Ensaios

Crônicas de George

Poesia

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Reflexo contrário

 Absortos dentro de nos mesmos, por problemas e obrigações pertencentes à individualidade nestas idas e vindas do cotidiano repetitivo e entediante, as coisas se tornam o que são e não damos conta de transformações e mudanças derivadas além de nosso regime egocêntrico. É característica moderna essa individualização de toda uma convivência humana, a coletivização dos acontecimentos, sejam eles positivos ou negativos, se tornam cada vez mais raros e acabam parecendo ideia e fato pertencente à outra época, algo que não se encaixa mais no mundo atual e toda sua busca avassaladora pelo prestigio e satisfação individual, deixando de lado o bem estar geral. Estamos agora refém da cultura de maximização do prazer egoísta desacreditando as relações da estabilidade em comum.

 Vivemos nesta crença que estamos por nós mesmos e que nada nem ninguém ira estender ou ocasionar a oportunidade de nos confortar de alguma maneira e aplacar as sensações incomodas que ocupam nossos pensamentos e ideias constantemente. Apagou-se o estimulo a relações de troca positivas e de cooperação em nome de um pressuposto desejo pessoal e interno, ressaltando vernizes de uma vivencia na área somente das aparências. A ditadura da imagem é que rege praticamente todas as nossas ações de rotina e interfere diretamente nos objetivos da vida. Não importa mais a ninguém por principio a forma em como sua pessoa está estruturada em sua essência, o que se preza e tem-se estabelecido como prioridade é refletir um retrato de estética bela, mesmo que esta imagem seja uma ilusão e esconderijo de algo podre e fétido.

 Deixou-se a concepção de ser em essência aquilo que realmente importa para a idealização do ter e de todo uma sensação de posse ser o ideal humano de felicidade. O abandono de todas as relações de afeto sincero e de empatia, no reconforto e prazer mutuo do bem-estar de uma convivência afetiva verdadeira, foi corrompida pela concepção e modos de jogos emocionais. Com traços evidentes de eterna falsidade, já que nestes jogos vamos apenas encenando um papel conivente, dos torpes e mesquinhos objetivos egoístas e fúteis. Seja uma tragédia, aventura, romance, documentário ou relato bem humorado, estamos apenas fingindo algo que não somos e na maioria das vezes, detestando o papel encenado nesta peça do véu das aparências mundanas.

 Uma verdade entre tantas que não queremos (ou não nos deixam) enxergar é modo preconceituoso e estereotipado que temos nas considerações e visões sobre aqueles que vivem e prezam pela intensidade de afetos e sensações. Os taxamos como idealistas ingênuos e ignorantes, alienados da realidade como tolos sonhadores que tem a mente aérea sem conseguir permanecer com os pés na realidade. Mas esse discurso adotado esconde um desejo de tornar tudo àquilo que se condena nos intensos retornarem a acontecer e fazer com que o discurso deles torne-se a norma do senso comum. Ocultado por um discurso pregado em bases de realismo e racionalidade do pensamento, é evidente as veias do recalque que salta aos olhos para aqueles que percebem uma retórica de ódio neste discurso de condenação à intensidade de sentir.

 Talvez não exista um modo pratico e efetivo de solucionar o problema do esquecimento da importância da essência das coisas e do ser em nome da ascensão do ideal de ter, possuir e demonstrar pela aparência. Entretanto se não podemos eliminar o egoísmo das aparências, podemos sim voltar a dar a atenção mínima ao essencial e a intensidade do sentir como algo construtivo e unicamente bom, sem a questão do viés de segundas intenções que a demonstração de uma imagem do ter quer passar a visão alheia. A necessidade do desprendimento em sempre querer impressionar o semelhante fingindo ser reflexo de algo totalmente contrário ao seu ser da forma em que esta estruturada todas suas convicções de pensamentos e emoções, é a alternativa para se começar a mudar, ao menos, as relações pessoais e abstrair dela os desconfortos.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Dizem por ai

Imerso em desconexos ideais 
Fico exposto a anseios fatais 
Tão logo absorto enfim 
Perco a rara sanidade em mim 

Por vãos expostos pelo caminho 
Eis que errantemente prossigo 
Embora nada mais espere 
Apenas que a saudade cesse 

Cravo na alma chagas exposta 
Ao quais princípios se porta 
Numa batalha de tempo incerto 
Sobre amores ternos e eternos 

Dizem por ai que a loucura 
Assolou-me numa hora escura 
Ainda que nisso certa razão tenha 
Sou louco por amar-te apenas

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Entre querer, poder, ser, ter



 Ando vivendo por ironias pregadas nas manias que o destino persiste em jogar dados comigo, com formato e números viciados, com a eterna tendência de causarem a derrota. Sou um veterano nesta brincadeira que só a atração do jogo mais perigoso para os homens proporciona, em medidas pontuais de artimanhas subentendidas por frases mascarando segundas intenções e meras distrações. Apesar de todo este aparato maquiavélico ao qual me aprisionam de tempos em tempos, não resisto as minhas vontades, e acabo  maquiando esta como desejo de uma terceira.

No momento onde o descrédito me assola algo acaba me impelindo novamente a extrair motivos para ter fé ou ponta de esperança num sentimento ou causa, mesmo que ela torne-se mais uma das saudosas e melancólicas causas perdidas. Sou convencido pelas forças de intensidades do sentir que implacavelmente torna-se fato consumado para crescimento e fortalecimento de afetos projetados ou arquitetados por linhas tortas e embaralhadas, porém com consistência e densidade que tendem a infinitude do plano. Mesmo que esteja vacinado e consciente da problemática de ignorar certos avisos sobre os arames-farpados da mureta dos afetos, a ideia de ao menos ter um momento a se lembrar por uma era inteira torna-se tão forte quanto um Titã onipresente.

