Ensaios

Crônicas de George

Poesia

sábado, 4 de janeiro de 2014

George na Rotina

Acordar, sempre a hora mais difícil de qualquer dos dias de sua inerte existência. Sair do conforto e segurança do sono era o que o mais incomodava diariamente, já que isto significava rodar novamente os ponteiros da rotina moribunda ao qual estava submetido. Foi levantando debaixo de seu edredom velho do Dragon Ball Z, o qual nunca se desfez por pura birra com sua mãe, que lhe torrava a paciência por ainda manter algo tão juvenil como peça de quarto. Derrubou os controles da TV e do Playstation no chão ao acordar, bufando:

- As empresas hoje em dia fazem controles apenas pra caírem no chão e fazerem esporro, resistência que é bom nada, bom mesmo é botar no rabo do consumidor.

Desligou o despertador do celular, ainda zumbi de sono. Sua primeira visão ao sair da dimensão dos roncos era sua estante de livros e filmes, ao qual considerava ser a sua mina de ouro particular. Deu um sorriso sarcástico ao ver o Guia do Mochileiro das galáxias e murmurou a frase clássica estampada na capa:

- Não entre em Pânico George.

Foi então se encaminhando para o banheiro, assim começando o dia de George Augusto Pereira, ou Joji, apelido recebido na infância graças à dicção falha de seu primo Astolfo. Jogou a gélida agua no rosto com a sua tradicional barba malfeita propositalmente, ao qual segundo familiares lhe dava uma cara nada agradável de “desertor”. No banho Joji foi maquinando em sua cabeça o que tinha acontecido na ultima noite, e custava a crer nos fatos envolvidos na incomodação gerada por apenas uma observação e um comentário de sua parte, embora em tom de brincadeira e chacota, acabou sendo mal visto pelo pessoal da mesa. 

Mesmo Tendo toda a coletânea completa das Hqs nacionais do velho morcego e considerar The Dark Knight Rises a obra-prima do cinema contemporâneo , declarou sua visão sobre o mundo e a filosofia inserida em Batman, ao qual Bruce Wayne seria na sua visão:
- Apenas um playboy burguês concentrador de renda, que saia de madrugada fantasiado em trajes de morcego sadomasoquista para espancar a população carente de Gotham, um tremendo fascista a serviço do livre mercado. Estes seus comentários na reunião dos amigos acabavam sempre com a sentença
 - Ok Joji, chega.

De fato, George possuía uma personalidade disposta sempre à joça e tentativas de piadas fadadas ao silencio constrangedor da falta de graça, ou aparentemente de sempre acabar irritando quem escutava seus comentários sinceros e impertinentes, geralmente ásperos e com certa dose de ironia polida. Embora quase ninguém entendesse a não ser ele estas observações, achava ao final das contas, tudo que pensava lucido demasiadamente, sonhando quase sempre com um pouco da tranquilidade de ignorância,

 -A dádiva concebida aos imbecis- como ele gostava de dizer.

E então depois de por seus sentidos a pleno funcionamento, lá se foi George, aturar um belo e atraente ônibus lotado para o estágio, tendo que aguentar a dose torturante de funk de algum celular de uma espécie aleatória típica de uma infeliz alma.


-Não Entre em pânico George- dizia novamente a si mesmo.

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