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Poesia

terça-feira, 17 de junho de 2014

Falas de indigente

 “Com as desculpas escusas, padeço aqui na inquietude oculta por falsos humores. Guardo assim para mim mesmo no eu profundo das ideias, o fardo que costumo carregar vivendo a esmo, pedindo esmola a aquele passante na rua que se chama saudade. Sua caridade traz dose anestésica de conforto momentâneo, mas somente vivendo da caridade de saudade, sou transformado em um dependente viciado em saudosismo melancólico, numa busca eterna e doentia em aguas passadas das corredeiras de um rio que segue em frente, esforço sem sentido e de teimosa amargura.

 Mendigando ao cotidiano sobre remorsos e arrependimentos, me atrelo à companhia de um velho ranzinza que se intitula conformismo. Por vezes me guia a absoluta ação do não agir, usando de algumas falas bem convincentes prevendo desenrolares nada benéfico ao meu ser pensante excessivo. Conformismo é praticamente para mim, neste meu estado como indigente, como um mestre oculto inculto, onde quase não extraio algo produtivo e qualitativo. Poderia deixa-lo em qualquer esquina de minha passiva existência, mas me conformo com conformismo companheiro.

  Alimento-me geralmente nas lixeiras carregadas de chorume e com os restos alimentícios de estranhos, indiferentes a minha condição de penúria, sou evitado por olhares desconfiados, na taxação de vagabundo sentimental escondida por olhares raivosos, feitos por seres corrompidos pelo formalismo, temerosos de sentir compaixão ou qualquer sentimento que os traga a realidade de humano como ser.

 Dentre todos os lixos, aquele que mais se parece um banquete  de um refinado restaurante com seu nome escrito em letras garrafais na entrada: SUAVE LEMBRANÇA. Ali tudo se consegue como alimento de alta gastronomia, de sólidas e duradouras amizades aparentes, dos dias calmos se sentindo confortado e guarnecido das dores mundanas, até os rompantes indecorosos de um amor vivido a ferro e fogo, típicos de ideais juvenis.

 Porém gostaria mesmo de voltar as minhas origens lá no interior, em minha cidade natal, Espirito-aplacado. Tenho ainda viva na memoria dias onde fazia era rotina a tranquilidade nos abraços de sinceros iguais, sem termos de contrato exigindo mais do que meus encharcados ossos podem arcar como tributo a pagar, como fazem cá na selva de pedra onde atualmente a desgraça deste homem que aqui vos fala estabeleceu corpo e alma vencidas. Meu único alivio atualmente é o fechar os olhos para o sono sem sonhar, já que os sonhos refletem meus temores, e a realidade é tal como a descrevi nestas palavras acima.”


Relato de um mendigo da praça

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