ainda que consista em um incomodo a latejar pela mera menção do que fomos um dia e não seremos mais. Ainda que nas utopias dos meus sonos eles ocorram como sonhos de uma noite de verão, ao despertar tornam-se pesadelos de uma realidade perversa, pontuando as antigas falhas e listando tudo aquilo que não consegui ser, meras ideias perdidas em meio as ilusões de prantos inglórios. Devo estar perdendo o senso da razão em verificar toda vez a antiga página do texto escrito, buscando algum detalhe que esqueci sobre você o que iria se tornar, um aviso de perigo e cuidado desapercebido que poderia estar no rodapé,mas o que acabo encontrando é a mesma história de um sem fim repetitivo.
 
Ainda que pese na consciência ficar remoendo no antigo uma resposta sobre a origem de todo o mal de um presente, vai se avolumando mais e mais a insolubilidade da resposta das questões sobre os embates e ferimentos de um amor decaído. Não me passa desapercebido certas manias que de mim emanam se tornam intoleráveis ao passar do tempo a seus olhos, um tom de certa reprovação naquele gesto discreto que somente eu em outros dias já vencidos conseguia notar. Isso vai matando lentamente um sentimento que já fora de intensa vontade irrequieta,  e agora almeja apenas a quietude de um fim anestésico, sem o sentir de colossal volume.

 Maquinações de pensamento numa cabeça coberta de fertilidade para florescer esperanças ilusórias sobre a infinitude de um sentimento, é assim que defino as ideias sobre nós e essas coisas inexoráveis de afetos humanos de término intragável para um dos lados opostos. Tento parecer algo que não sou, vou retratando personagens não condizentes com meu verdadeiro estado de essência, falseando humores contraditórios em cada situação. Um riso para o pranto, o silencio para o ruido, a calma para a revolta, vou ocultando tanto as transformações internas me levando ao consumo próprio, um definhamento gerado de dentro para fora.

 Uma síntese de diversas sensações por fim acabam convergindo dentro de toda uma estrutura de lamentações: culpa, aflição, distorção de fatos, criações de mundo paralelos, alucinações esquizofrênicas das antigas tormentas. Alguma dose de reanimação das vontades é necessário neste processo de intenso desgaste de dia após dia remontar antigos quadros pintados com opacos contornos, que no final deixam toda a tela em branco novamente, como se revendo os mesmos em uma exposição o que fora feito não acontecera, tendo novamente que seus criadores precisem levar telas novamente ao espaço criativo, a fim de dar novos contornos mais precisos, relacionando os pontos dos afetos corretamente ao espaço.