 É estranho relatar sensação destas pois penso que é algo um tanto quanto sonhador e lúdico, quase inocente em sua essência. Uma via em que ao se percorrer, no entanto, jamais saberemos o seu final se não chegarmos até lá, já que ele nos é ocultado até o final ser o que é na concepção da palavra: o fim, ou término. Sistematizar um caminho ou modo de se operar sobre um futuro ideal pleno de reconforto em braços tão intensos quanto o que se pensa ter, é provavelmente o maior dos porto-seguros a um espírito irrequieto e imperativo graças as ansiosas frustrações de criar utopias antes dos eventos virem a tona.

Parece que as palavras vão fugindo e esvaindo-se em mera retórica do mundo dos sonhos, embora a maior parte do tempo acabo por lidar com pesadelos infestados por temores e aflições. Padeço de um mal por ter lidado tempo demais com indiferença ferina, marcando as mais variadas dores que carrego internamente, fingindo em risos frouxos falsa tranquilidade. Relatando as formas de erros e fantasmas de um passado inerte ou nos receios de um espírito com os fantasmas de pretéritos imperfeitos, almejo por fim ter ciência no que estou adentrando e seus motivos de gerar no ser, esperanças fortes o suficiente para moverem meu corpo estagnado em nova empreitada.

 Meu conflito agora é entre querer, poder, ser, ter e através de inéditas sinceridades mutuas. conquistar todo um novo ambiente. Não é criar fantasia ou se iludir com promessas sem validade, é somente dar a si mesmo o beneficio da duvida e crer na possibilidade que ao menos em um mero momento, fui agraciado ao apetecer alguém por ser o que sou de fato, sem ficar ocultando verdades ou mascarando crueldades. Pelo que parece nisto tudo e de um empurrão de fatores externos num sentido cômico e fraterno, tudo indica que com você sou eu mesmo.

sábado, 2 de novembro de 2013

Duas faces da mesma tonalidade



 Não tenho mais no e em que acreditar. Olho ao redor e nada vejo de diferente ou cativante, apenas a velha e tradicional forma de se tentar traduzir ideias tortas sobre uma dimensão surreal, fora de um contexto material ou até espiritual. Desacreditei em qualquer fé ou crença existente na atualidade num ideal maior que tantos ingênuos almejam, alienados em traços de uma rotina histórica repetida ao longo de diversas eras. Até os invejo por ainda se apegarem a algo de forma tão apaixonada e intensa, pois perdi totalmente essa capacidade nos últimos tempos de buscar numa suposição um sentido ou motivação de vida, mesmo que isto acabe derivando numa ignorância e cegueira para as verdadeiras problemáticas de nosso meio, ainda sim há certas coisas que parecem ser um fardo pesado por demais para carregar ao descobrirmos o que realmente a por trás de um pensamento ou ato.

 Sem esta retórica de tédio e convencimento pelo cansaço da repetição dos mesmos termos, macaquices de ideologia, mitologia, filosofia viram cacofonia de piadas e todos os ismos tornam-se instrumentos de tortura seletiva. Quebrar paradigmas, reinventar um sistema novo de vida a partir de determinadas ideias já dadas ou se manter preso a pensamentos doentios é a forma que estamos sendo educados desde sempre, não existindo conciliação ou essa sonhadora frase “coexistência pacifica”, somos canalhas se banqueteando por cima da carne seca enquanto estamos no papel dominante, divertindo-se à custa da parte baixa que se alimenta de nossos despojos espoliados dos mesmos. E quando os papéis se invertem, é o mesmo processo individualista de se fazer como mandante através do medo e da força, e agimos desta forma porque somos ensinados que isto é o certo a se fazer, pois não sendo você a atuar neste papel, alguém tomara seu lugar.

 O vermelho e o azul são duas faces da mesma tonalidade incolor, instrumentos de convencimento de nossos afetos, que no final das contas apenas servem para controle de nossas paixões servindo de ferramentas para causas obscuras de terceiros, visando à consumação extrema de um orgasmo prazeroso de ego desmedido e desprovido de qualquer empatia sobre o semelhante. Com a licença poética tomada, aqueles que usam de discursos enfeitados, maquiados com belas metas e promessas de mundo perfeito, são duas opções de personalidades: ou um crente cego pela ignorância na ausência de percepção da realidade ou é o perfeito retrato do narcisista consciente de como a roda dos processos sistemáticos gira, e como filho naturalmente desprovido e desconhecedor de um amor de mãe tal qual um filhote de chocadeira, usa a noção que tem sobre a existência para levar vantagem sobre a ignorância coletiva e assim saciar sua volúpia infinita pelo poder.

 Pode parecer que estou sendo dramaticamente pessimista em relação às causas e lutas de alguns, mas percebam o que os cerca e o meio viciado que está se adentrando. Isto não é uma questão de embate entre o bem e o mal ou deuses e demônios, é somente a tratativa de um vislumbre sobre que qualquer ser que se submeta ao sistema adotado desde os primórdios, tende a se corromper, pois na premissa deste sistema e sua base de perpetuação é de fato a abolição da empatia e de senso coletivo visando o bem comum. Deixo claro aqui que não tenho nenhuma ideia ou teoria para resolver ou mudar o que nos deram e forçaram a engolir como modo de existência, no entanto o que se está ai tem a necessidade de se acabar na perdição e completa desconstrução, barrar as engrenagens de abusos do poder que agem há milênios e inovar com alguma criatividade. Quem sabe no fundo seja esta minha crença, desconstruir velho falido e dar forma ao novo criativo.